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domingo, 18 de dezembro de 2016

Rap de Natal



Lá para o meio da tarde comecei a pensar 
que era uma excelente altura para começar a comprar
tudo o que faltava para celebrar o Natal. 
Senti-me cheia de força para enfrentar o centro comercial.

Até que uma voz na minha cabeça começou a dizer: "Ahahahaha. Sua tola. Quero mesmo só ver".

Deu a entender que eu não ia ser capaz. 
Logo hoje que me estava a sentir corajosa e muito audaz.

E a voz histérica e fininha é que não se calava
 e eu cheio de nervos gritei-lhe "A vida é minha, sua parva!"

Ela era teimosa e nada me valeu. 
E ainda gozou comigo: não vês que tu és...eu??

Demorou um bocadinho, mas tomei a decisão 
Só tinha mesmo pena de não poder ir de roupão. 

Juro que tentei de tudo para que fosse desta. 
Mas porquê é que o Natal não é mesmo uma festa? 
Com tanto dilema fui vencida pela moléstia. 
Fica para a semana. Agora é hora da "séstia".

O Natal, senhoras e senhores, é mesmo uma canseira. 
Quero voltar a ser miúda, danada para a brincadeira. 
Encontrar os presentes era a preocupação do momento. 
Fazer-lhes uns buraquinhos e espreitar lá para dentro. 
Aproveitar as férias e ver só desenhos animados. 
Raio dos adultos que andam sempre cansados.

Ainda não comprei rigorosamente nada
e até estou com pena de mim.
Mas como boa portuguesa
Deixei tudo para o fim.

Se oferecer uns cartões acham que alguém leva a mal? 
Afinal não é estarmos todos juntos que é o espírito do Natal??


Já devem ter reparado que não sou muito boa a répar, 
Mas também duvido muito que alguém se vá chatear.



Boas festas meus seguidores 
Adorados e mais queridos. 
De tanto me deixarem likes 
Sinto que já somos amigos.

Desejo-vos a todos que passem Dezembro a sorrir
Vivam o momento, que a vida passa a fugir.

Parece um dos conselhos que pululam pela net 
Ou então de um notebook para 2017. 
Partilhem este rap que vai dar que falar 
Pode ser que um dos meninos da rádio 
Se lembre de me contratar.


.

domingo, 11 de dezembro de 2016

A velhinha Majora volta rejuvenescida neste Natal



Ter 77 anos é mágico, mais ainda sendo uma marca portuguesa, com certeza!

Mudou de mãos em 2014, mas continuou muito bem entregue, ressurgindo agora cheia de vitalidade.

Quem não tem memórias com a Majora? É impossível não ter! Eu tenho. Tantas, tantas. O Jogo da Glória, o Loto e o Sabichão fizeram parte da minha meninice, tal como o Mikado, que em Agosto passado voltou a entrar em nossa casa, como presente meu para a Concha, pelo seu 5º aniversário. Ela e os manos adoraram! Já temos o Desafio, jogo de palavras cruzadas e agora vai ser a vez do Jogo da Glória voltar a entrar. Eles que andam loucos com um jogo de dados que vinha numa revista de entretenimento para miúdos, vão entrar em êxtase quando nos sentarmos todos à volta de um tabuleiro “a sério”.

Embora os meus filhos até nem sejam dos que brincam muito sozinhos, porque se distraem muito entre eles, o que por vezes até dá muito jeito, convenhamos, sei, enquanto mãe e até enquanto psicóloga, que as brincadeiras partilhadas entre gerações, com mais tempo de qualidade entre pequenos e graúdos, é potencialmente super saudável para todos. Acho importante para a relação pais-filhos, avós-netos, mas também para fomentar a convivência entre irmãos de idades diferenciadas. 

Sei também, por exemplo, que isto vai ser um grande desafio para o meu filho Vicente, que não gosta de perder nem por nada. A ver se trabalhamos isso rapidamente. Os jogos de competição ajudam a saber lidar com as derrotas, a gerir as frustrações, num ambiente seguro, estimulante e divertido. Para além disso há imensos jogos didácticos, que enquanto divertem ensinam. É uma excelente maneira de se aprender. Como já foi comprovado, num ambiente descontraído as crianças retêm muito mais informação e estimulam muito mais o cérebro, do que num ambiente mais formal e sisudo.


O mundo Majora parece não ter fim - são 33 os jogos disponíveis entre 2016-2017, dos 3 aos 99 anos!



Eu deixo-vos as minhas sugestões. Para agora e para qualquer hora. Porque, mães, pais, avós, tios e tias... Descobriu-se que, afinal, presentear alguém que amamos não deve acontecer só no Natal.


O Sabichão está de volta, mas desta vez trouxe novos amigos cheios de perguntas interessantes sobre variados temas - exploração espacial, descobertas, invenções, acontecimentos importantes da história, etc, etc.




O novo Jogo da Glória é uma autêntica selva, liderada pela zebra Glória!
É ela quem vai ditar quem avança, recua e quem fica preso nas armadilhas. 




O jogo de estratégia para toda a família. O objetivo deste jogo é conseguir chegar ao Pólo Norte de Marte e construir uma estação de água, de modo a garantir a sobrevivência dos colonizadores. Para atingir esta meta, será necessário fazer missões, construir estações de recursos, e muito mais.





O nome que todos já ouviram falar. Aposto que estão mortinhos para experimentar a improvisar. Afinal quem não quer ser como o César Mourão? Um jogo onde a família reunida vai rir até mais não!







https://www.facebook.com/majora.pt/





https://www.facebook.com/avidaa4d/

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Mattel e os presentes que tornam o Natal das crianças ainda mais mágico



Este é o 3º ou 4º ano que sou convidada pela Mattel para vos dar a conhecer as suas sugestões de Natal, e não podia estar mais orgulhosa por ser, mais uma vez, uma das escolhidas.

A verdade é que os meus filhos sempre tiveram brinquedos da Mattel e é, sem dúvida alguma, uma marca de referência, não só cá em casa, não só para os meninos e meninas em Portugal, mas do mundo inteiro.

Quem é que já não teve ou já ofereceu uma Barbie? Qual o rapaz que não vibra com tudo o que é da Hot Wheels? E qual o bebé que não teve um brinquedinho da Fisher Price? Não resta muito mais a dizer!


Para o Vicente e para a Concha já está decidido o que vai ser. Não faz mal escrever aqui porque eles ainda não sabem ler! - quer dizer, o Vicente está quase quase :)

Para o Vi vai ser O Bat Robbot - um tanque e robot ao mesmo tempo, basta virar um disco ou usar o controlo remoto e a transformação acontece! E já vi que emite mais de 40 efeitos sonoros.

Portanto, os super heróis continuam a povoar o imaginário do meu rapazolas, mas não só dele. A Concha também adora. E eu fiquei mesmo contente quando este ano surgiram as Super-heroínas da DC. As princesas também podem ser guerreiras e não se limitarem a esperar pelo príncipe. Este Natal vamos ter o girl power em acção. A Hillary não se tornou presidente, mas é preciso continuar a transmitir às nossas filhas que o poder feminino não tem limites e não pode ser constrangido pelos nossos medos, nem por um discurso de incapacidade e falta de competência. Por isso as super-heroínas vão ser o símbolo deste Natal. Chegam cheias de estilo, com acessórios incríveis e cada uma com poderes únicos. Porque cada uma de nós também é única. E se trabalharmos em equipa podemos ganhar tudo. Basta querermos.




São 20 os favoritos da Mattel. Encontrem-nos todos aqui:
http://www.brinquedosfavoritosdenatal.pt/

Um Natal cheio de presentinhos, de sorrisos e de abraços e, sobretudo,  espero que o possam passar bem perto de quem vos quer bem.











domingo, 27 de novembro de 2016

A difícil arte de começar de novo – parte III


Na parte I falei sobre o divórcio e sobre a necessidade de deixar o passado bem resolvido para se poder seguir em frente. Na parte II dei algumas dicas de como se deve viver a nova relação. A parte III dedico-a à questão: e quando há filhos?


Obviamente que é muito importante que os filhos aceitem o novo relacionamento da mãe (ou do pai), mas não podem ser eles a ditar as regras ou ter a última palavra sobre esta tão grande decisão.

Se não entramos numa nova relação por causa dos filhos, ou até se terminarmos a relação por causa deles, porque não aceitam, porque não querem, porque boicotam, ou porque temos medo que tudo isto os afecte, vamos mais cedo ou mais tarde responsabilizá-los por essa escolha, geradora de infelicidade.

Portanto, antes de achar que tem de optar pelos filhos em detrimento de um novo amor, porque os filhos estão primeiro do que tudo, porque já sofreram muito e não merecem sofrer mais… pare, respire e pense. Os filhos vão acabar por aceitar. Dê-lhes tempo, siga alguns conselhos que aqui vou deixar e, sobretudo, não desista. E também não sinta culpa. A verdade é que não está a fazer nada de errado.

É natural que os filhos tenham medo. Depois de tudo o que falámos, consegue dizer que também não tem? Tem, claro que tem. E, no entanto, é adulta e racionaliza as coisas de forma diferente de uma criança ou de um jovem. Os mais novos não têm a facilidade de um adulto de verbalizar o que sentem, até porque alguns sentimentos são inconscientes, logo, impossíveis de serem pensados.

Não vamos dourar a pílula. Não é fácil, não é tarefa simples…ou pode não ser. Mas é um processo natural e é compreensível e mesmo imprescindível que haja muito empenho da parte de todos, especialmente dos adultos envolvidos.

Por exemplo, os filhos, principalmente os mais novos, podem sentir medo de serem substituídos no coração da mãe ou do pai. Sentem medo de perder o seu amor. É extremamente importante que os pais expliquem aos filhos que o que sentem por eles não vai mudar, nem vai diminuir ou passar para outra pessoa. O amor divide-se entre todos, ou multiplica-se. É elástico. É como um polvo cheio de tentáculos. Ou uma mãe com muitos braços.

Nesta fase, os filhos precisam mais ainda de atenção. Por isso, terá de se desdobrar, dedicando-lhes tempo em exclusivo…e o mesmo acontece com a nova relação. É cansativo, é complicado e é difícil…mas tudo se consegue quando se faz com o coração.

Também é importante que a introdução do novo elemento seja feita de forma gradual. No início os filhos não devem ser envolvidos. Deixe passar algum tempo, deixe que haja mais certezas e que tudo se torne mais sólido. Aí será a hora de agir. De forma tranquila e em pequenas doses. 

Os primeiros contactos não devem acontecer em casa, mas sim em espaços neutros. De preferência organizando actividades que sejam divertidas para as crianças. Antes de tornar tudo oficial, procure pensar e organizar programas que sejam estimulantes e cheios de boa disposição. Isso ajudará mais do que pensa, porque as crianças começam a gostar daquela pessoa, a gostar da companhia dela, sem o peso de ser o namorado/a da mãe ou do pai.

Então estará na hora de contar e não se admire se, a princípio, e mesmo com pezinhos de lã, for ainda tudo um pouco confuso na cabeça deles. Vai levar algum tempo para que todos se adaptem à nova situação.

Quando contar aos filhos, ouça-os. Nessa altura e sempre. Ouça-os atentamente, coloque-se no lugar deles, seja compreensiva e respeitosa. Os filhos não vão decidir o futuro dos pais, mas é mesmo muito importante que se sintam escutados. Pedir aprovação ou conselhos poderá ser tentador e, num primeiro impacto, pode até parecer reconfortante para as crianças, mas pense que está a passar para eles uma responsabilidade que não devem ter e para a qual não estão preparados. Portanto, ouça-os, faça-os sentir especiais, por serem escutados, mas as decisões e as escolhas são sempre suas, não deles.

O novo elemento também terá de se empenhar e trabalhar para que os laços se construam, para que a relação com as crianças funcione e também para que a relação entre o casal se torne segura, sabendo que há um terceiro elemento, sempre presente, mesmo quando não está, que são os filhos. É preciso jogar entre proximidades e distâncias, essencialmente usando o bom senso. E a paciência. Esta tem de ser uma das peças chave.

Lembre-se que também para a outra pessoa não será fácil. Também terá medos, também não conseguirá adivinhar como a criança irá reagir, o que irá sentir, se a aceitará.

Queremos que corra bem, mesmo muito bem. E pode, de facto, correr muito bem, melhor ainda do que o esperado. Mas não alimente o desejo de que para o seu filho ou filha, o seu namorado seja um pai daqueles instantâneos, como se saísse na farinha Amparo. Mais ainda se os seus filhos já tiverem um pai. Aqui para nós, também não ia querer que a namorada do seu ex. fosse vista pelos seus filhos como uma mãe, pois não? Mãe há só uma. Mas o novo elemento pode ser uma pessoa importante na vida deles e vai com certeza reconfortá-la saber que ela os trata bem e que gosta deles de verdade. Terá é de saber gerir os ciúmes e aceitar a realidade. Mais uma vez a mesma ideia: ninguém vem substituir ninguém. Vem somar afectos, não diminuir. Se houver amor, carinho, respeito pelos limites, há espaço para todos. Porque relações saudáveis e pessoas que nos querem bem, nunca são demais.

Se o seu namorado também tiver filhos, nunca, mas nunca deve entrar em comparações sobre os rebentos de um e do outro. Nunca deve criticar os filhos dele ou a forma como ele os educa, ou até como a ex. dele, a mãe dos filhos, os educa. É um terreno de areias movediças. Muito cuidado!

E por falar em exs., é bom que todos os exs. (sim, todos) respeitem as novas relações. Quando ainda se gosta sente-se ciúmes. Quando já não se gosta continuam a sentir-se alguns ciúmes. E por vezes por despeito ou só porque sim, dizem-se coisas em frente aos filhos, que nunca se diriam, se a razão não andasse completamente toldada.

De facto, é uma fase da vida em que esquecemos a sensatez, disparamos para todos os lados, atropelamos os dias e quase parecemos bonecos desarticulados. Mas Roma e Pavia não se fizeram num dia e a adaptação a novas reconfigurações familiares também não. E dão trabalho. Oh se dão! Mas as coisas são mesmo assim, há uma certa fatalidade nisso. No entanto, também acredito, e isso é mesmo bonito, que no fim somos nós que escolhemos, somos nós que decidimos se continuamos ou atiramos a toalha ao chão. Somos nós que decidimos se depois de toda a tormenta e dos invernos da vida, estamos novamente prontas para a bonança e para os dias soalheiros de verão.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

A difícil arte de começar de novo – parte II



Depois de uma separação, de um divórcio, ou de uma crise de vida, passamos por momentos tumultuosos e desgastantes, até sentirmos que estamos prontos para começar de novo. Há quem tenha a certeza de que nunca mais vai querer passar pelo mesmo outra vez, começar do zero, ou voltar a amar. Há quem confesse ter medo de ficar sozinho ou que mais ninguém se interesse por si, ou ache que vai ser muito complicado por causa dos filhos, ou tudo junto… – e a verdade é que se não é a vida a boicotar-nos, somos mestres em fazê-lo a nós mesmos. 

É normal haver medos e dúvidas, mas são tantas as questões que surgem, que ficamos exaustos só de pensar no que vem pela frente. “O que é que os outros vão dizer?”, “Será cedo demais?”, “Como é que as crianças vão reagir?”, “Estarei apaixonada ou apenas carente?”, “E se correr mal?”… É normal colocarmos questões, é normal ter dúvidas, é adaptativo o medo do desconhecido, do re-começo. Torna-se desadaptativo se nos congela, bloqueia, paralisa e não nos permite seguir em frente.

Um grupo de especialistas criou uma fórmula que aponta mais ou menos para o tempo certo para re-começar. Dizem eles que é um mês de espera por cada ano da relação que terminou. Ou seja, 5 anos de relação equivalem a pelo menos 5 meses de espera até estar pronto para começar de novo. Esta é, pelos vistos, uma fórmula matemática, mas não será de certeza uma fórmula mágica que resulta para todos. De qualquer modo é interessante pensarmos nisto.

Quando sentimos que podemos re-começar, que a vida nos está a dar - e nós próprios nos estamos a dar - uma oportunidade de voltarmos a ser felizes é quando deixamos de estar demasiado presos a lembranças, dúvidas, ressentimentos…ou devia ser. Por isso, e tal como foi referido na parte I, é preciso dar tempo, para que o passado fique no passado, para que o perdão aconteça, para que nos encontremos e nos sintamos realmente bem connosco próprios, sem precisarmos de mais ninguém. Estamos prontos para ter outra pessoa na nossa vida quando não precisarmos dela. Faz sentido?

O medo do vazio, do silêncio, da solidão, torna-nos frágeis e mais dependentes. Quando nos fortalecemos e nos tornamos mais autónomos e mais seguros, aí sim, estamos prontos. Embora a vida toda tenhamos ouvido que “a dor da perda de um grande amor se cura com outro grande amor”, temos de perceber e aceitar que não é um novo amor que nos vem salvar de nós mesmos, não é um novo amor que nos vem completar. Quando ele chegar já temos de nos ter salvo. Somos nós os nossos próprios bombeiros. Os nossos apaga fogos. Os nossos salva vidas.

E para isso é preciso trabalhar, trabalhar, trabalhar. Trabalhar a tolerância à frustração, a tolerância à mudança, a capacidade de adaptação a novas situações; trabalhar para estabelecer expectativas mais realistas, para mudar comportamentos e atitudes. Em suma, trabalhar o nosso novo Eu.

Saber o que se quer, o que não se quer, o que se idealiza e ter o passado resolvido são passos essenciais para não repetir o mesmo guião no novo relacionamento. De facto, saber o que realmente queremos, o que nos faz felizes; saber também o que precisamos mudar em nós para podermos viver uma nova relação com futuro; sentirmo-nos preparados para aceitar alguém real, diferente das nossas expectativas e idealizações, diferente do que somos e do que o outro era; aceitarmos que quem vem é um ser humano também com alguns defeitos; aceitar que é impossível mudar seja quem for a não ser nós mesmos; não desejarmos substituir ninguém; não entrarmos em comparações e cobranças; não termos medo de mudar, mesmo que seja doloroso,tudo isso são tarefas-chave desta nova fase da vida.

Nós funcionamos inevitavelmente por substituição. É comum que o novo amor seja alguém com características, físicas e/ou comportamentais semelhantes àquele que se foi. Seleccionamos alguém que pareça corresponder às nossas idealizações, sobretudo quando o outro imaginário continua presente. Temos tendência a comparar, cobrar e exigir que quem chega supere e cure todas as feridas e, assim, mais uma vez podemos correr o risco de não estar a ver a pessoa real, mas a que imaginámos, a que só existe na nossa cabeça. E podemos correr o risco de repetir os erros que cometemos no relacionamento anterior. É muito importante confrontarmo-nos com isto para que aceitemos que a pessoa que vem não tem de ser mais ninguém a não ser ela própria. Não há pessoas iguais, somos todos diferentes. E se não há pessoas iguais e esta nova pessoa é única, não a podemos amar da mesma maneira que amámos o nosso antigo amor. Temos de encontrar novas formas de amar, novas formas de nos relacionarmos e procurarmos não trazer demasiada bagagem para o presente. Por mais compreensivo que o outro seja pode sofrer, ressentir-se e até saturar-se. 

Reinventar-se é a solução. Repensar a própria identidade. Criar uma nova pele. Reconstruir-se. Mas não podemos esquecer que existem forças psíquicas que vão procurar fazer com que tudo permaneça na mesma. Porque mudar dói. Queima como ferro em brasa. Mesmo quando mudamos para melhor. 

Seja um amor definitivo ou um amor de transição – sim, aceite também que pode não ser o amor da sua vida e não há mal nenhum nisso – permita-se vivê-lo como uma nova oportunidade e com muita intensidade. Por isso aproveite, aproveite muito. Começar de novo tem coisas tão boas! Ainda se lembra do que é sentir um friozinho na barriga ou borboletas no estômago?



E depois de passarmos as passas do algarve não merecemos alguma paz, com agitação positiva? Agora sabe o que quer, mas também sabe que não vale a pena aborrecer-se por coisas que não merecem, que nem passam muitas vezes de ninharias. Saiba escolher as suas batalhas, aceite que nenhum relacionamento é perfeito e prefira ser feliz a ter sempre razão.



Espero que tenham gostado. Na parte III falaremos da nova relação e no envolvimento dos e com os filhos.





domingo, 23 de outubro de 2016

A difícil arte de começar de novo – parte I


Um dos pilares de apoio ou sustentação do ser humano é a relação que ele mantém com os outros. De facto, não fomos feitos para ficar sozinhos e quando acontece uma separação temos uma necessidade vital de fugir do vazio que se instalou bem dentro de nós e que não foi apenas causado pela ausência daquele com quem partilhámos a vida, mas por todos os sonhos desfeitos, por todos os projectos e planos que ficaram por realizar.

Aceitar que tudo mudou e seguir em frente exige uma determinação e coragem épicas. Lidar com tantos sentimentos, muitos deles contraditórios – raiva, negação, culpa, tristeza, saudade – vira a nossa vida de pernas para o ar e quando se misturam é como se tivéssemos caído mesmo no olho do furacão, com ventos de 185 km por hora. 

O fim de uma relação é como um luto que se faz, que leva tempo, que deixa marcas e que faz mossa. Que condiciona tudo o que vem a seguir. Começar de novo é difícil, é algo que pode demorar e não deve ser apressado. É uma conquista que não acontece de um dia para o outro, mas terá de começar algum dia e por algum lado. Então que comece por nós, num olhar para dentro, num trabalho solitário, dorido, mas necessário, para que o fantasma do passado não crie uma sombra sobre o futuro. 

A ansiedade de se estar só pode-nos levar a escolhas não reflectidas, pode atirar-nos para um novo relacionamento antes de estarmos prontos, antes de termos feito a catarse ao relacionamento anterior. Então, antes de escrever sobre o novo relacionamento (parte II), será importante pensar sobre o que estamos a deixar para trás.

Tenhamos a idade que tivermos, um divórcio obriga-nos a crescer, de repente, de forma dolorosa, porque a vida não espera. As tarefas repartidas passam a ser só de um e temos de aprender a ser independentes, a viver sozinhos, a fazer coisas que para o outro eram simples, mas que o não são para nós Aceitar perante todos o novo estatuto, dar ou não dar explicações, responder ou não a perguntas indiscretas, ter vontade de desaparecer…mas continuar. Isto é crescer e é assustador.

Mas crescer é também responsabilizarmo-nos pelo porquê de a relaçãonão ter resultado. É necessário reflectir sobre isto a sério, enquanto ainda lambemos as feridas. Fosse qual fossea tomar a iniciativa de pôr um ponto final, é importante pensarmos sobre o que fizemos e não fizemos e não só sobre o que o outro fez, não fez e deveria ter feito. Será que compreendemos realmente porque é que não deu certo?

A ideia não é de todo reacender mágoas e encontrar culpados ou bodes expiatórios. É necessário parar de alimentar pensamentos destrutivos, culpabilizantes, vitimizadores, que não deixam seguir em frente. E a ideia é mesmo seguir em frente. Pensar sobre isto para aprendermos mais sobre nós e reaprendermos a ser felizes. Não é ficar preso à dúvida, agarrados com unhas e dentes ao questionamento permanente: “”Onde foi que eu errei?”, “Onde foi que eu errei?”, “Onde foi que eu errei?”, “E se eu tivesse feito diferente?”. 

As respostas podem demorar. Podem até nunca chegar. Não se atormente. Aceite que a vida tal como a conhecia mudou, diga basta à raiva, afaste-se da culpa e de todos os sentimentos negativos. E se for necessário lute. Lute até sentir que esgotou todas as hipóteses de recuperar o que já foi perdido.

Faça o luto à relação, às idealizações, às expectativas. Numa relação, o outro não é apenas o outro. O outro divide-se entre o outro real e o outro imaginário. Aquilo que ele é e aquilo que sempre desejámos que fosse. É muito comum que haja discrepâncias entre eles, porquenós idealizamos muito. Idealizamos e internalizamos o outro dentro de nós de acordo com as nossas necessidades, expectativas e percepções. E quando nos separamos, separamo-nos do outro real e a fantasia demora a desaparecer. Crescer também é parar de confundir idealização com realidade.

Não mate o amor. Nem mate o passado. Ao amor deve dar sempre mais uma oportunidade, quando a altura certa chegar. Ao passado deixe-o simplesmente onde ele pertence, no passado. Retire fotografias, objectos, roupas que tragam à memória aquilo que não é tempo para ser lembrado. Faz sentido manter as lembranças longe da vista e longe do coração (claro que quando há filhos deve deixar algumas lembranças do pai nos quartos das crianças). Se ainda existem objectos do outro lá por casa, é porque ainda não sente que consegue fazer este corte. Mas renovar é preciso. Não é tolice quando se aconselha a redecorar a casa, mudar de corte de cabelo, substituir o guarda-roupa, ou algumas peças, ir para o ginásio, fazer coisas novas. Mudar ajuda a partir para uma nova fase da vida, de nos redescobrirmos, de resgatarmos uma identidade pessoal e social muitas vezes perdida, de reconquistar a felicidade.

Quando a separação psicológica acontece, - porque a separação física é apenas uma das etapas e euma separação efectiva requer uma separação psicológica – vai conseguir retirar a importância que colocou no outro, vai conseguir enterrar os mortos, mesmo que eles ainda estejam bem vivos.

E um dia vai conseguir fazer as pazes com o passado, vai deixar de pensar nos anos de vida que perdeu e no que deu de si sem valer a pena. Um dia talvez consiga acarinhar os momentos bons e pensar que se no fim deu errado, em algum momento do caminho deu certo. Como li algures “Se o amor não deu em nada, não se engane, deu amor”. Faça-o por si, para que o rancor, a raiva, os remorsos possam desaparecer. Perdoar é seguir em frente. Perdoar não é esquecer.

Aceitar que nem tudo foi mau não é querer voltar a uma vida que já ficou para trás, que embora conhecida, não foi o que sonhou para si. É seguir em frente, rumar ao desconhecido, começar de novo, com toda a coragem que vai conquistando pelo caminho, sabendo que não quer ser quase feliz ou ser feliz só um pouco, ou às vezes, ou mais ou menos.






domingo, 9 de outubro de 2016

O que é isto da inveja ou será que a galinha da vizinha é mesmo melhor do que a minha?


Sei, à partida, que, ao bordar este tema, vão surgir comentários do tipo: “Deve julgar-se mesmo importante, coitada”, ou “Mas ela pensa que tem alguma coisa que valha a pena ser invejada?” (tal como disse a Sónia Morais Santos há uns dias, parece que as bloggers “têm a mania de medir tudo pela inveja”) – mas a verdade é que esta questão é recorrente e por isso corro o risco e quero mesmo deixar esta reflexão em jeito de crónica.

Começo por confessar que, ao longo da minha da vida tenho sentido algumas vezes o sabor amargo da inveja. Ou porque sempre fui boa aluna, ou porque mais tarde criei a família que muitos consideravam perfeita, ou porque com 4 filhos conseguia conciliar, aparentemente muito bem, a vida pessoal, com a familiar e com a profissional. Mesmo quando tudo mudou e o meu projecto de vida terminou e eu passei um mau bocado, continuei a ouvir falar de invejas. Desta vez é porque achavam que tinha dado a volta à situação e tinha até, imagine-se só, conseguido mais tempo para mim. Até uma querida amiga acabou por me confessar que gostava de estar no meu lugar, que só mesmo se se separasse é que ia conseguir voltar a sentir-se pessoa, para além de mulher e mãe. Também me aconselharam a não falar sobre a minha vida relacional, quando reencontrasse o amor – “Há muita inveja por aí!” – e também associaram os episódios menos positivos que me iam acontecendo ao mau olhado, olho gordo ou mal de invejas. De facto, até o senso comum aconselha: Se estás bem não fales nisso.

E eu como sou do contra, achei que estava já na hora de falar sobre este tema tabu, talvez o grande não dito dos nossos tempos, mas de que todos já mais ou menos provámos o sabor amargo ou já sentimos na pele as ferroadas, bem piores do que as de um lacrau. É provavelmente o sentimento mais mal visto e dos mais antigos da Humanidade – de Caim a Abel, às madrastas más da Branca de Neve e da Gata Borralheira, a Mozart que foi alvo da inveja do compositor italiano Satieri, às obras de Shakspeare, aos filmes, séries ou telenovelas mais actuais, a inveja sempre esteve presente e, se por um lado ela é ocultada, por outro é caracterizada como fazendo parte da vida. A realidade é que a inveja é natural e está presente nas relações humanas, está presente no nosso quotidiano, mesmo quando não conseguimos admitir que lá está.

Porque é que sentimos inveja ou porque somos invejados?

Sentimos inveja porque comparamos e, muitas vezes, quando comparamos invejamos e com a inveja vem o ressentimento e a frustração de não conseguirmos o mesmo, de não sermos assim, de não termos as mesmas coisas. A questão é que só sentimos inveja porque nos falta uma grande dose de amor próprio para nos sentirmos felizes com o que temos e competências para conseguirmos também bons resultados para nós, sem termos de passar por cima de ninguém. O sentimento de inferioridade é um veneno que nos vai corroendo por dentro.

Está patente na vida de todos nós este padrão e o que é preciso é saber como geri-lo – comparações, competições, rivalidades. Podemos até falar em desamor social. Crescemos com a ideia de termos de ser os melhores, que não podemos deixar ninguém passar-nos à frente. A competição é uma característica humana que sempre esteve e vai continuar a estar presente na nossa sociedade.

Nós conhecemo-nos e percebemos do que somos capazes através do outro, através da tal comparação que fazemos. O curioso é que o processo começa por ser de identificação e de admiração. Eu só invejo o que admiro, mesmo que não admita isso, nem sob tortura. Eu admiro, mas em vez de ficar feliz pelo outro e lutar para conseguir também bons resultados, passo a desejar o que o outro tem, o que o outro conseguiu, o que o outro é. E em vez de lutar pelos meus objectivos, diminuo-me, invejo e desejo até que o outro perca o que possui. Pelo caminho ainda troço do que o outro é, humilhando-o, muitas vezes de uma forma indirecta, desvalorizando os seus feitos e até “roubando”as suas ideias.

Esta inveja surge da observação das nossas próprias limitações ou da percepção errada dessas limitações. Muitas vezes parece que não fomos competentes, mas a nossa maior dificuldade foi “simplesmente” a de escolher adequadamente metas, traçarmos objectivos possíveis de alcançar. E em vez de procurarmos olhar para as coisas desta forma, continuamos a desejar o que o outro tem, em vez de mudarmos as nossas percepções, adaptarmos metas e valorizarmos o que já conseguimos atingir, procuramos sobretudo fora de nós, quando o caminho passa por olharmos para dentro. Vive-se focado no que falta e não no que se tem.

A inveja revela muito mais sobre o invejoso do que sobre o invejado. Revela medos, incapacidades, percepções distorcidas. Como mostra a palavra, inveja vem do latim in-evidere, que significa não ver ou ver enviesado. Vemos com uma lente de aumento o que o outro tem e utilizamos a mesma lente para ver o que nos falta. Então, será que a galinha da minha vizinha é mesmo melhor do que a minha? Depende tudo da nossa percepção.

Há quem fale em inveja boa, inveja branca. Temos tanto medo da inveja que quando a sentimos, sentimo-nos obrigados e reforçar que é do bem. Sim, a inveja pode ser boa, mas também há quem diga que se for boa não se pode/deve chamar inveja, tal é a carga negativa que carrega.

Se tomarmos alguém como referência, se tivermos alguém como modelo, se essa pessoa nos motivar, se ao nos compararmos nos sentirmos estimulados a sermos melhores, se nos tornarmos mais criativos… isso só pode ser bom. Nos primórdios da evolução a inveja teve um papel importante. Desejar o que o outro conseguia era um indicativo do quanto era possível conquistar. Se um macaco conseguia dois cachos de bananas e outro conseguia cinco, o primeiro macaco percebia que também ele podia conseguir uma quantidade maior. Isto estimulava a competição, competição esta que ajudou na evolução da espécie.

Daí que possamos dizer que a inveja é um dos sentimentos mais antigos e primitivos. Segundo os psicanalistas, até o bebé sente inveja da mãe porque é dependente dela, porque o alimento provém da mãe e não está sempre ao seu alcance. Pode mesmo recusar o peito como retaliação. O bebé precisa então de tolerar as frustrações para que cresça saudável. E fundamentalmente é o que todos que sentem inveja precisam. Tolerar as suas frustrações, olhar para si mesmo e descobrir potencialidades, recursos, formas de ficar e ser feliz. A inveja tem cura.. E o primeiro passo é assumir-se que se sente inveja. Ao fazê-lo esta perde a força demolidora que tem. Podemos continuar a admirar o outro e as suas capacidades, sem querer que algo de mau lhe aconteça ou que perca o que conseguiu atingir.

Deixamos de sentir inveja quando sentimos gratidão. Gratidão pelo que se conseguiu alcançar, pelo que a vida nos deu, aceitando também que ela não é perfeita. Usufruímos da vida que temos quando deixamos de viver a ilusão de que só seríamos felizes de outra maneira. Então a chave é aceitar, conviver bem com a realidade, em suma, gostar da nossa galinha!

O facto de nos compararmos não tem de ser mau se nós, pais, educadores, adultos em geral, soubermos que uma pressão desmedida e que uma visão destorcida da realidade podem tornar as nossas crianças infelizes e escravos de eternas comparações. Mas tal como referi, a comparação não tem de ser má. Um estudo realizado pela Associação Americana de Psicologia mostra que quem tem a oportunidade de ver alguém a realizar uma tarefa, consegue ter ideias novas, ser mais ousado, mais criativo, mais flexível do que aqueles que não observaram ninguém a praticar as mesmas actividades antes de si próprio. Agora, é importante nunca nos esquecermos que não somos todos iguais. Se há os que se sentem estimulados com a competição, há aqueles que sofrem muito com isso.

Então, tal como a raiva, o medo, a tristeza, a inveja pode ser um sentimento que nos ajuda a viver e a progredir, se em doses moderadas. A solução é aprender a dominar as emoções e viver concentrados no crescimento pessoal, no desenvolvimento da auto-estima e ainda inspirando-nos no que se passa à nossa volta. Se o que cobiçamos nos destrói, o que admiramos constrói-nos.

E o invejado? Há algo que ele possa fazer?
Quem é invejado sente-se vulnerável e essa é a sua fragilidade. Acreditar no poder da inveja, acreditar que a inveja pode prejudicar é colocarmo-nos numa posição de medo, de profecia que se auto-cumpre – vamos estar sempre a pensar que aquela vitória ou aquele acontecimento positivo vai acabar a qualquer momento e acabamos por agir em conformidade. Acreditar que os outros têm tanto poder, limita a nossa vida. E depois, se algo de mau efectivamente ocorre vamos sempre achar que foi por algo que nos fizeram – se atribuímos a nossa felicidade a nós mesmos, então também devemos atribuir os nossos infortúnios aos nossos actos, porque nós somos responsáveis pelo que nos acontece. Cada um é sobretudo responsável por se deixar influenciar por sugestões, opiniões ou sentimentos dos outros. Por mais que nos custe aceitar, nós é que acabamos por alimentar os sentimentos negativos que outras pessoas possam ter em relação a nós. Então a receita continua a mesma – concentre-se no positivo, concentre-se em ser feliz!



Para finalizar, como é que podemos saber se alguém é mesmo nosso amigo ou se no íntimo morre de inveja da nossa vida? Se pensarmos bem, vamos conseguir concluir que não é só nos maus momentos que se vê quem está efectivamente ao nosso lado, quem é verdadeiro, genuíno, amigo. Os verdadeiros amigos são aqueles que vibram com o nosso sucesso, com a nossa felicidade. Aqueles que ficam contentes por nos saberem bem, que ficam felizes por estarmos felizes, que querem para nós simplesmente o melhor.



quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Perda gestacional







Um sonho que se desfaz. O que fazer depois disto?

Falar de perda, de qualquer perda, é muito difícil.

Mas ainda há tanto para relectir.

Quando acontece uma perda, qualquer perda, é muito importante haver possibilidade de nos despedirmos, como forma de entender o significado e processarmos e elaborarmos a perda.

Um sonho que se desfaz. O que fazer depois disto?

É importante termos uma atitude transformadora perante a dor - o que muda, o que pode mudar é a forma de lidarmos com a perda. A dor nunca vai passar.

Falar de perda, de qualquer perda, é muito difícil.

Meu Deus, como é importante que todos percebam que perder um filho dói, mesmo que não chegue a ter vivido fora da barriga.



Maravilhoso documentário...não deixem de ver.




terça-feira, 20 de setembro de 2016

A capacidade de estar só ou como lidar com a solidão



Estamos sempre em rede e afinal estamos quase sempre sozinhos.

Há dias li um comentário de uma amiga virtual que dizia que ninguém se devia fiar no número de amigos do facebook – o mesmo é dizer que o número de amigos do facebook não é indicador de uma rede de suporte consistente no mundo offline. Foi só um comentário que alguém deixou a alguém, mas para mim tocou numa questão sobre a qual tenho reflectido bastante e trocado impressões com os meus botões.

A verdade é que estamos na era do “ao alcance de um toque”, mas estamos cada vez mais sozinhos.

Quando comecei a minha relação, que passou a casamento e terminou em divórcio, estávamos ainda a anos-luz da realidade actual. Eu ainda tinha uma máquina de escrever em casa… Por amor de Deus! Depois passei para computador, mas sem internet e quando voltei a ficar solteira, muitos anos depois, o mundo tinha mudado – internet, facebook, instagram, twitter, touch, ipodes, ipads, iphones, chats – e nada mais seria igual.

“No meu tempo” não estávamos à distância de um toque, mas também não havia tantos mal entendidos: porque se está online, porque não se está online, porque não respondeu ainda à mensagem enviada, porque aceitou um pedido de amizade de x, porque enviou um pedido de amizade a y… Podia haver outros temas, mas estes não havia de certeza. Isso quer dizer que os desaguisados modernos são apenas frescuras dos tempos que se vivem? Frescuras ou não – não me parecem frescuras, porque quanto a mim este assunto é sério – são, sem dúvida fruto da era em que vivemos. E isso assusta um bocadinho…

Não sei se antigamente era melhor. Era sobretudo diferente e temos de pensar nisto para podermos agir, para podermos retirar o que de bom a vida online nos trouxe e tentar de alguma forma contornar os problemas que também nos trouxe. E são muitos, de facto.

Antigamente estávamos mais sozinhos…mas sentiamo-nos menos sós. Parece paradoxal, mas faz sentido, se pensarmos bem. Antigamente sabíamos esperar, sabíamos lidar com a espera, sabíamos lidar melhor com as frustrações, com a solidão, as rotinas e com a presença do outro, quando ela existia. Podíamos passar mais tempo sozinhos, mas as relações eram mais vividas presencialmente. Agora está-se quase sempre presente na vida do outro, mas efectivamente isto é um engano, uma ilusão.

Fala-se muito da falta de toque, do viver por trás do ecrã, de coleccionar relações em relativamente às quais não nos entregamos totalmente, tudo para explicar as grandes neuroses dos tempos em que vivemos

Eu vejo a vida actual de uma forma um pouco diferente.

Vê-se mais, exige-se mais, controla-se mais… e não sabemos lidar ainda com isso. Estamos mais contactáveis, o que pode ser bom, mas isso é válido para todos, o que leva a mais ciúmes, mais controle, mais obsessões, mais depressões…porque percebemos que no fundo não controlamos praticamente nada e a vida escorre-nos por entre os dedos. A verdade é que nunca controlámos, mas antigamente não tínhamos tanta percepção disso quanto agora. Não conseguíamos chegar ao outro tão facilmente, ele não estava tão acessível, mas também não estava acessível a ninguém, quanto muito aos colegas de trabalho – as infidelidades estavam quase todas associadas ao trabalho e agora há um sem número de novas possibilidades. Agora, as pessoas estão acessíveis praticamente 24 horas por dia e chegam em segundos a qualquer parte do mundo.

Já li artigos que referem que agora somos todos mais fracos, que nos escondemos atrás dos écrans, que os laços criados não têm consistência e que podem ser facilmente desatáveis, mas, no meu ponto de vista, somos todos mais fortes para conseguir sobreviver nesta enorme selva tecnológica, em que a segunda pergunta, depois do “Como é que te chamas” é “Tens facebook?”.

Temos de ser fortes porque temos de confiar mais no outro, na relação e em nós próprios. Temos de trabalhar cada vez mais a capacidade de estar sós, quando o outro está mesmo “ali ao lado”. Tem de se confiar que, mesmo com tantas mudanças a acontecerem simultaneamente, nada vai mudar irremediavelmente no minuto a seguir. Temos de ter essa segurança. As pessoas ainda gostam uma das outras à boa maneira de outros tempos e temos de acreditar piamente nisso.

O bicho papão é a solidão que sentimos e os aliados da solidão são vários, principalmente o medo de sermos trocados, de não sermos suficientemente bons para mantermos uma relação que perdure no tempo, o medo de não conseguirmos preencher o vazio que sentimos e de não termos resposta para tantas dúvidas que nunca poderão ser respondidas. E se a solidão é o bicho papão e o medo o seu grande aliado, o antídoto está no salto de fé que temos de dar. Temos de acreditar, continuar a acreditar, não parar de acreditar. Mas acreditar no quê? Na integridade, na verdade, na bondade das pessoas, na solidariedade, na capacidade de amar os outros e sobretudo a nós mesmos, na capacidade de aceitarmos que não somos donos de nada nem de ninguém, de que ninguém verdadeiramente nos pertence, na capacidade de aceitarmos que a vida é feita de escolhas, de escolhermos parar de nos sentirmos ameaçados, na capacidade de pararmos de controlar o outro, de sabermos esperar, de aprendermos a desligar.

Quando decidirmos lutar por nós, vamos treinar a possibilidade de desligar, de relativizar, de sermos mais calmos em relação ao que nos rodeia, às pessoas, coisas e circunstâncias, fortalecemos o amor-próprio e a capacidade de estarmos sós. Aprender a desligar na era dos mil olhos abertos dia e noite parece uma inconsistência, mas talvez o caminho seja mesmo por aqui. Só podes estar verdadeiramente conectado a alguém, criar laços consistentes, se aprenderes a desligar.

Back to basics. Ah pois é! Achas que consegues?



sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Setembro, o acidente e daqui para a frente



Setembro é o meu mês. Fatal como o destino. Desde o dia em que nasci – pensando bem, não sei se foi este amor- ódio que tenho por Setembro que fez com que a minha filha Concha decidisse vir mais cedo e ainda ser de Agosto.

Setembro é um mês difícil. Ponha a mão no ar quem está comigo nisto. É um mês de recomeços, que pode também ser um mês de fins para quem costuma ver mais o copo meio vazio do que meio cheio. Sou de Setembro e sou professora. Percebem a incongruência? Para nós as férias não são só uma pausa para voltar ao trabalho, no ponto em que o deixámos. Setembro significa começar tudo de novo e lidar simultaneamente com o desconhecido. Nunca é um simples “até já”. Despeço-me muitas vezes dos meus alunos com um “até sempre”. Por isso, bem contextualizado, faz sentido algum nervosismo que sinto em relação a este meu mês.



Este Setembro, logo no dia 1, para mostrar que eu e Setembro nos damos como Deus com os anjos, tive um acidente de carro. Não sei explicar o que aconteceu, apenas que ia ao volante, perdi os sentidos e tudo o que vem a seguir podem imaginar como foi.

Um acidente como este mexe muito connosco, seja em Setembro ou em qualquer mês do ano – mas tinha de ser em Setembro?? Quando eu digo que mexe muito connosco significa que põe a nossa vida em perspectiva, pelo menos para aqueles que são dados a pensamentos profundos – já repararam o quanto eu gosto de pensamentos profundos, daqueles que pululam pelo facebook?



Agora fora de brincadeiras, um acidente assim confunde-nos, angustia-nos e passamos por algum tempo de reflexão e perplexidade até que aparece outra sensação, desta vez muito melhor, de voltarmos à vida. Mas com muito cuidado e jeitinho.



Têm -me perguntado bastante como estou, têm-me enviado mensagens, têm sido uns queridos…mas eu ainda não sei bem o que responder. O politicamente correcto ou o que estou mesmo a sentir? Devo dizer que não foi nada, que podia ser muito pior, que a vida continua, que é preciso olhar para o que nos acontece como lições e optimismo ou que apanhei um valente susto, que me fez andar a questionar o sentido disto tudo?



Ver os papéis do Hospital, entrada como caso urgente, os politraumatismos, os exames todos de despistagem, a amnésia… as coisas que continuo a não conseguir lembrar – isto é o mais próximo que já tive de quem passou verdadeiros dramas por uma parte da sua vida ser apagada do seu cérebro. Parece daquelas histórias de telenovela, mas pode bem ser verdade.

Tive uma aluna que depois de uma cirurgia aos ouvidos que não correu muito bem, acordou sem se lembrar dos últimos dois anos da sua vida. Tinha mudado de curso, o namorado tinha terminado a relação, ela tinha depois conhecido outro rapaz com quem começou a namorar e… quando acordou nem sequer o conhecia. Dramático!

Eu tinha falado com ela sobre essa situação difícil e como psicóloga activei toda a empatia possível, que, em boa verdade, qualquer pessoa consegue sentir neste caso, tenha sido treinada ou não para isso. Mas curiosamente foi das primeiras pessoas em quem pensei, embora já não a veja há talvez dois anos. Lembrei-me dela e do seu sofrimento e dei por mim a pensar que só sentimos verdadeiramente a dor do outro quando a vida nos presenteia com experiências semelhantes. Antes são flashes, só flashes. Ser empático é ser filtro ou é ser esponja?

Enfim, questões e mais questões…

Porque é que coisas trágicas acontecem quase sempre perto de datas rituais? Porque é que tive de passar por tanto no último ano? Porque é que teve de acontecer no dia anterior à tão desejada viagem? Porque é que é tão difícil relativizar tudo… e pronto? Será que pensamos demais? Eu penso, não tenho dúvidas. Eu penso demais, logo existo. Eu penso demais, logo sofro a triplicar…



Recomeçar é tramado. Ou então um caminho sem obstáculos difíceis não é um verdadeiro caminho. Convenhamos que podia ser tudo um bocadinho mais fácil, não?

E agora? Agora é novamente hora de recomeçar porque Setembro grita por isso. Batemos em colisões frontais, caímos, levantamo-nos e continuamos o caminho. Ao menos, quanto a mim, devemos retirar lições dos tropeções da vida, para que continuemos o trajecto, mas de uma forma diferente. Para que não tenha sido em vão. Ao menos que sirva como um abrir de olhos.

Obrigada à vontade de escrever, que voltou. Muito tímida ainda, mas voltou. Obrigada à mãe, sempre à mãe, que está sempre lá para que voltemos a andar pelas nossas próprias pernas, que não nos deixa sozinhos, tenhamos nós 1, 5, 15 ou 40. E quem diz mãe diz família e quem diz família diz amigos, porque tudo só faz sentido em relação.

A semana passada li um artigo que dizia que chorar pela perda de um amigo era “mariquice”. Quando perdemos um amor as pessoas dão-nos palmadas nos ombros e abraços apertados e ainda nos deitam alguns olhares de compaixão. Mas se quando se perde um amigo a dor é vivida sozinho, o que dizer de quando se perde uma parte de nós, quando na realidade não se perdeu nada em concreto? Essa é a dor mais solitária que existe. Mas ser adulto pelos vistos é isso – ainda estou a tentar descobrir. É gerirmos o vazio existencial, integrando-o e aceitando-o como parte da vida. Isso e aguentar firme. E se não aguentarmos sofremos em silêncio, porque nada de mostrar tristeza na era do optimismo, em que a ideia subjacente é “deixa-te de mimimi e rema, que para a frente é que é o caminho”. Não nos é permitido estar tristes, porque há sempre quem tenha passado por coisas piores e não se foi abaixo. E se não for por isso é simplesmente porque no fundo não há pachorra para aguentarmos as dores dos outros e talvez dessa forma não tenhamos de nos confrontar com os nossos próprios males. De facto, termos pena de nós próprios é considerado um dos grandes pecados mortais.

Sei que sou um bocadinho contra corrente, mas neste momento não consigo afirmar que o pensamento positivo sempre vai resolver tudo e que devemos passar o tempo a agradecer a vida que nos calhou na rifa. Obviamente que não quero aqui fazer a apologia da tristeza, mas também acho que não podemos constantemente estigmatizar, reprimir, esconder o que vai dentro de nós, aquilo que sentimos e que pode não ser assim tão optimista.

Há uma equipa de psicólogos de Harvard que diz que só podemos ser felizes se nos permitirmos experienciar a tristeza e que os sentimentos negativos, quando vivenciados, ajudam a processar cognitivamente, de forma mais lentificada, as coisas que nos vão acontecendo, permitindo-nos assim tirar conclusões mais ponderadas, mais significativas, mais impactantes sobre o que nos aconteceu, sobre a vida em geral.

Então, se não se importam, vou permitir-me andar triste por mais um tempinho, enquanto vou reenquadrando o acidente como uma metáfora ou ensinamento da vida.



E o que fazer daqui para a frente? Como sei que a apreensão e tristeza, se não geridas, podem levar a algo mais sério, algo pelo qual não faço intenção de passar, quero recomeçar a viver, quero fazer coisas diferentes, quero sentir que vale a pena. Quero escrever. Quero mudar de paradigma. Dizem que só vivemos uma vez, mas na vida que vivemos, morremos e renascemos uma e outra e outra vez. É realmente possível? Quero resolver este enigma.



quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Vicente e a entrada no primeiro ciclo

Hoje foi dia de apresentação. A directora pediu que os meninos se sentassem à frente, virados para a frente e os pais atrás, ou seja, sem manterem contacto visual.
Assistimos a um pequeno espectáculo apresentado por alunos mais velhos. No fim, foi distribuído pelas crianças uma folha com um poema. Depois foi pedido que se levantassem para cada grupo ir para a respectiva sala. Quando o Vicente se levantou e olhou com ar muito angustiado para mim, estava em lágrimas. Eu "quebrei o protocolo" e fui ter com ele. Mantive-me calma, acalmei-o e não fiz interrogatório. Depois de pais e filhos estarem na sala de aula e depois de irmos à biblioteca buscar os livros era hora da apresentação da mana na escolinha ao lado. Antes de passarmos para essa parte, e já fora da escola, eu quis perceber o que é que tinha acontecido. E ele respondeu.
Mãe, deram uma folha com um texto, mas eu ainda não sei ler!!!


Meu queridíssimo Vicente, mesmo quando os meninos parecem muitos calmos, estes dias são de agitação interna e medos. Não é assim?
Adoro-te e vai correr tudo bem. Com medos e tudo. Estás ávido por aprender e eu quero acima de tudo que aprendas a ser feliz.

Ler é muito mais do que juntar letras. Agora sim, vais-te sentir a crescer por dentro, vais abrir os teus braços a mil novas possibilidades. Estou tão contente por ti. Apreensiva, que coração de mãe foi feito para andar muito apertadinho, mas essencialmente em êxtase por te ver a ganhar mundo e a seres o menino que és. Doce doce Vicente.




quinta-feira, 28 de julho de 2016

Posso contar-vos um segredo?



-Acho que o próximo passo é ir a Évora e conhecer melhor as tuas raízes.
- Faz sentido, mas só se depois me levares a Formentera. Plaseeee.
- Posso contar-te um segredo? Se me pedisses a lua eu arranjaria forma de lá chegar.


E foi assim que surgiram os maravilhosos prints da Oixica, pedidos à medida, feitos com todo o amor possível.

O azul característico do Alentejo, o azul vibrante e cristalino de Formentera e o azul escuro, que é assim que eu imagino a lua, vista num céu enigmático de noites estreladas ou sem piscas piscas vindos do céu.


Faltam as molduras do Ikea para poisarem no seu destino. Um espaço guardado para uma história que está a começar.


Posso contar-vos um segredo? Tenho medo de recomeços. Porque tenho ainda mais medo de fins.
Posso contar-vos um segredo? Estou feliz e recomendo. Estarei feliz até a vida deixar.







https://www.facebook.com/oixica/

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Um segredo tão bem guardado ou as mãos de fada de uma iraniana bonita – threading, micropigmentação e outras histórias.



Conheço a Leila há algum tempo. Durante anos fiz threading (depilação com linha) na Wink. Se adorava? Não, mas há hábitos difíceis de mudar.

A certa altura, comecei a ouvir falar do Facestudio, mas demorei a decidir-me a experimentar. Hoje lamento não ter avançado mais cedo, porque só então soube o que era realmente ter umas sobrancelhas perfeitas. Os meus olhos depois de a Leila operar o seu pequeno milagre, como eu lhe chamo, abrem-se, como que a querer absorver tudo, ou seja, ganharam uma atitude e uma expressividade que não tinham antes. Bravo Leila, BRAVO



A Leila é iraniana, tem mãos de fada e também um percurso giríssimo. É licenciada e mestre e chegou a Portugal em 2005, quando o marido veio fazer o doutoramento em Coimbra. Embora a sua licenciatura seja em literatura inglesa ( e mestrado em Línguas e Relações Empresariais), tem imensas formações na área do threading e da micropigmentação – maquilhagem permanente. E foi por causa desta componente que resolvi escrever sobre a Leila e sobre a sua história, porque há coisas que nos ficam na cabeça, nos ouvidos e no coração.



Queria ter escrito este post logo a seguir a ter como convidada numa disciplina que leciono uma colega que trabalha na Liga Portuguesa Contra o cancro. Infelizmente o tempo tem sido muito escasso, mas não queria deixar passar sem vos contar esta minha aventura. Nessa aula, falámos sobre diversas coisas, como, por exemplo, o auto-conceito e auto-estima dos sobreviventes do cancro, da queda do cabelo e da perda das sobrancelhas, do recomeçar e de ser tão difícil fazê-lo, quando as marcas teimam em ficar.

Uns dias depois, porque há coisas que não se explicam, fiquei a saber que a Leila tem este processo de micropigmentação, que encaixa que nem uma luva em casos como os que falámos na aula. A ideia é usar uma coloração, uma pigmentação que permita desenhar as sobrancelhas, numa maquilhagem definitiva, para que os danos psicológicos sejam minimizados, criando uma auto-imagem muito mais positiva. É, de facto, incrível percebermos que há tanto que se pode fazer para ajudarmos quem precisa. Cada um vai encontrar a sua maneira. No caso da Leila, ela doa os seus serviços e estas mulheres guerreiras que só lhes pagam materiais, ou seja, pagam metade em relação às outras clientes. A Leila faz isso porque sim, porque descobriu que era assim que podia fazer a diferença, que podia ajudar, porque a vida serve para isso mesmo, segundo a própria.



Comigo a Leila foi também um bocadinho mais longe. Quando lhe disse que queria escrever sobre isto, porque para mim toda a sua história era inspiradora, respondeu-me que então teria de experimentar, para poder falar com conhecimento de causa. E eu não consegui dizer que não, porque quem me conhece sabe que adoro desafios. Sou ousada e gosto de ser assim. Não optámos pela maquilhagem permanente de sobrancelhas porque, felizmente, tenho pelos para dar e vender, mas pelo eyeliner definitivo e pela permanente e tinta de pestanas. Sim, porque há mulheres como eu, que não têm tempo, não têm jeito e/ou não têm pachorra nenhuma para se porem bonitas, mas adoravam acordar frescas e belas como se tivessem saído de um maquilhadora profissional – in your dreams!!

Só de pensar que ia acordar minimamente composta, que podia sair da água do mar com um aspecto engraçadinho, que podia estar no ginásio e mesmo suadíssima continuar com bom ar…que a minha auto-estima também ia aumentar nem que fosse ligeiramente – foi um ano que andou um pouco pelas ruas da amargura – disse logo sim, sim e sim!



E o resultado é Lindo! E uma coisa que eu nem sabia que existia mudou bastante a minha vida. Estou muito mais descontraída em relação ao meu aspeto. Imagino o bem que isto não fará a quem passou por uma situação tão difícil como a de ultrapassar um cancro!


Para saberem mais é procurar no blog e na página do facebook da Facestudio.











quarta-feira, 29 de junho de 2016

O balanço dos dias ou quando sabes que estás sempre a tempo de mudar



Uma grande parte de nós tem o hábito de reflectir de uma forma mais cuidada sobre a vida e sobre metas e propósitos, quando o fim de Dezembro se aproxima ou quando Janeiro dá o ar da sua graça. Outros, como é o meu caso, também aproveitam Setembro para fazer um balanço do que correu menos bem, do que deve ser repensado e do que é para ser mantido e reforçado em relação ao ano que está a decorrer. O regresso às rotinas, o fim das férias “grandes”( que, cá para nós, são cada vez mais pequenas), o adeus aos dias longos, quentes e com sabor a felicidade instantânea, fazem com que este seja o momento propício para sermos os nossos próprios coaches.

Hoje resolvi vir deixar-vos um desafio. Porque não fazer o balanço do meio ano que já passou? Talvez estejamos a sentir que 6 meses já lá foram e ainda não se passou nada de especial, que nem um item sequer riscámos da lista de coisas a fazer em 2016. Pois é, a vida passa num flash e num abrir e fechar de olhos passámos de Janeiro a Maio, a Primavera já voou e o Verão já chegou – de início teimoso e cheio de manias, mas agora veio para reinar.

Da lista que escrevemos, dos objectivos que traçámos, seja por escrito ou mentalmente – embora aconselhe vivamente a que o façam por escrito – algo que tanto queriam conseguir, acabou ou não por ser cumprido? Ou apenas vivemos o dia a dia, como se amanhã fosse sempre perto demais, em que podemos deixar sempre tudo em standby, porque ainda falta muito para o fim do mundo ou para o ano que vem? Queixamo-nos vezes sem conta que os dias voam e que não temos tempo para nada, mas simultaneamente vivemos como se tivéssemos sempre tempo para tudo, e este trabalho de reflexão, que é imperativo que seja visto como uma necessidade básica, vai sendo adiado e adiado e adiado, utilizando muitas vezes o pouco tempo que tempos, para nos aborrecermos com questões que só lembram ao diabo.

2016 já vai a meio e a vida não se repete. Logo fazemos, dizemos nós. Deixamos sempre para depois tudo o que tem a ver com pensarmos sobre nós próprios, encetarmos mudanças nesse sentido e formularmos pequenos passos – baby steps – que nos ajudarão a chegar mais longe. Deixamos constantemente para depois. Até que nos apercebemos que perdemos tantas coisas, tantos momentos mágicos, tantas oportunidades únicas, porque o depois nunca chegou. 

E tudo porque preferimos não arriscar. Mesmo quando a maior desculpa, que não deixa de ser plausível, é a falta de tempo. Todos nós sabemos, aqui que ninguém nos “ouve”, que o que mais nos falta não é o tempo, mas sim a coragem de arriscar, de fazer diferente, de mudar. Arrisco amanhã, faço diferente para a semana, mudo quando tiver de ser. E se possível, ainda dizemos isto com a boca cheia de certezas, para enganar o medo de não conseguirmos ser felizes. 

Mas nunca deixes de assumir, por mais que doa, que a escolha é tua e só tua. Podes não poder mudar o que te acontece na vida, mas podes sempre alterar a forma como vês o que te acontece e a forma como queres reagir aos infortúnios. Isto é libertador, não é? Mas ao mesmo tempo traz uma responsabilidade enorme. Se és livre para determinar o teu futuro, passas a ser ainda mais responsável por ele. Uau!!! 

Fazer coisas é um compromisso que todos tempos connosco próprios. Ser feliz é acima de tudo uma decisão. Uma decisão e um estado de espírito. Lembra-te sempre, por mais que S. Pedro esteja a ficar com sinais de demência, que o Inverno, a chuva e o frio só acontecem lá fora. Dentro de ti estará sempre o tempo que tu quiseres.



No fim do ano serás o que viveste. Serás até o que não viveste. Serás o que sonhaste, o que ambicionaste, o que desejaste, mas, essencialmente, serás o que trabalhaste e o que te esforçaste para ser. 

E lembra-te também, mesmo que o balanço dos dias não esteja a ser o mais positivo, podes sempre tentar outra vez. Olha para a lista com olhos de ver, cria pequenos passos,mas exequíveis, e que possam ir sendo avaliados e reavaliados semanalmente. Ainda te faltam 6 meses. Agora depende de ti quereres ver o copo meio vazio e decidires não o voltar a encher ou, pelo contrário, fazer limonadas com os limões que a vida te teu, ou laranjadas ou morangoskas ou até bolo de chocolate – light, sempre light. 



O que queres mesmo fazer antes de 2016 terminar? Vamos a isso? Vá lá. Não tenhas medo de arriscar.


quinta-feira, 23 de junho de 2016

Das fraquezas se fazem forças






Porque depois do texto que escrevi no facebook recebi imensas mensagens, de força, de partilha de histórias dolorosas, de amizade, resolvi que estava na hora de voltar ao blog. A vontade renasceu e foi quando eu percebi que, de facto, tinha conseguido fazer das fraquezas forças e que o ano mais difícil de toda a minha vida estava a chegar ao fim.

Tenho de agradecer principalmente à B. A sua mensagem foi um sinal - eu sei que muitos não acreditam nestas coisas e respeito, mas eu acredito.  Pequenos nadas, inner voices a que nos podem simplesmente passar ao lado, porque suspiradas, porque nos mostram coisas que não queremos ver, porque nos trazem avisos que preferimos ignorar. E foi assim que soube que tinha de voltar ao "activo", simplesmente porque me apetece e porque há quem espere, há muito tempo, para me ler. 

Não tinha honestamente percebido que a minha história poderia ajudar tantas mulheres, que ao identificarem-se, só por isso, perceberam que não estavam sozinhas. Uma separação, um divórcio, a dor da perda não conhece idades, credos ou estratos sociais.

E nestes contactos consegui perceber, que a dor maior é quando há filhos. Que nesse caso a sensação de recomeçar é muito mais difícil. O medo de perder os filhos é indescritível...principalmente o medo de perder os filhos para outra mulher, para "outra mãe", que não o sendo, também passa a ser..

Continuo cá deste lado para todas que me quiserem contactar. não é fácil. É um luto que tem de ser feito e cada pessoa tem o seu tempo. Respeitar o tempo de cada um é mais do que necessário. É essencial.





Muitas vezes me têm dito "está sempre tão feliz!". Isto baseado no que vou postando no facebook.

Não, nem sempre estou feliz. Aliás, muitas vezes não estou feliz. Este foi o ano horribilis onde tudo correu mal. De 2015 para cá separei-me, divorciei-me, os meus filhos sofreram muito com isso; estive meses sem sair de casa, sem querer estar com ninguém. Deixei de ir ao ginásio, deixei de ter vida. Deixei de ter vida para além deles. Deixei até de ser a mãe que precisava que eles fossem. O meu avô faleceu, o único que me restava. O meu cão tem uma doença, aparentemente degenerativa e muito grave. Há uns dias soube que tenho de repetir sem falta uma mamografia daqui a 6 meses e tenho o colesterol a 295. Vi os meus filhos a terem uma nova vida, a viverem uma nova vida desde que, depois de muitas divergências, acordámos a guarda alternada. Sofri horrores quando conhecerem a namorada do pai. Os ciúmes que senti dela foram indiscritíveis. Não por ele, mas por eles. Foi das coisas mais difíceis de lidar. Lembro-me da primeira vez que o Vicente me chamou, por engano,o nome dela, em vez de mãe. Custou, não vou mentir. 

Ainda choro. Choro muito. Quase todos os dias. Mas senti que a minha missão este ano era trazer alegria, bom humor, disparates...à vossa vida e à minha.
Se estou a conseguir, passo a passo, só tenho a agradecer por isso.
Um divórcio nunca é fácil. Os estilos parentais diferentes, discordâncias, medos, muitas dúvidas.
Optei por usar o humor como uma arma. 
Um ano e um mês depois ainda não sei qual é o balanço. Ainda estou para descobrir.
Não, não estou sempre feliz e não foi levianamente que optei essencialmente por não contar aqui a minha vida. Talvez a devesse partilhar mais. Talvez ajudasse outros na mesma situação. Desculpem se tenho sido egoísta, mas o que eu mais precisei para fazer tantos lutos foi ajudar-me primeiro a mim.
Um beijo a todos que passam por lutos. Mortes, separações, perdas de emprego...Whatever.
Estou convosco, como sei que têm estado comigo.
Abraço apertado, directamente do 
❤️
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