Futuro. Presente. Passado. Por vezes meio desfocado, porque as memórias formam borrões e distorcem um pouco a realidade. Já pensaram que só vemos o que queremos ver?
Futuro. Presente. Passado. Todos temos uma mala que carregamos connosco, uma bagagem por vezes demasiado pesada, algumas curvas sinuosas com sabor a fado.
Quando nascemos, nascemos sempre da estória de alguém. Chamemos a isso amor, acaso ou continuidade. E no fim faremos sempre parte de uma estória maior e teremos sempre também a nossa própria estória, um enredo-que-podia-ser-um-filme, com mistura de açúcar e sal. De facto, a vida é feita de múltiplas narrativas que se entrecruzam, que se interligam, que coexistem. Para o bem… e para o mal.
Vivemos quase sempre como se fossemos personagens de um livro já escrito, um guião dominante do qual não podemos fugir nem escapar. Nunca deram por vocês a pensar “Quero mais, quero tudo, quero o que ainda não veio, o que ainda não chegou, se atrasou… não pode ser tarde demais!”?
Muitas e muitas vezes, vezes sem fim, deixamos escapar outras leituras, outras construções, outras possibilidades. São as nossas estórias alternativas. As que deixámos na sombra, por não encaixarem, por parecerem desgarradas do resto, por sentirmos que não as merecíamos, porque tivemos medo, ou simplesmente porque não demos por elas.
Se resgatarmos estas estórias podemos criar outros caminhos, outras conclusões, outros finais.
Se olhares para o passado é para pensares no que ainda te falta fazer, li algures. E eu acrescento, se olhares para o passado é para olhares com atenção, para aqueles momentos em que o guião podia ter sido outro, que foi outro, mesmo que por breves instantes. Pensa no que foi diferente, no que podia ter sido diferente, no que podes ter deixado escapar. Mas olha bem, sem medo. Usa o que podes. Usa o que tens. E pensa que o pior cego é mesmo aquele que não quer ver.
Não esperes que a vida se resolva sozinha. Tu és tu e as tuas múltiplas encruzilhadas, as tuas múltiplas lentes, as tuas múltiplas verdades. O teu multiverso – seja lá isso o que for.
Não esperes que a vida se resolva sozinha. Não queiras ser apenas feliz no futuro. O futuro é agora. O teu futuro é hoje.
Este foi o segundo texto que escrevi para a Maria Capaz e que saiu hoje mesmo. Mais um orgulho.