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quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Sobre os tempos difíceis que vivemos

 Já era tempo de vir aqui deixar umas palavrinhas. Eu brinquei, há alguns dias, com a questão das exceções destes dois próximos fins de semana. Eu gosto de brincar, tentando sempre usar um humor que cura e não um humor que causa danos. A diferença é imensa.
Toquei ao de leve na ferida. E não critico, de todo, a necessidade de confinar. Para mim o estranho são as inúmeras exceções que desvirtuam a medida. Não entendo tanto burburinho à volta de 2 fds e numa ordem de recolhimento, que nunca foi uma ordem, mas um pedido e que se transformou numa discussão acesa sobre tudo e sobre nada. Será que não entendem que 2 fds fechados era sem dúvida muito melhor do que 4 ou 6 e arriscarmo-nos mesmo a não ter Natal? Tinha muita esperança que este fecho permitisse depois a abertura a tempo da altura do ano que está completamente associada à família. Agora já duvido muito. Já duvido de tudo, aliás. Eu já era daquelas que se sentia mal pelo uso e apelo ao ódio nas redes sociais, mas nunca tinha sentido isso tanto como agora. Quanto mais pressão, mais as pessoas se alteram e dizem TUDO nas redes sociais. Tudo. De facto, tenho lido de tudo e acho que não há dúvidas de que estamos com problemas sérios de saúde mental. Bolas, eu falo sobre essa questão há tanto tempo, mas infelizmente a minha voz chega a poucos. Então, volto a dizer que a nossa saúde mental está por um fio. Acho que contextualizado faz sentido. Eu sou uma contextualista e o contexto em que vivemos é propício a este "perder as estribeiras". Mas se sou contextualista, não sou de todo fatalista, ou seja, o momento que estamos a viver justifica muita coisa, mas não justifica tudo. Não sou a favor da inevitabilidade das coisas, nunca fui. Isto significa que acho que, perante a loucura que vivemos, há coisas que podemos fazer. Uma delas é afastarmo-nos de polémicas. Eu odeio polémicas e pode dizer-se que mantenho e que me pautuo por um estilo low profile. Enquanto eu pago para não estar metida em polémicas, há pessoas que dão um rim e dois dedos das mãos para poderem estar metidas numa boa controvérsia, para não dizer peixeirada. Será que devemos chamar os bois pelos nomes? A última é a hora de abertura de um dos grandes hipermercados. Sabem porque eu não comento? É que não tenho certezas de nada! Ponderando bem as coisas estou com alguma dificuldade em distinguir nos dias de hoje o certo e o errado. Para além disso, mesmo que, de facto, seja muito errado, o tempo de antena que estão a dar a algo que querem penalizar é grande como o caraças. Eu aprendi, sendo terapeuta que trabalha com a parentalidade, que devemos focar-nos nos comportamentos que queremos que continuem a acontecer e falarmos o menos possível naqueles que queremos erradicar. É simples perceber porquê. Estamos a dar atenção e espaço a comportamentos que devem ser ignorados, porque ao lembrá-los persistimos nesses comportamentos e, de alguma forma, fomentamo-los. Dentro da lógica "falem mal, mas falem de mim", uma grande, grande lição era ignorarmos aquilo que achamos que deve ser sancionado. Há muito poucos dias estávamos, quase todos, agarrados aos écrans a ver o desenrolar das eleições americanas. E, meus amigos, houve quem criticasse isso, porque devíamos era olhar para nós e irmos votar nas nossas eleições. Eu concordo com a mensagem de que estas eleições devem servir de exemplo. Que bom será se isso nos tornar mais civicamente ativos, com mais vontade de mudar o mundo, numa altura que o mundo está doente e grita por ajuda. Portanto, e como estava a dizer, o alerta de olharmos, depois disto, mais para nós, mais para dentro, é imperativo. Até me parece ser uma boa mensagem, de proatividade. Agora, o desdém perante aqueles que se agarraram a estas eleições como a última coca cola do deserto não faz sentido. Num ano tão negativo, numa última década em que tudo tem vindo a descambar, estas eleições, estes resultados trouxeram a sensação de ventos de mudança. Trouxeram a luz ao fundo do túnel que já ninguém estava a ver. Trouxeram a fé e a esperança a uma Humanidade doente e a colapsar. Portanto, que bom que foi podermos tirar uns dias para acreditar, para ficarmos felizes por eles e por nós, porque sim, num mundo globalizado o nós é cada vez mais importante ou, dito de outra forma, o eles também somos nós. Depois voltámos ao normal, ao novo normal que é o medo e a exaustão e a incerteza. Até aqui tudo bem. Mas porquê é que o medo, a exaustão, a incerteza têm de transformar-se em raiva e em ódio? É essa a nossa natureza, tal como a do escorpião? Não conseguiremos nós alterar isso? Estará mesmo na nossa natureza sermos assim? Reagirmos com raiva e ódio ao medo? Quero acreditar que não. Acho que um bom movimento não é unirmo-nos para boicotar este ou aquele. Não é por aí. Juntos podemos e devemos lutar pela consciência comunitária, mas mais ainda, por uma consciência individual. Para mim, o que faz mais sentido é criarmos o movimento por uma consciência que sensibilize, pela positiva, a necessidade urgente de cada um de nós fazermos o que está ao nosso alcance, para termos todos os cuidados necessários para que estes tempos difíceis sejam o mais breves possível. Se cada indivíduo fizer a sua parte, o grupo sairá vencedor e aí o todo voltará a ser maior do que a soma das partes. 



Sofia Arriaga


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