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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Auto-estima - parte I


As estórias que as crianças contam a si próprias sobre quem são, irá influenciar a forma como se percepcionam, como se sentem, como se relacionam com os outros?

Pensem nisto e vejam por vocês próprios.

Não presto, não consigo fazer nada bem, ninguém quer ser meu amigo é a estória ouvida durante muito tempo, contada muitas vezes por adultos importantes para estas crianças, e que muitas vezes fica a estória da sua vida.
Criam-se padrões de imagens negativas desde a infância, imagens que afectam profundamente o seu autoconceito, a forma como constroem o seu eu.

Estes padrões que são, no fundo, padrões de auto-estima, estabelecem-se muitas vezes logo desde tenra idade e vão-se perpetuando ao longo da adolescência e em toda a vida adulta. As crianças interiorizam não só o que ouvem mas o que vêem nos adultos que consideram especiais. É assim que depois estes padrões se auto impõem. Para além disso as crianças podem acabar por desenvolver determinados mecanismos, de forma a encobrir os seus verdadeiros sentimentos de baixa auto-estima. Muitas crianças, adolescentes e adultos que parecem ser egocêntricos e arrogantes, no fundo uma tentativa exagerada de se sentirem bem consigo próprios, têm efectivamente baixa-auto-estima, baixo auto-conceito, altos níveis de stress, baixa eficácia, baixa capacidade de lidar com novas situações, entre uma panóplia de outras coisas menos saudáveis.

As crianças com baixa auto-estima tendem a atribuir muito pouco valor às suas capacidades e constantemente negam os seus sucessos. Também não estabelecem metas, não fixam objectivos e não conseguem resolver muito bem os problemas com que se vão deparando.
Algumas destas crianças têm um medo enorme, feroz, constante de falhar. Estas, em vez de não traçarem objectivos como aquelas das quais acabámos de falar, traçam objectivos elevados, tão elevados que fica quase impossível serem conctretizados. Desta forma acabam por confirmar a sua própria profecia, de que não prestam, de que não são bons, suficientemente bons, em nada. Quando não acreditamos em nós essa crença vai levar a que nos comportemos de forma a validar, inevitavelmente, aquilo que pensamos e que sentimos. É um ciclo vicioso difícil de cortar ou saltar fora.

Os adultos têm de perceber o seu papel fulcral no desenvolvimento saudável dos seus filhos. Os pais têm de lá estar não só para fazer surgir, desabrochar a auto-estima das suas crianças mas também para manter essa auto-estima ao longo do seu trajecto, que incontornavelmente vai passar por desafios e vicissitudes. Coisas da vida.

Portanto, há uma série de tarefas que os pais podem levar a cabo para estimular os seus filhos, seja em que idade for. E antes de tarefas começamos por mudar alguns pensamentos, se possível. É importante ter a noção de que as crianças pequeninas não percepcionam o mundo como os adultos e não podem de repente aprender a lidar com a frustração e a gerir o stress. E o stress na primeira infância é realmente prejudicial. Mas que stress perguntam vocês. Por exemplo, o stress de um bebé que é constantemente ignorado quando chora. Ou de uma criança a quem lhe é dado pouco contacto físico. Ou de um miúdo a quem não lhe é permitido nunca fazer escolhas, trabalhar o seu sentimento de controle e de competência.

Em síntese, qualquer criança confia nas mensagens que recebe das pessoas à sua volta, mensagens que lhe vão dar uma indicação do seu valor.

As crianças são dependentes dos adultos, inclusivamente para criarem a imagem que vêem ao espelho. Diz-me como me vês, dir-te-ei quem sou. Aqui não há que errar: um laço seguro, feito com linhas de gostar, faz milagres, que não durarão um segundo mas todos os segundos de uma vida.

7 comentários:

JoanaM disse...

É de facto impressionante a nossa responsabilidade! Parece quase impossivel nao pensar nisso...

Polly disse...

Concordo. A questão da auto-estima sempre foi relevante para mim. Eu fui uma criança e adolescente gordinha. Sentia-me muitas vezes colocada de parte e as crianças conseguem ser muito cruéis. Consegui sempre ultrapassar. Sei que devo-o à minha família que sempre me mostrou o valor do amor e tudo aquilo que de facto importava. Espero poder transmitir a mesma segurança á minha filha.Bjs

TERRA DE CORES disse...

Gostei tanto, mas fiquei ainda mais com um sentido de responsabilidade...

Todos os dias contam, todas as nossas reacções e respostas contam... mesmo naqueles momentos em que pensamos que não assim tão importantes e que não estamos a falar "a sério" c eles. Eles conseguem apreender e assimiliar as mais pequenas coisas... que depois podem transformar em grandes.

Há que andar sempre com atenção e cuidado.

Bjinhos

4D disse...

Querida F. entendo o que queres dizer mas não vai ser um gesto ou uma palavra que vai mudar formar a personalidade do teu filho ou que vai faz~e-lo mais ou menos feliz. É a persist~encia num determinado tipo de comportamento. Entendes?
Não nos devemos culpabilizar tanto nem devemos estar quase sem respirara a ver o que fazemos. Não, não é assim. Temos de relaxar mas sempre estando atentas. Temos de relaxar sabendo que um dia posso estar mais cansada e sai-me uma palavra mais torta. Temos é de estar atentas para perceber porque é que isso aconteceu para que seja uma excepção e para que não se torne a regra.

beijinhos

Vera Bravo Figueiredo disse...

adorei este post. tenho sempre imensas duvidas sobre este assunto. quando a minha filha de 1 ano e meio faz um desenho digo elogio-a tanto, que quando esta sozinha a brincar com as coisas dela, diz ela sozinha: BOA! quando a visto e a meto em frente ao espelho, digo sempre que gira! mas será que faço bem ao fazer isto todos os dias? será exagerado ao ponto de um dia estar à espera de elogios e ficar desiludida se não lhos derem? não estarei eu a criar demasiadas expectativas nela propria?

4D disse...

Vera, muito obrigada pela sua reflexão. A minha opinião é esta: os elogios servem para aumentar a auto-estima e aos poucos as crianças vão aprender a auto-regular-se e não precisam de tantos elogios. mas acho que devemos todos elogias mais. Quantas vezes elogiamos a nossa mãe, a nossa irmã ou o nosso marido?
E não é ou não pode ser elogiar por elogiar. O elogio tem de ter significado. O que é que isto significa. Deve ser dito explicando porque é que está a ser dado um elogio: boa, estás a brincar tão bem sozinha, já viste como te estás a portar bem? que bom partilhaste os teus brinquedos com a tua amiga. Isso quer dizer que gostas muito dela". Não é elogiar só porque sim. E devemos elogiar quando sentimos memso que devemos elogiar, porque nos faz sentido, porque aquelas são competências que eu devo enaltecer. E muitas vezes elogiamos coisas ligadas à parte cognitiva (muito bem, é o amarelo sim senhora. boa!) em vez de elogiarmos mais a parte emocional (que bom, estás tão feliz. adoro ver-te feliz) ou social (que bom, estás a brincar tão bem com a tua irmã e estás à espera da tua vez para jogar. assim é que é)

Anónimo disse...

Gostei de ler e é tudo tão verdade.Como todas as mães quero o melhor para a minha filha mas a minha maneira de encarar a vida ,tem feito com que eu me sinta sempre culpada ao transmitir mesmo sem querer este meu viver.OBRIGADA por me fazer pensar melhor.

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