Ver de menos ou ver de mais?

Uso óculos desde os 19 anos. Depois de uma época de exames complicada e, especificamente, depois de um exame muito complicado comecei literalmente a ver tudo desfocado. Bom, podem dizer-me que as coisas não se passam assim, que é impossível e mimimi. Pois que comigo foi precisamente desta maneira que vos conto que se passou, sem tirar nem pôr. Claro que ainda imaginei que estava a ter um surto qualquer, estava a enlouquecer devido a tanto estudo, eu que nunca fui muito de empinar. Lá me decidi por ir tentar ver o que se passava comigo e de facto diagnosticaram-me miopia e astigmatismo (só falta dizer o que é que me diagnosticaram mais mas mais vale não vos assustar - estou a brincar!). E eu confesso que até achei piada a ter de usar óculos. Davam-me um ar cool e intelectual. 

A ideia inicial é que seriam apenas para descansar a vista e para ver ao longe. A mãe achava que era uma mania minha, que se eu me esforçasse um bocadinho mais não precisaria dos óculos para nada e que só estava a habituar a vista a ficar preguiçosa.  Não sei se foi por isso ou não mas com o tempo a passar comecei a sentir cada vez mais falta deles para ver ao longe. Ao perto era-me indiferente se eles estavam no nariz, na carteira, no sofá, na cozinha (sim, deixava-os em qualquer lado e sim, também cheguei a andar `
a procura deles com eles na ponta do nariz).

Depois as gravidezes foram dando de si (sim, já não bastam as estrias e a celulite e a barriguinha flácida) Ora perde astigmatismo e aumenta a miopia, ora volta a ganhar o astigmatismo e baixa a miopia. À vontade do freguês, ou quase.

E nestes 17 anos tive talvez uns quatro pares de óculos e de há uns quatro anos para cá tinha os meus óculos fetiche que tinha trazido de viagem a NY e eram sempre esses que usava. mas maldito vírus que acabou por os partir. Eu explico. Se os miúdos não estivessem em casa por causa de um vírus mauzão, eu não estaria de pijama e de robe àquela hora, com bolsos tão grandes onde não cabiam só um par de óculos mas a óptica inteirinha e não estaria provavelmente em casa à hora do telefonema do pai e não estaria meio trôpega de aguentar dois miúdos doentes, e não teria tropeçado, mesmo à filme, e os óculos não teriam saltado do bolso, mesmo à filme, para virem aterrar no chão e eu não teria, mesmo à filme de Manoel de Oliveira (em câmara muito lenta, entenda-se), lhes colocado um pé em cima.

Pronto, lá se foram os óculos de mi corazon.

Andei em negação depois de perceber que não tinham remédio. Mas o dar aulas e ter de olhar para quadros cheios de letras e apresentações de alunos fizeram-me convencer que era imperativo ir tratar de comprar outros novos. Ou isso ou dava 20 a todos sem saber lá muito bem o que estava na projecção apresentada.

E pronto, demorei duas horas e picos mas lá me consegui decidir. E até diziam por dentro "it's only rocknroll", que gracinha.

By the way...não adoram aquela sensação de estar a escolher uma peça, seja de roupa, calçado, whatever, sem saber o preço,e quando finalmente se decidem por uma...bingoooo, tinha de ser a peça mais cara das que tinham nas mãos. Será uma espécie de lei de Murphy para as mulheres??

Mas a saga ainda não terminou. A menina da óptica não gostou nada quando lhe perguntei se teria de trazer mesmo aqueles óculos ou se tinham outros guardados,não mexidos, para trazer para casa. É que aqueles tinham uns risquinhos mínimos de lado - sim, chamem-me picuinhas mas com o dinheiro que vou dar bem que posso ser picuinhas e exigente - mas ela que não, que não, que era o padrão deles que era assim - what? está bem abelha.

E agora estou à espera que peçam outros ao fornecedor. Mas sabem quando vocês ficam com aquela sensação que vos dizem que vão fazer alguma coisa mas que vocês acham que não vão fazer nada? Pois...eu tenho a sensação que me vão dar os mesmos óculos e vão-me dizer que são uns novos. E ainda acho que me vão telefonar a dizer que só para depois do Natal, que é para eu sofrer ainda mais um bocadinho e fazer muitas rugas de expressão - olhos franzidos é o que mais se tem visto por aqui.

Sou eu que estou a ficar paranóica? Deixem lá, deve ser da miopia. Já não sei se não vejo nada se ando a ver demais, a ver aquilo que não existe.