Setembro é, por excelência,
o mês de começar de novo, e de tudo o que isso implica.
Saltamos do 31 de Agosto
com um misto de tristeza por tudo o que estamos a deixar para trás, de
saudosismo por todos os Setembros da nossa vida, de nervoso miudinho pelo que
sabemos que nos está a aguardar e também com muita alegria, principalmente para
os mais afoitos e de espírito aventureiro e tenaz. Ou simplesmente para os bem
resolvidos da vida.
Já não sou aluna, embora
sinta que estarei sempre a aprender. Mas sou professora e para mim também
começa ou recomeça tudo por esta altura. Vivo estes dias com a expectativa de
saber o que aí vem, como vão ser os novos alunos, como vai ser a nossa relação,
como vai estar a minha vontade de ensinar.
E talvez porque sou professora,
ou apenas porque sou pessoa, acho que se torna inevitável fazer o balanço dos
dias e que as memórias do início de tudo, dos primeiros momentos de escola a sério,
da primeira entrada na sala de aula, do primeiro olhar, renasçam agora em força
e nos façam viajar no tempo e recordar.
E vocês, lembram-se da
vossa escola? Do início das aulas, ano após ano? Da carteira à vossa espera, do
quadro negro pronto para ser novamente utilizado até à exaustão, dos apagadores
e do pó do giz e das cadeiras que pareciam de madeira mas que afinal eram só
imitação? Lembram-se dos cheiros? Dos passos da professora e das correrias no
recreio? Dos risos e das cantilenas, da vontade e dos bocejos? Lembram-se das
caras, dos nomes, dos bilhetinhos trocados ou do tímido primeiro beijo? Das
régua, das reguadas, dos medos e do respeito? Das mãos da mãe no momento do “até
logo” e das mil sensações a explodirem-vos no peito. Lembram-se?
Estas memórias podem ser
felizes ou tremendamente angustiantes.
A memória é um tesouro que
deve ser partilhado. E são recordações como estas que nos fazem ser quem somos.
O que escolhemos esquecer e o que escolhemos lembrar vai fazer toda a diferença
na construção do nosso self – o que somos, o que fomos, o que preferimos ser e
o que podemos ser num futuro ainda possível, está tudo ao alcance da nossa mão.
E agora sou mãe e tenho os
meus filhos a passarem por isto, a construirem as suas memórias, a começarem ou
a re-começarem as suas histórias de vida escolar. Desde o mais velho que vai
agora para o sétimo ano, à mais pequenina que vai entrar pela primeira vez no
colégio.
E o que desejo, acima de
tudo, é que os meus filhos, e os vossos, entrem sem medo em mais uma etapa do
seu percurso académico. Sei que alguma apreensão faz parte, mas quero acima de
tudo que entrem com entusiasmo pela nova aventura que vai agora começar. Quero
acima de tudo que se não souberem alguma coisa lhes digam que não é o fim do
mundo; que os façam sentir únicos, com os seus talentos individuais, com o seu
percurso tão próprio, com a sua energia tão especial.
Desejo que tenham hoje e
que vão tendo sempre professores que adorem ensinar e que ensinem aos seus
alunos a amar a aprendizagem e o conhecimento; que compreendam que as crianças
não estão sentadas em linha, à espera de se tornarem adultos e que não se pode
pedir aos mais pequenos que fiquem quietinhos e com atenção mais de uma hora
seguida; que saibam que as crianças trabalham muito melhor quando gostam do
professor, que falar de afectos é meio caminho andado e também que as
capacidades da memória se desenvolvem muito mais facilmente através do jogo, dos
risos, dos abraços e beijinhos do que através da repetição mecânica e enfadonha
das lições.
Espero que cresçam cheios
de conhecimentos, mas sobretudo com formação interior, com espaço no coração
que lhes permita fazer face a dificuldades, a responsabilidades, aos desafios
da vida.
Desejo acima de tudo que
cheguem a casa cheios de vontade de contar coisas sobre todas estas vidas e
estórias entrelaçadas, que são agora mais deles do que nossas, das quais vamos
fazendo cada vez menos parte.
Espero, afinal de contas,
que cresçam felizes, com memórias felizes dos dias coloridos da infância.
E ainda que cada recomeço
seja celebrado e que cada celebração seja sentida como um re-começo. Uma nova
possibilidade.
Texto escrito a convite da Zippy, que celebra por esta
altura, com todos os pais e filhos, também este recomeço. E porque ainda esta semana temos
passatempo, estejam atentos.
9 comentários:
Querida Sofia,
Mais um ...daqueles .... muito mas muito BOM.....
Cheio de verdades e carregado de emoções....mais um que enche corações
bjns
Raquel
Para mim não há cá resoluções de Ano Novo em Janeiro. Há resoluções de Setembro! E acho que é assim com meio mundo.
É verdade que os meus anos de primária não foram assim há tanto tempo, mas há situações que me lembro como se tivessem acontecido ontem. E outras que simplesmente se foram, com muita pena minha.. E a pena que tenho da minha escola primária ter fechado porque juntaram várias numa só =(
E o título deste lindo texto é tão mas tão verdade. A vida é mesmo um eterno re-começo. E neste Setembro espero que parte da minha recomece de novo! (:
E que os petizes comecem ou re-comecem com a mesma alegria que nós o fazíamos! Mas, por favor, sem cantarem "É sexta-feira, já sei de cor a turma inteira..!" =X
***
Que belo texto!!!Linda a mensagem!***Como eu adorava a escola, que saudades dos recomeços em Setembro...***
Tão certo e tão verdade.
E um beijinho de parabéns :)
Adorei o texto! Adoro relembrar os momentos! Consigo lembrar-me tão bem do 1º dia de aulas da 1ª classe! Do sorriso e da paz da minha professora, de como ficava nervosa e vermelha se tinha que "ralhar" com alguém. Das cantilenas do recreio. De como as secretárias pareciam grandes. Dos ditados e de ir ao "quadro" ;)
Eu faço anos em Agosto, por isso Setembro é para mim o mês de todos os começos, começo um ano de vida e faço todos os planos e resoluções nesta altura...
Os dias de escola não me trazem grandes saudades, mas continuo a amar este regresso à vida de todos os dias...
O texto está lindo, delicioso, definitivamente para guardar e reler!
Beijinhos
Querida mamã,
Consegui rever-me em cada palavra do seu texto. Também sou professora e mãe de um menino que vai agora para o pré-escolar.
Setembro também custa-me ser um mês de renovação para mim, fecha-se um ciclo e abre-se outro. Este ano o ciclo anterior fechou-se, porém não se abriu um novo. Não há nada mais triste para um professor do que não ter alunos para ensinar.
Que seja um belo recomeço para os seus!
Beijinhos
Querida Duchess,
Gostei tanto, mas tanto do texto :) eu adoro o mês de setembro por todos os recomeços que traz, por todas as possibilidades em aberto, por todos os alunos que vou conhecer e pela oportunidade que tenho de participar na vida dos meus alunos!
Não resisti e citei uma parte (http://letrasecronicas.blogspot.pt/2012/09/semana-22-setembro-ou-estacao-da-calma.html), espero que não leve a mal.
um grande beijinho*
B: não levo nada a mal. É sempre uma honra ser citada e ser partilhada.
Um grande beijinho
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