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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Solidão, alienação ou desapego

Já no dia anterior tinha lido sobre o que tinha acontecido àquela idosa. A ela e ao cão.
Ontem vi a reportagem.

Não tenho palavras. Não é apenas sobre a solidão dos nossos velhos e tal. É sobre a falta de saúde mental dos mais novos.
Ela tinha família, c’um catano.

O programa não deveria ter sido sobre a solidão na terceira idade mas sobre a alienação em que todos vivemos. Ou quase todos.

Ah, ok. Eu digo bom-dia e boa-tarde e boa-noite com quem me cruzo lá no prédio. Mas se eu tiver um problema, se eu precisar de repente de um ovo ou de outra coisa qualquer, a quantos vou pedir?

E vocês?

Aqui há uns tempos uma rapariga veio bater-me à porta. Disse-me que vivia no andar por cima, era estudante e que tinha ficado sem água, se lhe podia encher um balde.
Eu estava sozinha com o mais novo, nunca a tinha visto mais gorda e tive medo. Não lhe falei muito mansamente ou cordialmente; disse-lhe que sim mas não a convidei a entrar. Fechei mesmo a porta enquanto fui buscar-lhe a água.
Sim, entende-se o meu medo. Vivemos uma cultura de medos. E se fosse apenas um estratagema, de tantos que ouvimos falar (como aquele de estar num restaurante e nos virem perguntar se somos os donos do carro com a matrícula y e se podíamos dar um jeitinho para conseguirmos estacionar e depois vai-se lá fora e pumba)? Mas enquanto fui até à cozinha e a água entrava no balde eu caí em mim. "O que estás a fazer? Como estás a ser? Estás a tornar-te naquelas pessoas que abominas?"

Abri a porta, dei-lhe o balde e pedi desculpa. Expliquei-lhe os meus medos e disse-lhe que se voltasse a precisar de alguma coisa era só pedir. Senti-me muito melhor. Por vezes é preciso fazer tão pouco pelos outros para nos sentirmos bem com a vida. Ajudar também é um acto de egoísmo, de nos sentirmos bem, renascidos, parte integrante do mundo. E se for? Pois que seja.

4 comentários:

cvcsvg disse...

Eu acho que tenho alguma sorte quanto a isso..
Conheço toda a gente da minha rua.. Todos me conhecem.. Todos se "metem" com os meus filhos.. Já precisei de "ovos" e fui pedir.. Já precisei que me tomassem conta do miudo que estava a dormir.. e tomaram..
É uma rua um pouco "bairrista" como quase todas são onde eu vivo.. e até há muito pouco tempo atrás io unico prédio que existia era o Hotel e um prédio com 2 andares..

Sorte? Talvez, mas fui eu que optei por trazer os miudos para aqui! Andam na rua "quase sozinhos".. Todos nos conhecemos!

Marta disse...

Compreendo-te bem.
Por acaso conheço todos os meus vizinhos. "Conheço" é como quem diz, sei quem são. Já me vieram pedir, não ovos, mas açúcar e outras pequenas coisas... apenas um, o da frente. A Nini até já foi a casa deles mais que uma vez brincar com a filha deles.
Também já me dei conta que estava a hesitar ajudar por medo. Medo que me estivessem a enganar. A desconfiança agora rege os nossos actos e não gosto que assim seja.
Também me chocou a noticia, chocou-me em a família aparecer agora. Agora é tarde...

Cat disse...

É a diferença dos meios pequenos para as cidades.. Eu tenho as duas experiências. Na minha terra é maravilhoso. O que não gostava quando lá estava e me fazia querer vir embora, é o que agora aprecio, toda a gente se conhece, sais à rua e vês a que foi tua professora na primária, a mãe da tua amiga, a amiga da tua mãe... Cá, em Lisboa, moro num prédio só de velhotes que conheço de vista, bom dia, boa tarde e pouco mais. É triste a cultura de medo mas não é condenável. A mim nunca me aconteceu nada por isso nem penso muito nisso e sou um bocado ingénua em algumas coisas, se calhar. Até a um dia em que eventualmente aconteça :/

***Bom fim-de-semana, querida

sof* disse...

se eu estou sozinha com a leonor tb não abro, mas já nao me lembro disso ter acontecido. é preciso ter cuidado, mas o pânico de não confiarmos em ninguém é ainda mais triste.
a notícia da velhota é um sinal dos tempos, sem dúvida. é mto triste e eu lembrei-me da minha avó que mora sozinha em lisboa num 3 andar sem elevador. se poderia acontecer-lhe o mesmo? duvido. a interajuda entre a vizinhança do prédio é optima, a minha avó fala com toda a gente a toda a hora e nós estamos em permanente contacto com ela. o meu irmao está perto.
creio que se a senhora que morreu tivesse mais amgios a coisa tinha sido resolvida mais depressa. pelo que percebi ela nao era mto de conversas e isso, para quem está sozinho também pode ser importante na hora da entre-ajuda.
mas sim, é triste, é a realidade :(

hoje curiosamente o telejornal do almoço da sic foi fértil em casos destes. foi o dessa senhora, foi do velhote fechado na arrecadação pelo proprio filho e nora, e o pai que matou as filhas gémeas e depois se suicidou. e para rematar aquela ordinária que fingiu ter um cancro e organizou um peditório para o seu translpante. oh gentinha reles!

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