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domingo, 29 de novembro de 2020

NÓS, ADULTOS, E A NECESSIDADE DE SABER TODOS OS PORQUÊS

 

Os adultos têm de perceber tudo até à exaustão...e depois não percebem nada e perdem-se nesta roda de perguntas e respostas. Então respondem aos filhos "porque sim" e "porque não", porque já não há mais espaço para pensar. Gastaram tudo consigo.

As crianças também questionam, mas ao mesmo tempo são mais aceitantes. Parece que lá dentro sabem que há coisas que nem vale a pena questionar. Filosofar é questionarmo-nos sobre tudo e questionar é crescer. Mas quando questionamos demais metemos os pés pelas mãos e paramos de crescer, no mau sentido, não porque voltamos a ser crianças, mas sim porque nos transformamos cada vez mais em adultos cheios de neuroses e com macaquinhos no sótão.

Nos últimos tempos tenho percecionado que questionarmo-nos demasiado pode fazer aumentar a dúvida e a confusão, ou seja, pode fazer mal à saúde, numa altura que precisamos de confiança e de calma.

Talvez tenhamos de saber quando questionar, saber quando parar, saber que nem tudo tem de ser compreendido, para sermos um bocadinho mais felizes. Só isso. Saber tudo é meter o dedo na ferida e precisamos de perceber que pôr o dedo na ferida é como usar uma espécie de nitrato de prata a queimar a carne viva, que permite a regeneração, mas dói muito... mas também pode ser como abrir uma caixa de Pandora ou, seguindo o mesmo raciocínio, pôr o dedo na ferida, só que quando o dedo não está treinado para tal, pode levar a uma péssima reação. Podemos entrar em choque e até morrer, porque piorámos a infeção.

Temos de aprender a abrir mão da vontade de saber todos os porquês e o porque não pode ser o que nos salva, o que nos permite viver, o que permite cuidar do nosso coração.

Há quem possa dizer que estou a transformar os adultos em avestruzes, mas é precisamente o contrário. Quero que ponham a cabeça de fora, que olhem para o mundo com entusiasmo, que ainda se deslumbrem com as pequenas coisas, mas que se saibam recolher e proteger, não dissecando a vida com uma ansiedade devoradora, que não vai parar de aumentar nunca, porque o que procuram no passado, que é onde achamos que estão as respostas a todas as coisas, até está bem arrumado e com isto só o vamos desarrumar. Isto levará a uma frustração sem fim quando perceberem que as causas nem sempre explicam os fins e que temos de seguir em frente porque a terra não parará de rodar.



Sofia Arriaga

 

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Sobre os tempos difíceis que vivemos

 Já era tempo de vir aqui deixar umas palavrinhas. Eu brinquei, há alguns dias, com a questão das exceções destes dois próximos fins de semana. Eu gosto de brincar, tentando sempre usar um humor que cura e não um humor que causa danos. A diferença é imensa.
Toquei ao de leve na ferida. E não critico, de todo, a necessidade de confinar. Para mim o estranho são as inúmeras exceções que desvirtuam a medida. Não entendo tanto burburinho à volta de 2 fds e numa ordem de recolhimento, que nunca foi uma ordem, mas um pedido e que se transformou numa discussão acesa sobre tudo e sobre nada. Será que não entendem que 2 fds fechados era sem dúvida muito melhor do que 4 ou 6 e arriscarmo-nos mesmo a não ter Natal? Tinha muita esperança que este fecho permitisse depois a abertura a tempo da altura do ano que está completamente associada à família. Agora já duvido muito. Já duvido de tudo, aliás. Eu já era daquelas que se sentia mal pelo uso e apelo ao ódio nas redes sociais, mas nunca tinha sentido isso tanto como agora. Quanto mais pressão, mais as pessoas se alteram e dizem TUDO nas redes sociais. Tudo. De facto, tenho lido de tudo e acho que não há dúvidas de que estamos com problemas sérios de saúde mental. Bolas, eu falo sobre essa questão há tanto tempo, mas infelizmente a minha voz chega a poucos. Então, volto a dizer que a nossa saúde mental está por um fio. Acho que contextualizado faz sentido. Eu sou uma contextualista e o contexto em que vivemos é propício a este "perder as estribeiras". Mas se sou contextualista, não sou de todo fatalista, ou seja, o momento que estamos a viver justifica muita coisa, mas não justifica tudo. Não sou a favor da inevitabilidade das coisas, nunca fui. Isto significa que acho que, perante a loucura que vivemos, há coisas que podemos fazer. Uma delas é afastarmo-nos de polémicas. Eu odeio polémicas e pode dizer-se que mantenho e que me pautuo por um estilo low profile. Enquanto eu pago para não estar metida em polémicas, há pessoas que dão um rim e dois dedos das mãos para poderem estar metidas numa boa controvérsia, para não dizer peixeirada. Será que devemos chamar os bois pelos nomes? A última é a hora de abertura de um dos grandes hipermercados. Sabem porque eu não comento? É que não tenho certezas de nada! Ponderando bem as coisas estou com alguma dificuldade em distinguir nos dias de hoje o certo e o errado. Para além disso, mesmo que, de facto, seja muito errado, o tempo de antena que estão a dar a algo que querem penalizar é grande como o caraças. Eu aprendi, sendo terapeuta que trabalha com a parentalidade, que devemos focar-nos nos comportamentos que queremos que continuem a acontecer e falarmos o menos possível naqueles que queremos erradicar. É simples perceber porquê. Estamos a dar atenção e espaço a comportamentos que devem ser ignorados, porque ao lembrá-los persistimos nesses comportamentos e, de alguma forma, fomentamo-los. Dentro da lógica "falem mal, mas falem de mim", uma grande, grande lição era ignorarmos aquilo que achamos que deve ser sancionado. Há muito poucos dias estávamos, quase todos, agarrados aos écrans a ver o desenrolar das eleições americanas. E, meus amigos, houve quem criticasse isso, porque devíamos era olhar para nós e irmos votar nas nossas eleições. Eu concordo com a mensagem de que estas eleições devem servir de exemplo. Que bom será se isso nos tornar mais civicamente ativos, com mais vontade de mudar o mundo, numa altura que o mundo está doente e grita por ajuda. Portanto, e como estava a dizer, o alerta de olharmos, depois disto, mais para nós, mais para dentro, é imperativo. Até me parece ser uma boa mensagem, de proatividade. Agora, o desdém perante aqueles que se agarraram a estas eleições como a última coca cola do deserto não faz sentido. Num ano tão negativo, numa última década em que tudo tem vindo a descambar, estas eleições, estes resultados trouxeram a sensação de ventos de mudança. Trouxeram a luz ao fundo do túnel que já ninguém estava a ver. Trouxeram a fé e a esperança a uma Humanidade doente e a colapsar. Portanto, que bom que foi podermos tirar uns dias para acreditar, para ficarmos felizes por eles e por nós, porque sim, num mundo globalizado o nós é cada vez mais importante ou, dito de outra forma, o eles também somos nós. Depois voltámos ao normal, ao novo normal que é o medo e a exaustão e a incerteza. Até aqui tudo bem. Mas porquê é que o medo, a exaustão, a incerteza têm de transformar-se em raiva e em ódio? É essa a nossa natureza, tal como a do escorpião? Não conseguiremos nós alterar isso? Estará mesmo na nossa natureza sermos assim? Reagirmos com raiva e ódio ao medo? Quero acreditar que não. Acho que um bom movimento não é unirmo-nos para boicotar este ou aquele. Não é por aí. Juntos podemos e devemos lutar pela consciência comunitária, mas mais ainda, por uma consciência individual. Para mim, o que faz mais sentido é criarmos o movimento por uma consciência que sensibilize, pela positiva, a necessidade urgente de cada um de nós fazermos o que está ao nosso alcance, para termos todos os cuidados necessários para que estes tempos difíceis sejam o mais breves possível. Se cada indivíduo fizer a sua parte, o grupo sairá vencedor e aí o todo voltará a ser maior do que a soma das partes. 



Sofia Arriaga


quarta-feira, 2 de setembro de 2020

My September - o mês das grandes mudanças

Setembro, sempre foste e continuas a ser um mês muito difícil para mim. Não é o voltar às rotinas que me incomoda. É muitas vezes o ter de passar à força de um estado de alguma paz, calma e serenidade, para momentos, contextos e situações que me criam tensão, medos e dor. Diríamos que re-começar nunca foi muito fácil para mim. Engraçado, eu que gosto da previsibilidade e de ter tudo controlado - não sei muito sobre isso, mas palpita-me que é de ser virginiana - gosto das férias e de alguma perda de controlo. Se bem que mesmo no dolce fare niente nunca soube realmente andar à deriva. Sinto que tenho uma alma perdida que não encontra o seu norte. Felizmente tenho lá em cima no céu, a minha estrelinha da sorte que me vai iluminando e guiando para nunca me sentir só. Não conseguiria isto sem ti. Obrigada, querida avó.
Como devem imaginar este ano é o ano. Só o consigo ver assim. Não quero ser hipócrita e dizer que foi tudo péssimo e desastroso ou que foi apenas mau. Não é verdade, isso seria injusto para todos e sem dúvida que o seria para mim. Este ano foi também um ano de muitas superações e também de muitos reencontros e de muitos recomeços. Com os outros. Comigo própria. Inclusivamente com a minha família, a quem aprendi a beijar mais, a abraçar mais, a estar mais presente, a dizer mais vezes e simplesmente "gosto muito de ti". Sabem que se pode estar mais perto, mesmo que distantes?
Setembro sempre foi para mim "o" mês mais esquizofrenizante, porque tinha de voltar a lugares onde não era feliz. Mas era também o meu mês, o mês em que nasci. Não escolhemos a data, nem onde, nem quando vimos ao mundo. Mas é suposto apoderarmo-nos dela, achá-la “a nossa” e acreditarmos que ela vai com o seu toque de midas transformar tudo em ouro e diamantes. Sempre com a certeza de que "este é que vai ser o tal".
Então por tudo isto, e para que não haja enganos, mais do que janeiro, é setembro o novo ano, a época mais especial, que sempre aproveitei para fazer balanços e apontar, pouco a pouco, tudo o que queria fazer de diferente. Mas este setembro é duro como nenhum outro. Imprevisível. Cheio de porquês e segredos. Setembro é sentido assim por mim e por muita gente. 

Quero ver-te vibrar, setembro! Quero que me faças sorrir. Ajuda-me no que é mais desafiante! Enche-me de resiliência e esperança, mesmo sabendo que nada será como dantes! Dá-me fé e confiança! Não quero viver daquilo que já passou. Não quero viver na saudade. Ajuda-me a saber quem sou!
Ajuda-nos a saber quem somos! 
Dá-nos mais humanidade!


sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Sol, Surf e Superação


Escrever este post levou algum tempo, porque é uma espécie de mixed feelings. É misturar coisas boas com memórias tristes, que deixam um sabor amargo na boca, ou talvez agridoce. Vou antes tentar transformar o ácido em salgado, porque sal nesta altura do ano só lembra praia, sol na pele, areia nos pés e também ondas gigantes na Figueira da Foz ou em Odeceixe, poisos onde faço ninho e onde fui e sou…onde somos muito felizes.
Não quero que este post seja sobre coisas tristes. Quero que seja um post sobre gente cool, sobre novas amizades, sobre resiliências e capacidades. Sobre Superação. Quando digo que é a coragem que nos corre nas veias, não vos engano, nem me engano a mim própria. Se bem que às vezes tenho de repetir isso mil vezes, tal mantra ou ladainha, porque nem sempre entra à primeira. É verdade que desconfio da felicidade instantânea, empacotada, servida de rajada. E o pensamento positivo não é rotineiramente o meu melhor amigo. Sou das que tenho de treinar e treinar e treinar. Persistir para acreditar e continuar a tentar. Com frases, risos e focalização nas coisas boas da vida. No fundo tudo se resume a isto. Para mim é esta a grande metáfora e o segredo tão bem escondido. Treinar, treinar, treinar o pensamento positivo. E do complicado se faz simples!
Andei muito tempo a adiar o pedido do meu filho mais velho para fazer surf. Isso, porque o queria proteger, porque tinha medo, porque não queria que sofresse. Sim, nós as mães temos esta mania de proteger os filhos. Claro que isso é bom e é bem visto. Ficará sempre a dúvida de qual é o perfeito equilíbrio. O equilíbrio entre o proteger e o deixar voar e deixar cair. Às vezes ajudar a levantar. Outras vezes só ficar a assistir, porque é importante a queda. Porque é igualmente importante a capacidade de erguer-se de novo e até de renascer das cinzas.
Se sou mãe galinha? Nada. Nada disso. Mas o meu filho teve um AVC quando era pequenino e isso trouxe-lhe alguns problemas de mobilidade. Daí que haja coisas que ele quer fazer e eu ache que ele não vai ser capaz. Algumas vezes digo-lhe de caras, porque todos temos de saber lidar com as nossas limitações, as nossas incapacidades, os nossos defeitos. Outras vezes rodeio…porque sim, porque sei lá…ser mãe também é isto. E há outras vezes que o deixo ir, acreditando ou não que ele vai conseguir. Talvez não seja capaz de conseguir, mas será sempre capaz de tentar. 
E este foi o ano 20.20. O ano das grandes revoluções. Para além do que vivemos em conjunto, cada um terá a sua.
Então…procurei, procurei, procurei. E houve unanimidade nas informações colhidas. Toda gente me disse para ir ter com o Iuri, que ele era o melhor instrutor, que consegue o impossível, que já pôs pessoas com diversas deficiências a surfar. Com pranchas adaptadas e diabo a sete. Com o Iuri o impossível deixa de existir no dicionário. É daquelas pessoas que só quer concretizar sonhos. Quer e consegue!
Eu ia a medo. O Afonso ia feliz. O Iuri foi maravilhoso. E afinal o meu primogénito não precisava de mais nada a não ser de ter uma mãe “com eles” também no sítio. A atenção do professor foi essencial. E logo ali percebi que ele tem este cuidado com todos os miúdos. Ao fim da terceira aula, o Afonso estava capaz de “voar” sozinho.
E eu vivi tudo como se fosse comigo, com as emoções à flor da pele. Emocionada pelo apoio do Iuri e pela determinação do Afonso. Emocionada por perceber que os medos se podem transformar em coragem e que tudo, TUDO é possível quando se quer muito.
O facto de contar este episódio relembra-me momentos menos bons que fazem parte do nosso passado e fazem parte de nós, que foram passado, mas também fazem parte do presente e fá-lo-ão do futuro.
Mas não, não é definitivamente uma história triste. É sobretudo uma história feliz, sobre dias felizes, sobre dias de sol, de surf e de superação.
Obrigada Dude Surf School. Fizemos amigos para a vida. 


 https://www.facebook.com/dudesurfschool/


https://www.instagram.com/dudesurfschool/











terça-feira, 28 de julho de 2020

15 anos de blog

Incrivelmente faz hoje 15 anos que esta aventura começou. E que aventura!! Tinha o Manel 1 ano! Hoje tem 16! O Afonso tinha 4. E eu só tinha 29. Ia fazer 30 um mês e pouco depois. Que loucura. Tanta vida dentro desta vida. Tantas experiências, tantas emoções, tanta alegria e tanto sofrimento também. Alguns desgostos, vá.
As voltas foram tantas que já me esqueci de metade. Ainda bem. Não podia ser de outra maneira. O nosso sistema de armazenamento de informação, a memória, é como um computador. De vez em quanto temos de fazer delete, para que a máquina continue a funcionar devidamente. Dizem que é libertar espaço.
Lembro-me de quando começou. Lembro-me que mudou de nome 3 vezes durante o percurso. Lembro-me que só parou em 4D quando a Concha, a última dos 4, vinha a caminho.
Começou por ser um anti mommy blog. Tinha 29 anos. O Afonso tinha tido um avc 7 meses antes. 7 meses insanos. E eu queria escrever sobre tudo, menos sobre crianças e famílias. Era um escape. Mal sabia eu, ou talvez lá no fundo sempre soubesse, que eles iam ser o palco desta peça a que chamamos viver, durante muito e muito tempo. Eu, eles, as nossas peripécias, os sítios que visitávamos, as coisas que usávamos...e as pessoas queriam saber. Tiravam dicas, vibravam e usufruíam do que postava. E percebi, não logo logo, mas depois, que era uma influencer, na altura em que esse nome nem existia.
Sim, eu fui do tempo dos blogs serem muito desacreditados. Não eram nada. Não se sabia o que realmente eram. Ainda não tinham um nicho, encontrado o seu espaço. Os que não escreviam achavam que os bloggers tinham a mania que eram escritores. Que tinham a petulância de juntar letras num écran de computador e autodemonimarem-se de escritores. E o que chateava a malta é que estavam acessíveis. À mão de semear. Bom, se não eram escritores eram espertos, Chico espertos. Ai como se achou que Portugal era o reino da chico espertice. Por isto e por tanta coisa mais. Ainda não nos tínhamos apercebido que o nosso país irmão, por exemplo, já andava nisto há algum tempo. Nisto, do mundo dos blogs. E estava a resultar. 
Bom, se olharem para nós como escritores foi difícil, então verem-nos como figuras de destaque, targets com que as marcas deviam trabalhar para promover produtos, foi o fim do mundo. Devíamos fazer esses favores às marcas e pronto. Não devíamos ter a ousadia de querer dinheiro em troca. Quanto muito as marcas ofereciam um miminho. Porque queriam. Não porque era uma prestação ou uma troca de serviços. Não foi fácil. Nada fácil.
E eu? Em que categoria eu estava? Acabou por ser a Família, tendo até recebido o primeiro prémio num concurso Nacional de blogs.
E sim, fazia sentido. E um blog que tinha começado por ser de poesia e de política, passando depois a um blog de mães e filhos. E foi tão bom. Conheci tanta gente, fui a tantos sítios, vivi tanta coisa por causa do blog. Ter trabalhado com a C&A, com a La Redoute, com a Zippy, com a Mattel, com a Milupa, com a Staples, com a Lego, com o Oliveira da Serra, com a Roventa, com a Tefal...foi o ponto alto desta, talvez, carreira. E as feirinhas, os mercadinhos. Juntar 2000 pessoas no mesmo espaço? Sem rede, sem equipa, apenas eu. Que tempos, que tempos!! 
Mas eu não era só isso. Era psicóloga clinica, coach, terapeuta familiar e de casal, terapeuta do divorcio e mediadora de conflitos. Professora universitária. Tanta coisa. Era tanta coisa. Múltiplos eus. Tinha tanta coisa que queria partilhar, dar a conhecer, fazer pensar. E como fazer tudo sem me perder, sem perder sentido? Não sei. Apenas fui indo. Fluindo. Umas vezes melhor outras vezes pior. Umas com mais graça, outras em tom mais sério. Tentando não cair em desgraça. Preferia o esquecimento.
E os blogs, de serem mal afamados passaram para o estrelato. Eram o máximo. De se comer, termo tão utilizado no momento. E depois de serem in, voltaram a estar out. No fundo parece que voltaram ao inicio, a uma espécie de limbo. É o ciclo do eterno retorno, como sempre disse Zaratustra. Ou o Gary Jules na letra do Mad World. Caramba, que geração de ouro nós somos. Passámos por tanto. Era pré e pós internet. O velho e o novo mundo. E nós no meio disto tudo.
Quero muito reactivar o blog. Haja é tempo para isso. E algum feedback da vossa parte. Manter-me ainda aqui, diria que é uma espécie de arte.
E é assim. E é isto. Ia fazer 30 um mês e meio depois. Foi aí que tudo começou. Agora vou a caminho dos 45. Engulo em seco, confesso. E não consigo resistir a dizer...se eu soubesse o que sei hoje!!!
Bom...Beijos e abraços. Obrigada por tudo. Por TUDO. Obrigada pela companhia. Obrigada pelo carinho. OBRIGADA pelo caminho percorrido.
E, no ano mais louco de todos, termino dizendo, como não podia deixar de ser, como o nosso querido Bruno Nogueira, vá vão para dentro.





quinta-feira, 2 de julho de 2020

O vírus e a saúde mental

A pandemia fez aumentar muito as ansiedades, as paranóias, os medos, as inseguranças e as incertezas. A cabeça não pára de pensar, os pensamentos intensivos negativos não pararam de chegar. São demasiados meses a sentirmo-nos a jogar um jogo sem fim, uma espécie de roleta russa. A vida não pode ser assim tão aleatória. Para podermos ter estabilidade, a todos os níveis, precisamos de sentir mais controlo sobre o que se passa connosco, o que acontece à nossa volta, o que vai acontecer no futuro. Como fazer planos para depois, se não sabemos, literalmente, o dia de amanhã?
As mudanças de humor são naturais nos tempos que vivemos. O pânico ronda, com pequenas ou grandes crises, mas não tenhamos dúvidas, sempre com impacto nas nossas vidas e naquelas que nos rodeiam.
As relações mais frágeis não aguentaram o stress, a pressão, o confinamento. Até as mais saudáveis se ressentiram. Não tenham dúvidas do enorme impacto que o Bicho teve em todos nós.
E agora vivemos no limbo. Como reagir?
Continua a ser muito importante termos cuidado, termos os cuidados que tivemos e que nos ajudaram a sobreviver.
Os meus conselhos para Julho são: prudência, prudência, prudência.
Apanhem sol, bebam uma mini, estejam com amigos. Com prudência. Comecem a viver, a conviver, como se costuma dizer, com muito cuidadinho. Façam um pouco como a cigarra, aproveitem a vida, celebrem a vida, mas façam também como a formiga, trabalhem para se protegerem do que ainda está para vir.
No fundo a mensagem é esta: não descurem a vossa saúde mental. Trabalhem e reforcem o vosso telhado, ou as vossas estruturas, que podem ter colapsado. Sim, todos os nossos telhados pareceram de vidro ou de palha, nestes últimos meses.Vamos transformar o vidro em telhas, mais fortes e resistentes. Se sozinhos não conseguimos e chamamos o pedreiro, porque não chamamos também o psicólogo para nos ajudar a recuperar?

Os casais, as férias, a importância e o impacto da terapia e ainda o segredo dos casais felizes




(entrevista tripartida concedida a Júlia Pinheiro)



  1. Existem estudos que apontam um aumento da taxa de divórcio após um período de férias. De acordo com a sua experiência, concorda?
    Porquê? Quais as razões?
  2. Na Dinamarca, segundo publicado recentemente, os casais que se pretendem separar serão obrigados a esperar pelo menos 3 meses e a frequentarem terapias de casal.
“Trata-se de reduzir os danos humanos e financeiros do divórcio, justifica Gert Martin Hald, psicólogo e professor de saúde pública da Universidade de Copenhaga, que ajudou a conceber as sessões de terapia obrigatórias”, cita um artigo da Visão.
Isto faz-lhe sentido? Faria parte de uma equipa como esta, em Portugal?
  1. Quais as grandes mais-valias da terapia – o que fazemos na terapia que não conseguimos fazer, em casal, em casa?
  2. Este projeto da Dinamarca visa diminuir o custo económico dos divórcios. Além deste custo, psicólogos dizem que o divórcio é dos momentos mais stressantes da vida. Concorda?
  3. Pode contar-nos um caso que tenha acompanhado e que tenha superado a sua crise com terapia? Pode apresentar-nos o casal, contando alguns detalhes – protegendo a privacidade, claro.
  4. Qual é o segredo dos casais felizes?



1 - Faz sentido, sim! Por um lado, olhamos para as férias ou para o período pós-férias como o início de um novo ciclo, dado que a nossa vida e a dos nossos filhos é mais marcada pelo ano escolar do que pelo ano civil.  Setembro é como se se tratasse, de facto, de uma nova fase, de um novo re-começo. Daí que apareçam nesta altura mais pedidos de divórcio e também, simultaneamente, mais pedidos de terapia de casal.
Há ainda uma outra questão a ter em conta. As férias, apesar de tão desejadas, acabam por ser uma altura de crise, em muito devida ao tempo que o casal passa junto, situação que normalmente não é habitual. Embora nos queixemos sempre que os empregos nos consomem, a verdade é que o trabalho é um escape para os problemas familiares, que ficam ali em standby durante muito tempo, ou seja, numa espécie de adormecimento, que as férias faz despertar. O casal, tanto enquanto par conjugal, como enquanto par parental, não está, na maioria das vezes, habituado a gerir esse tempo, o que pode realçar as dificuldades comunicacionais e as dinâmicas empobrecidas em que vive como casal e como família.
Conheço casais, dentro e fora do âmbito terapêutico, que desabafam a sua contrariedade de não terem internet nas férias. Falta-lhes a hipótese de triangular com o que lhes é habitual: trabalho, televisão, telemóvel, etc., - e assim este tempo que deveria ser feliz, porque devia fortalecer laços é, por vezes, sentido como uma grande dor de cabeça. Há mais tempo livre e muitas vezes não sabemos o que fazer com o tempo que temos.

2 – Parece-me importante a intervenção antes do divórcio, mas o que eu gostava mesmo de integrar era uma equipa de prevenção e não de intervenção. Não temos por hábito trabalhar antes de o “mal estar feito” e ganharíamos muito com isso. Um processo de ajuda com jovens ou menos jovens que decidem casar, ou seja, um projeto pré-nupcial, não seria mais proveitoso e, aí sim, com menos gastos, a nível económico e menos perturbações a nível da saúde mental? Aprender a viver com alguém não é fácil e só se procura ajuda quando já é muito difícil alterar padrões comportamentais, quando o amor se desgastou, quando as formas de pensar rigidificaram. Esse projeto da Dinamarca parece-me mais uma espécie de terapia do divórcio ou mediação familiar, para que haja mais divórcios por mútuo consentimento, para que o casal se consiga separar o mais amigavelmente possível e de forma mais resiliente, o que também é fundamental.

3-Na terapia há alguém a mediar, há alguém que tem um olhar mais neutro, menos enviesado e sobrecarregado sobre as vivências do casal. É como se fosse sangue fresco. Esse alguém vê de fora e consegue, por isso, ter uma visão mais sistémica das dificuldades e potencialidades do casal. Para além disso, se  casal é o perito na sua vida, o terapeuta é o perito no processo terapêutico e sabe como questionar, como desafiar e como pôr  a pensar; sabe como pedir algumas mudanças. Em terapia, lado a lado com um terapeuta, o casal muitas vezes aceita tarefas, fora ou dentro da sala de consulta, o que em casa e “per si” não fariam, fosse por teimosia ou por acharem que não eram capazes ou que não lhes fazia sentido. O facto de estarem perante alguém que eles consideram um especialista, ajuda muito no processo terapêutico.

4- Sim, sem dúvida. Um divórcio é um dos grandes momentos de crise do casal. São planos de vida, muitos projetos que chegam ao fim. Todos os envolvidos sentem que falharam e é preciso trabalhar muito bem a questão das responsabilidades partilhadas, da auto-imagem, da auto-estima, das dependências, das redes de suporte…
Já agora gostaria de dizer que casar ou ter filhos, por exemplo, constituem também momentos muito stressantes. A crise está associada ao stress que esses momentos, essas etapas acarretam. São, sem dúvida, mudanças grandes, para um estádio diferente. Muitas vezes só associamos o stress a uma carga negativa, mas há muitas crises, ditas positivas, que mexem muito connosco, porque mudar dói, aflige-nos, põe-nos em causa enquanto seres humanos, cônjuges ou pais. Mesmo que essa mudança seja muito desejada.
Agora vamos imaginar o que é mudar para algo que não queremos. Há casais que ficam paralisados nessa dor e não conseguem avançar. E, por vezes, com medo da mudança não se separam, mas também não procuram ajuda para que ainda possam continuar juntos. Assim, a vida anda sem andar, muda-se sem mudar e, é claro, que isto não é uma solução.

5– São várias histórias, várias vidas que já me passaram pelas mãos e que tive a honra de poder ajudar. Fica difícil escolher só uma.
Há situações, como a da infidelidade, que são  muito difíceis de gerir. Tem de haver uma enorme vontade da parte de ambos de ficarem juntos, uma enorme vontade de perdoar e seguir em frente, sendo o amor o que os liga e não desejos de vingança ou o medo de ficar sozinhos. É preciso trabalhar a confiança, restaurar a confiança, pôr uma grande ênfase no compromisso (tal como a terapia em que os alcoólicos se comprometem a não beber). É preciso praticar o letting go. Não é esquecer, é assumir que se quer continuar um projeto de vida e que o que aconteceu não pode servir como arma de arremesso.
Quem é traído sofre horrores, mas, paradoxalmente, passa a ter um poder na relação que não tinha até aí. Todas as brigas vão parar a essa traição, tenham ou não tenha a ver com isso. Mas, este poder tem de ser re-equilibrado.
É certo que a maioria dos casais procura terapia praticamente logo que descobrem a traição. Contudo, lembro-me de um casal que só iniciou a terapia 15 anos depois do episódio de traição. O pé de chumbo do passado não os deixava seguir em frente, impedia-os de serem felizes. E cada vez que havia um problema sobre quem fazia as compras para a casa, sobre quem levava o lixo à rua, rapidamente entravam numa escalada que ia parar ao que tinha acontecido 15 anos antes, que nunca tinha sido realmente ultrapassado. Foi preciso algum tempo para que falassem durante a sessão, ventilassem todos os sentimentos, até que se chegou ao perdão e ao compromisso de deixar o passado no passado. Foi preciso focalizarmo-nos no presente e no futuro. Aprenderam que discutir podia ser saudável, desde que aprendessem a discutir de forma justa, onde um dos pontos essenciais era restringirem-se ao assunto da discussão, mesmo que tivessem muita vontade de ir buscar o que tinha ficado lá atrás.

Lembro-me ainda de outra história, em que o casal estava por um fio devido à intromissão das famílias de origem. Muitas vezes esquecemo-nos que quando casamos, não casamos apenas com aquela pessoa, mas com a sua família também. São novos laços que se criam, muitas vezes de uma forma quase instantânea.
A relação entre sogra e nora realmente perturbava a relação do casal. Havia um marido, que ao mesmo tempo era filho e permitia que a mãe interferisse em demasia na relação conjugal. Foi muito importante trabalharmos limites,  construirmos um nós conjugal e trabalharmos as lealdades divididas – este senhor sentia que se defendesse a esposa estava a ser “infiel” à mãe. Era preciso criar então o tal modelo de conjugalidade. O casal teria de ceder um pouco o seu espaço e abrir-se à entrada dos sogros na sua vida, mas também fechar-se, em certos momentos, como uma ostra, para que pudesse ter as suas regras e o seu próprio tempo apenas a dois.
Usámos uma ferramenta muito útil que foi o genograma, que é uma espécie de mapa, um utensílio visual que permite ver o lugar de cada um na família e as relações que se estão a estabelecer, que podem reforçar ou prejudicar a conjugalidade. Este genograma foi feito com o casal e só de o fazerem e visualizaram tiveram logo uma imagem muito mais clara do que estava a acontecer. De facto, relações presentes e passadas afetam sem dúvida a forma como o casal vive a sua conjugalidade.
Perceber o que se passava estava percebido, mas agora era preciso passar à ação e sem mudança de comportamento não haveria uma verdadeira mudança. Um momento chave do processo terapêutico foi quando os sogros foram convidados a participar numa sessão. Com a ajuda do terapeuta conseguiu falar-se de fronteiras, limites, de espaço, de áreas comuns e de áreas afetas apenas ao casal. Foi importante mostrar que algum distanciamento era necessário e não significava falta de amor ou de respeito pelos pais. Os próprios sogros falaram da relação que tiveram com os seus sogros. Muitas vezes focamo-nos em algo particular e esquecemo-nos de ver o quadro geral. Levaram como metáfora que o cordão umbilical é preciso ser cortado várias vezes ao longo da vida, mas que nenhum amor substitui outro.

6- Quem me dera que houvesse uma fórmula mágica para fazer os casais felizes. Ou quem me dera que fosse assim tão simples. Mas esta questão, quanto a mim, é mesmo uma faca de dois gumes. Quando começamos, enquanto terapeutas, a achar que os casos ou os clientes são todos iguais, ou que a fórmula de resolver os seus problemas é idêntica, deixamos de ser os terapeutas que poderíamos ser. Deixamos de ouvir as pessoas com curiosidade genuína, como se cada caso fosse, de facto, único. E quanto a mim é isto que deve passar cá para fora: cada caso é único, com as suas particularidades, diferenças e idiossincrasias. E neste caso tenho de dizer que não há uma fórmula mágica.
Agora, há, de facto, algumas dicas que podem ser seguidas, que podem ajudar a que os casais não cheguem ao ponto de rutura, que é como muitas vezes chegam quando vêm pedir ajuda.
Começo por dizer que, muitas vezes, são mais saudáveis os casais que discutem do que os que não discutem. Calma, discutir não é gritar, não é ofender, nem magoar, não é fazer drama. Mas, de facto, há casais que não discutem porque têm um medo enorme da perda de controlo. Vivem sob o mito de que casais felizes não discutem, estão sempre de acordo, o que leva a uma espécie de autofagia. As discussões são engolidas, os descontentamentos são engolidos e isso pode gerar problemas psicossomáticos ou, quando estoirar, levar mesmo ao fim da relação. É preciso discutir sobre nós, sobre objetivos de vida, sobre planos, sobre prioridades e, inclusivamente sobre quem faz o quê em casa. Sem discutir instala-se um vazio que à primeira vista parece ser confortável, mas que corrói por dentro. Não discutir com medo da rutura, infelizmente leva muitas vezes a essa mesma rutura.
Por outro lado, quando discutimos estamos a dizer ao outro “Tu estás errado. Ouve o que tenho para te dizer, vais mudar de ideias”. Isto significa que ainda nos preocupamos com o outro, com o que ele pensa, sente e diz. O silêncio é uma das mais perturbadoras distorções da comunicação humana. É olhar para o outro e não o ver, é como se se passasse a mensagem “Já não quero saber o que pensas; já não significas nada para mim”.
Portanto, um casal mais feliz é o que fala, o que discute ideias, que comunica, que não fala só de conteúdos, mas da própria relação, que tem tempo para se ouvir, que arranja tempo para o “nós”.
Os casamentos dão luta, têm de ser alimentados e trabalhados. Já tive alunos meus, futuros psicólogos, que diziam que se dá trabalho é porque não é o tal. A esses peço desculpa de tirar toda a visão romantizada dos casamentos e das relações, mas qualquer relação importante na nossa vida dá trabalho. Nada que nos acontece é um dado adquirido e muitas vezes, só depois de algum tempo com determinada pessoa, a vemos tal como é.
Numa relação têm de haver cedências, equilíbrios, limites, empatia, tem de haver espaço para o nós, ou seja, para o casal enquanto entidade, mas também para cada um dos elementos do casal, porque têm personalidades distintas e porque devem ter uma vida para além do nós. Também há casais, por estranho que possa parecer, que estão juntos e nunca construíram o nós conjugal. Têm amigos diferentes, hobbies diferentes e não há nada que gostem de fazer juntos. Haver espaço para o eu, o tu e o nós é, a meu ver, um bom prognóstico para um final feliz.
E tanto haveria para dizer! Eu aconselho sempre a qualquer casal que se riam um com o outro. Casais mais felizes são os que riem juntos. Façam surpresas, arranjem tempo e relativizem as discussões – pensem sempre que num casamento, se um perde, ambos perdem.
Experimentem a fazer um círculo, uma espécie de pizza com várias fatias. O tamanho da fatia é o tempo “gasto” naquela relação: trabalho, filhos, amigos, comunidade, cônjuge. Qual é a fatia mais pequena de todas? Muitas vezes ficamos surpreendidos quando percebemos que é com a nossa cara metade  que passamos menos tempo, do dia, da semana, do mês. E  pior ainda, muito desse tempo serve para falar das questões do dia a dia, do dinheiro, dos filhos…e não sobre si, enquanto casal. No tempo de namoro havia bilhetes e mensagens e surpresas…para onde é que isso foi?
Aproveitem as férias para colocarem em prática algumas destas sugestões. Quem sabe se este passar mais tempo juntos não poderá ter agora outro sabor? Quer ter sempre razão ou ser feliz? É a pergunta que lhe deixo em jeito de despedida.









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