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terça-feira, 4 de agosto de 2015

O teu futuro é hoje



Futuro. Presente. Passado. Por vezes meio desfocado, porque as memórias formam borrões e distorcem um pouco a realidade. Já pensaram que só vemos o que queremos ver?
Futuro. Presente. Passado. Todos temos uma mala que carregamos connosco, uma bagagem por vezes demasiado pesada, algumas curvas sinuosas com sabor a fado.
Quando nascemos, nascemos sempre da estória de alguém. Chamemos a isso amor, acaso ou continuidade. E no fim faremos sempre parte de uma estória maior e teremos sempre também a nossa própria estória, um enredo-que-podia-ser-um-filme, com mistura de açúcar e sal. De facto, a vida é feita de múltiplas narrativas que se entrecruzam, que se interligam, que coexistem. Para o bem… e para o mal.
Vivemos quase sempre como se fossemos personagens de um livro já escrito, um guião dominante do qual não podemos fugir nem escapar. Nunca deram por vocês a pensar “Quero mais, quero tudo, quero o que ainda não veio, o que ainda não chegou, se atrasou… não pode ser tarde demais!”?
Muitas e muitas vezes, vezes sem fim, deixamos escapar outras leituras, outras construções, outras possibilidades. São as nossas estórias alternativas. As que deixámos na sombra, por não encaixarem, por parecerem desgarradas do resto, por sentirmos que não as merecíamos, porque tivemos medo, ou simplesmente porque não demos por elas.
Se resgatarmos estas estórias podemos criar outros caminhos, outras conclusões, outros finais.
Se olhares para o passado é para pensares no que ainda te falta fazer, li algures. E eu acrescento, se olhares para o passado é para olhares com atenção, para aqueles momentos em que o guião podia ter sido outro, que foi outro, mesmo que por breves instantes. Pensa no que foi diferente, no que podia ter sido diferente, no que podes ter deixado escapar. Mas olha bem, sem medo. Usa o que podes. Usa o que tens. E pensa que o pior cego é mesmo aquele que não quer ver.
Não esperes que a vida se resolva sozinha. Tu és tu e as tuas múltiplas encruzilhadas, as tuas múltiplas lentes, as tuas múltiplas verdades. O teu multiverso – seja lá isso o que for.
Não esperes que a vida se resolva sozinha. Não queiras ser apenas feliz no futuro. O futuro é agora. O teu futuro é hoje.




Este foi o segundo texto que escrevi para a Maria Capaz e que saiu hoje mesmo. Mais um orgulho.

sábado, 1 de agosto de 2015

Joana Bento Photography Take II



Arriscar é o nome do jogo.
Arriscar colocar o destino nas nossas próprias mãos.
Que corajosos somos quando fechamos o ciclo e nos permitimos ser felizes de novo.
O mais importante de tudo? Gostarmos de quem somos no final de mais um dia.
O maior amor de todos? O amor próprio.



Ouvir aqui



















Fotógrafia: Joana Bento
Make up: Kris
Corte e coloração: Marisa Imagem

ver também: http://avidaa4d.blogspot.pt/2015/07/joana-bento-photography-take-i.html

"AVC em crianças, casos raros, mas reais"

Por ser cada vez menos raro, porque as crianças não estão imunes, porque já passámos por isto, não posso deixar de partilhar.
Estou a passar uma fase particularmente difícil com a mudança de escola, de uma escola mínima para uma escola enorme. Vai para o 10. ano e a 1 mês de fazer 4 o nosso mundo foi abalado como um tsunami - e tinha outro filho com 7 meses na altura. E de repente eu desdobrei-me em duas, desdobrei-me em dias, em muitas e realmente quase com dupla personalidade. E não, nunca recebi sequer um cartão ou um ramo de flores do meu local de trabalho. Tinha um filho com 7 meses que cresceu mais por sua conta e risco, porque estávamos todos focados na doença e nas sequelas. E é o meu filho mais sensível, o que tem alma de artista. E também estivemos a fazer o luto por uma melhoria que nunca iria chegar. Só que sem flores e sem condolências. O luto do filho imaginário, que foi real durante 3 anos e 11 meses, para o filho real, que era um novo filho. Só para que tenham uma ideia, um miúdo que aos 3 anos escrevia o nome todo com a mão esquerda, que fazia tudo à esquerda e que ficou com o lado esquerdo paralisado. 
O Afonso tinha uma artereopatia intracraniana, que com o tempo ia acabar por se resolver. Mas o tempo não deu tréguas e antes disso presenteou-o(nos) com um avc isquémico, um ait, um diagnóstico chamado MoyaMoya e a inevitabilidade de uma morte prematura, horrível. Já em Santa Maria a certeza de que não era isso, a incerteza do que seria. Foi uma médica em Londres que fez o diagnóstico. O problema do Afonso era essencialmente físico/motor. E começaram anos de reabilitações que não resultaram em nada.
Mesmo assim foi submetido a testes psicológicos, e acabou por entrar mais cedo no 1. Ciclo.
As sequelas físicas não vão desaparecer. Nunca. Parece uma coisa menor, não parece? E até é. Mas custa mais do que possa parecer. Se ficaram outras sequelas, outras formas de ser, nunca saberemos. Se ele é mais desligado e apático em relação a tudo o que não lhe interessa, por causa do avc, ou simplesmente por ser uma característica dele, nunca saberemos. 
A parte mais triste é a ignorância e a falta de humanidade de algumas pessoas, curiosamente das mais crescidas. Uma das coisas que já me marcou muito? Uma mãe que foi falar com a professora de educação física por não perceber como é que o meu filho tinha tido 5 e a dela só 4. Há planos individualizados, sabem? E mesmo que não soubessem, tinha feito muito melhor figura se tivesse ficado calada. Será que ela não parou um minuto para pensar que eu daria tudo para que fosse ao contrário?
Cada nova etapa é um medo cá dentro. Cá dentro do coração da mãe. Ele está desejando de voar.
O Afonso teve 3 a Matemática no exame de 9. Ano e 4 a Português. Os serviços de psicologia e orientação dizem que tem um excelente desempenho intelectual e um desempenho mnésico com excelente performance. Mas isso não se nota nas notas. Um 3 é mais do que suficiente para ele. Talvez não tenha espaço mental, como os psicólogos têm a mania de dizer, para pensar nas coisas da escola, quando a cabeça dele é povoada por dúvidas e interrogações e outros interesses. Se estas incongruências se devem ao avc? Temos de aceitar que NUNCA saberemos.

Tenho medo do bullying, tenho medo do futuro. Mas o meu maior medo é que vos aconteça a vós e que não estejam preparados. Tinha 28 anos e olhei para isto tudo como um boi para um palácio.
Por isso partilhem, divulguem. Dêem a conhecer doenças raras, que de raras têm cada vez menos.

Bem-hajam




Mil obrigadas por todos os comentários LINDOS que me deixaram no facebook.

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