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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Testemunhos – um anjo e um sorriso



A família da Catarina é uma família como tantas outras, uma família divertida, agitada, feliz, uma família com uma mãe, um pai, 3 filhos, um cão e ainda os peixes. Ao mesmo tempo é uma família diferente, especial. É uma família com um anjo. E é disso que vos venho aqui falar.

Quando em Maio de 2011 ouviram pela primeira vez falar em “Síndrome de Angelman” não faziam ideia do que é que queria dizer. A médica que lhes deu o diagnóstico também pouco mais conhecia. Tinha ido à internet no dia anterior pesquisar artigos que a ajudassem a conseguir explicar-lhes o que era agora o diagnóstico oficial do Pedro. Ele tinha na altura 15 meses, mas desde os 6 que desconfiavam de que alguma coisa não estava bem.

O Pedro nasceu às 38 semanas, depois de uma gravidez normalíssima. Era (e ainda é) das crianças mais bonitas que a Catarina se lembra de ver. Era muito cor de rosa, com um cabelo muito loirinho. Nasceu com os parâmetros todos dentro da normalidade (peso, comprimento…), mas desde cedo teve dificuldades de sucção e muito refluxo. Sempre foi um bebé magrinho (abaixo do percentil 5) mas que ia crescendo ao seu ritmo.

Aos 6 meses a pediatra começou a desconfiar que alguma coisa não estava bem, o que foi um grande choque. O Pedro lá ia fazendo as suas aquisições mais devagar, mas os pais acharam que cada um tem o seu ritmo e que era preciso dar-lhe tempo, que ele ia lá chegar.
Como ele não aumentava de peso e estava um pouco mais atrasado nas suas aquisições, começou a odisseia de exames e de consultas para tentar perceber o que se passava. 

Depois de um ano de consultas, em que pouco se ia avançando, em que finalmente um médico falou em “qualquer coisa neurológica”, fizeram, apenas para ficarem sem pesos na consciência, uma avaliação genética… só porque era o único que faltava, embora todos os médicos dissessem que não havia nada nesse campo. Até que as análises chegaram e com ela o diagnóstico -  “Síndrome de Angelman”. 

Mas afinal o que é isto?
A Síndrome de Angelman é uma alteração genético-neurológica causada, na maioria dos casos, pela ausência ou imperfeição do cromossoma 15 materno. Caracteriza-se, entre outros, pelo atraso severo no desenvolvimento, dificuldade na fala, distúrbios no sono, convulsões, movimentos desconexos e sorriso frequente.


O futuro antevia-se muito complicado. Um atraso grande no desenvolvimento, um bebé que não ia falar, que ia ter dificuldade em andar, que provavelmente teria convulsões...
As idealizações que todas as mães fazem começaram a cair por terra. Mais do que ensinar ao seu filho as coisas da vida, a Catarina tinha de ensinar às pessoas o que era esta doença, o que é que o filho tinha. E tinha de aprender a viver com ela.
Não é fácil, diz a Catarina. Não vale a pena mentir. Mas é uma realidade que vão aprendendo a viver, a integrar, a aceitar. São noites mal dormidas, horários e rotinas a fixar, cuidados extra em casa…
Apesar de ser difícil, Catarina diz que não há nada que deixem de fazer, como almoços, férias, fins de semana, festas... E embora a tentação seja a de pensar “porquê”, dá por si muitas vezes a agradecer a oportunidade de viver com esta realidade diferente, pois acredita que a tornam uma melhor pessoa, uma melhor mulher, uma melhor mãe.
E como é para a Madalena e para o Salvador, os irmãos? Não só para os irmãos, mas também para colegas, primos, amigos, a Catarina acredita que é genuinamente bom. Acredita realmente que serão melhores pessoas por terem de conviver lado a lado com a diferença, tratando-a por “tu”. Os irmãos sempre o conheceram assim e falam do assunto com uma naturalidade que os adultos não conseguem: “Sim, o meu irmão não anda, e não fala, porque ele é Angelman”. E todos - irmãos, colegas, primos, amigos -  têm uma ternura enorme, genuína por ele e desculpam-lhe sempre os puxões de cabelos, as babadelas, os beliscões...
Os dias dele são divididos entre a escola e os apoios terapêuticos (hidroterapia, psicomotricidade, terapia da fala e fisioterapia). Os pais sabem que nada disto seria possível sem o apoio da família, a rede que permite que o dia-a-dia seja mais leve, a rede que permite momentos a dois, ou a quatro – “Sim, é preciso ter estes momentos porque de facto não somos feitos de ferro, não somos máquinas. Somos humanos, e somos responsáveis e por vezes é preciso desligar e recuperar forças para continuar”.

Ter um anjo na família é aprender a aceitar que em casa ou fora de casa os pratos voam, os copos dançam, a toalha é puxada e a vida continua. Ou então é aprender a ter os melhores reflexos do mundo.
Ter um anjo em casa é pedir desculpas a estranhos, pelos puxões, pelas espremidelas, apertadelas, lambidelas, abraços e beliscões.
Ter um anjo em casa é ter de explicar a toda a gente o que é isso de “ Síndrome de Algelman” e ver caras de espanto e desconhecimento cada vez que se toca no assunto.
É não ter uma noite completa de sono, desde sempre, excepto quando a tal rede entra em acção.
É estar sempre atenta, sempre alerta…é nunca deixar portas abertas, porque isso vai originar confusão. Torneiras abertas, a casa transformada em rio, onde por vezes não se sabe navegar. É não poder deixar nada no chão porque do chão vai para a boca em segundos. É guardar tudo mais alto e mais alto e mais alto…e nunca parece ser suficientemente alto para escapar ao tsunami.
É ficar triste por não se conseguir ter a casa à prova de anjo, mesmo que se esforcem muito – e esforçam, esforçam-se mesmo muito.
É ter de ter forças para agarrar, para não deixar que uma mão sai disparada e atinja, é perceber que o cabelo mais curto é mais difícil de ser puxado, é mudar fraldas para o resto da vida, é ter forças para continuar.
É aprender a aceitar. É aprender a não se queixar. É aprender a agradecer. É aprender a ser mais carinhosa, mais sensível, mais paciente. É aprender a ser mais presente, o “estar lá” tem de ser mesmo lá, a cabeça não pode nunca estar noutro lugar, nem por um segundo. É também não querer pensar no futuro.
É receber abraços a toda a hora e sorrisos maravilhosos. Vindos directamente de um anjo.







A Angel - Associação de Síndrome de Angelman de Portugal - foi criada por um grupo de pais de crianças portadoras de Síndrome de Angelman, que sentiram a necessidade de concentrar esforços na vida diária para oferecerem uma vida melhor aos seus filhos.

A Angel tem por finalidade reunir portadores de Síndrome de Angelman, pais, familiares, profissionais e técnicos de saúde, investigadores, professores e demais pessoas interessadas com o objectivo de prestar auxílio e orientação sobre a doença à comunidade.

Sendo uma condição rara, a informação e troca de experiências entre pais e terapeutas é fundamental para um dia-a-dia mais construtivo.
A Síndrome de Angelman é uma alteração genética rara descrita pela primeira vez em 1965 pelo pediatra inglês Dr. Harry Angelman.
Caracteriza-se por um grave atraso no desenvolvimento, ausência de linguagem verbal, dificuldades de coordenação motora que podem afectar a marcha, perturbação do sono e convulsões.
Esta síndrome apresenta uma característica distintiva: um sorriso constante e o gosto por abraços e contacto físico. Por esta razão, os portadores desta Síndrome são chamados de Anjos. Podem viver felizes e ter uma vida saudável, desde que as convulsões sejam controladas.


No dia 15 de Fevereiro celebrou-se o Dia Internacional da Síndrome de Angelman.
Conheçam o novo site da associação Angel.

Muito obrigada Catarina. Muito obrigada Angel.















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