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quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Sexo...and it's just fine



Depois de ter escrito este post (e mais este, já agora), nunca mais se falou de sexo por aqui. Hoje é o dia.

Na última vez em que se abordou este tema, uma pergunta ficou no ar: 

Se há amor, forçosamente há desejo? 


Começo por vos apresentar Esther Perel, terapeuta de casal e autora do bestseller Sexo no Cativeiro, que centra o seu estudo na psicologia por trás do sexo.

Esta reflexão surge precisamente a partir de leituras e visualizações que fiz de textos e vídeos desta autora.

No ideal romântico que temos hoje em dia sobre as relações a dois, queremos que uma só pessoa preencha todas as nossas necessidades,que seja um tapa buracos para resolver situações para as quais noutros tempos seria preciso "toda uma aldeia”.

A terapeuta faz-nos pensar sobre o paradoxo em que vivemos - amor e desejo. A luta entre a necessidade que temos de segurança, de laços duradouros, de previsibilidade, de estabilidade, de dependência, de permanência...as âncoras que precisamos, que desejamos, que queremos ter na nossa vida e o risco, a aventura, a audácia, o mistério, a novidade, o desconhecido...a viagem que também ansiamos ter a possibilidade de experimentar.

Como conciliar duas forças tão poderosamente opostas? Duas forças que muitas vezes se repelem. Soa a uma aparente contradição.

Queremos do outro a estabilidade, a segurança, a previsibilidade, o "poder contar com"...no fundo uma identidade, algo a que podemos chamar de "lar"... mas também queremos o desconhecido, o abismo, a loucura. Queremos que o outro seja o nosso melhor amigo, o confidente e simultaneamente o amante apaixonado, o fulano ou fulana da one night stand. Será possível? Será viável?

As pessoas sentem-se mais atraídas pelo parceiro quando ele não está, quando sabe que não o podem ter, quando a imaginação é usada mais frequentemente, quando se anseia pelo reencontro e se espera. Sim, a espera e a antecipação activam o desejo. E o uso da imaginação é a força mais poderosa de todas. É o que nos distingue dos animais. Os animais têm sexo, nós temos uma vida erótica, sexual. Porque usamos a imaginação. Também há mais desejo quando vemos o outro "no seu melhor", ou seja, mais confiante, independente, a brilhar com uma luz própria. Isso acende também, sem dúvida, a chama, põe a trabalhar a engrenagem do erotismo.

Temos de manter então uma distância do outro, para que se olhe para ele de longe e se veja um outro menos familiar, mais misterioso, mais esquivo, que não é um dado adquirido. Então, mesmo nas relações a longo prazo é preciso dar espaço, o espaço individual que é necessário para que o desejo se reacenda uma e outra e outra e outra vez. Há que olhar com novos olhos para a pessoa de sempre. 

No desejo não estamos dependentes do outro, não precisamos dele, não temos de cuidar de ninguém.

O fazer sair cá para fora o nosso pai ou mãe interiores é algo muito importante no amor, mas muito arriscado para o desejo. Desejamos quem nos quer, mas não quem precisa de nós. No amor temos um desejo secreto que o outro precise de nós, mas no desejo aspiramos ter alguém completamente auto-suficiente. É aquela coisa do empoderamento, ou do empowerment, que nos dá a volta à cabeça.

O desejo está associado à novidade. Curiosamente isto pode ser mal interpretado. Podemos achar que essa novidade só é encontrada numa relação extra-conjugal. Não, não precisamos disso para encontrar a novidade, nem a novidade tem a ver com uma série de novas técnicas ou novas posições sexuais. A novidade tem muito mais a ver connosco do que com o outro, com fazer surgir novas partes de nós mesmos, no encontro com o outro, com novas coisas que queremos expressar. Temos de olhar para nós, mais do que olhar para o outro e pensarmos e questionarmo-nos sobre aquilo que nos faz perder o desejo ou, pelo contrário, conectarmo-nos com esse desejo. É estarmos connosco próprios, na presença do outro. É estarmos no nosso corpo, dentro da nossa cabeça e não continuamente no corpo e na cabeça do outro. O desejo é mais egoísta e isso não tem de ser mau.

Para vivermos o desejo tempos de estar seguros. A ansiedade, o medo do julgamento do outro, de não correspondermos às expectativas, o medo de perder o outro, faz-nos ser incapazes de brincarmos, de usarmos a imaginação, de explorarmos.

É importantíssimo percebermos que a paixão funciona por fases, aumenta e diminui, como a lua. E tem de ser trabalhada para ser trazida de volta. O mito da espontaneidade também é perigoso, como se o desejo devesse simplesmente cair-nos em cima quando estamos, por exemplo, a estender a roupa lavada ou a lavar a loiça do jantar. 

E temos de estar seguros de que o desejo e o erotismo são de uma ordem diferente e que isso é mesmo assim, é natural. É no fundo ter a capacidade de ali, naquele espaço, nos afastarmos da responsabilidades e entrarmos num outro universo. Basicamente poderíamos dizer que aquilo que nos excita à noite é aquilo que condenamos durante o dia. A mente erótica não é politicamente correcta, and it's just fine.






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