Uma viagem feita poema

Ontem, por acaso, a S. soube que eu gostava de escrever poesia e pediu-me que mostrasse.

Lembrei-me da minha viagem a Buenos Aires, a San Juan, a Calafate, a Perito Moreno. Argentina do meu coração.

Deixo-vos as fotos, deixo-vos os escritos, textos meus, de uma viagem feita poema. Recomendo. Tanto, tanto.

Llego a hora de ir

Observar el extraño paisage lunar

Adivinar las formas en sus rocas

Como lo hicimos en nuestra infancia con las nubes

Como aun lo sigo haciendo.

...

Tocar Chile con mis dedos

Congelar lado a lado junto al Perito Moreno

Pasear por los Bosques de Palermo

Bailar el tango hasta el amanecer.

...

Mirar mirar mirar

Amar

Sentir sentir sentir

Vivir

por un tiempo

una nueva vida.

Primeiros dias. Muito cansaço. Alguma ansiedade. A mala perdida, presa em Lisboa, e a falta de sapatos. O querer tudo perfeito. O chegar ao meio do nada. A aridez do local, o calor e as milanesas. Província de San Juan. Defunta Pereira - a Santa. Os mil sabores experimentados depois de 24 horas sem dormir, a embriaguês dos sentidos, a garrafa de vodka e porque não havia gin. As routes a perder de vista, as vacas a dormirem na estrada, e os Andes ali ao lado. 0s 35 graus e a neve à distância de um abraço. 

O museu dos insectos e das pedras. E nós com uma grande pedra...de sono.

O dia seguinte. O Parque Património da Humanidade. E depois o outro. Deserto de Atacama. Valle de la Luna e Talampaya. Dunas invandindo a estrada. Pedras feitas nuvens. Paisagens lunares. O vale pintado e o submarino. Gigantes. Fósseis. Riqueza paleontológica. O nosso guia - lembras-te? - "com confiança". As pedras redondas do tamanho de bolas de futebol. O riso incontido - I swear. I didn't shit them. Guanacos e condores. Canastero rojizo e o cachalote. A porta do tempo, "adentro del Cañón". 150 metros de vertigens e espantos. A alma a rebentar por dentro. Sensações difíceis de descrever. Fotografias sem fim. O desejo de nunca esquecer. A paz. 

Quase nunca se realiza este sonho.

Patagónia.

Terra do Fogo.

O comboio e a neve. As montanhas e o canal.

A ilha quase polar.

O continente ali ao lado e Magalhães a separar.

Os bosques cobertos de lengas.

Os leões estendidos ao sol e as gaivotas no mar.

Muitos casacos. Botas de borracha. Gorros e luvas. Um frio de arrepiar.

Inferno gelado na Terra. Para os que tiveram de pagar.

Penas pesadas. Pernas cansadas. Alegrias e deslumbramentos.

E no final, o calor do teu abraço.

No fim do mundo. No princípio de tudo.

Argentina do meu coração.