A Isabel, ou pipoca - é assim que lhe chamam muitas vezes - é a segunda filha da Rita. Na altura em que a pequenina nasceu, a Rita trabalhava, estudava (ia a meio do MBA) e tinha todas as coisas de uma mulher casada e com um filho de 4 anos.
A Isabel nasceu num dia especial, num 09/09/09, de cesariana programada devido a uma pré eclâmpsia e a um mau CTG realizado na véspera.
Não havia nenhum indício de que algo não estaria bem. Quando ela nasceu houve uma coisa em que a mãe reparou. Reparou que a filha tinha uns olhos muito azuis. Mas a anestesia e a tensão muitíssimo alta não a deixaram perceber mais nada. Os médicos, por sua vez, perceberam logo que havia algo de errado, mas não lhe quiseram dizer. Comentaram apenas que havia algo que não estava bem com os olhos dela, mas o oftalmologista diria no dia seguinte o que é que se passava em concreto. Aparentemente foi a única na família que não percebeu de imediato. Achou que não tinha de se preocupar. Ela estava ali, ao seu colo, linda e calminha. O que poderia haver de errado?
No dia a seguir tudo mudou. Os médicos estavam com uma cara péssima, diziam que era grave, que tinham de levá-la ao bloco. Parecia-lhes que era um glaucoma congénito, mas não tinham certezas. Nesse momento o mundo da Rita desabou. A sua filha, com apenas 24 horas de vida, iria ser sujeita a uma anestesia geral.
E a partir daí a vida desenrolou-se entre médicos, consultas, viagens, exames e operações.
A pipoca foi para londres com 2 semanas, onde viveu durante 4 meses. Um afamado especialista disse que a Isabel não via e que para ver alguma coisa funcional teria de ser sujeita a transplante de córneas. A Isabel e a Rita, sozinhas em Londres, a aguentarem-se com podiam. O marido e o filho tão pequeno a irem e a virem, a viverem entre dois mundos.
Voltaram em Março de 2010 com 2 olhos semi novos e muito felizes. A Isabel via! Tinha uma visão muito residual, óculos, gotas diárias, mas via.
Mas para além da visão, a doce pipoca tinha problemas de nutrição graves. Recusava comer. Eram dias, horas a tentar alimentá-la, noites sem dormir, nada resultava e não havia uma causa, não se percebia … Em Julho de 2011, com 10 meses, tinha 5,5 kg e tamanho de 3 meses. Não tiveram alternativa senão interna-la na Estefânia para colocar uma sonda nasogástrica. Nessa mesma altura o olho esquerdo sinalizou novamente problemas e tiveram de voltar para Londres. Foi o caos, uma angústia, um sofrimento. Acabaram por perder o olho esquerdo…
Esta princesa já teve cerca de 25 anestesias e sedações. Tem 5% de visão no olho direito e nada no esquerdo (tem um prótese ocular). Tem 12 kg e 92 cm (tamanho de 2,5 anos). É esperta, manhosa, viva, alegre… muito feliz. Tem coisas muito chatas. É péssima para comer, tem de ser tudo batido como um bebé de 6 meses e só come o que a mãe faz.
Finalmente vieram os testes genéticos e tem Anomalia de Peters. Tem um problema de crescimento que não se sabe se está relacionado com a síndrome ou com outras pequenas mazelas.
Quem vê a Isabel na sua bicicleta ou trotineta não percebe como ela vê mal. Parece apenas uma doce criança, muito feliz, e um pouco pestiti também.
É uma criança normal, mas também é uma criança diferente, muito especial.
Não se sabe ainda se conseguirá ler. Provavelmente terá de aprender braille e a mãe só reza para que mantenha a visão que tem, visão que pode a qualquer momento perder.
A Rita ao fim de 4 anos conseguiu voltar a trabalhar, com um horário flexível, mas só porque trabalha com um amigo, que lhe facilita a vida. Vive um dia de cada vez e são felizes, muito felizes. Mas não há um único dia que não pense: dava-te os meus olhos…
1 comentário:
É arrepiante pensar que em segundos a nossa vida pode mudar! Mas é bom conhecer estes casos!! São sempre inspiração para todas as forças!
Obg
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