Pode parecer estranho refletir sobre a morte e
ainda mais sobre o impacto que ela pode ter na criança.
Embora não seja fácil falar deste tema, faz
sentido discorrer sobre ele, já que é a única certeza da nossa vida. De facto,
a morte é um dos últimos “Xiusss” da nossa sociedade. Evitamos falar dela. É
como se fosse o elefante cor-de-rosa na sala. É uma coisa enorme, visível,
incómoda, mas fingimos que não vemos e que não se passa nada. O problema é que
se passa e sinceramente parece-me tão essencial falar de morte como saber
usar a colher ou apertar os atacadores dos sapatos.
Claro
que aprender a lidar com a morte dói, mas crescer é também saber lidar com a
dor emocional. Preparar para a vida é gerir tudo o que vai acontecendo e é
trabalhar a vivência de perdas e ganhos. Prepararmo-nos para a vida é
simultaneamente prepararmo-nos para a morte.
A
dúvida centra-se, muitas vezes, no que dizer e como dizer. Antes de tudo ou
acima de tudo, só podemos falar de algo com uma criança se soubermos primeiro
como nos posicionamos em relação a isso – o que sentimos e o que pensamos.
Uma
criança pode suportar muita coisa, desde que haja segurança por parte dos
adultos que lhe falam de coisas sérias e desde que lhe seja permitido partilhar
os sentimentos naturais que as pessoas têm quando sofrem. E ainda desde que lhe seja dita a verdade - adaptada à
sua idade, às suas capacidades, ao seu estilo de vida, às suas crenças – mas,
sem dúvida, a verdade.
Uma vez acompanhei em consulta uma mãe e
um filho que tinham perdido respetivamente o marido e o pai. E esta mãe não
falava daquela pessoa tão importante para eles, tinha retirado todas as
fotografias da sala, todos os vestígios de uma vida a dois e depois a três,
para não fazer sofrer o filho. Não se permitia chorar, para não fazer sofrer o
filho. Não se permitia falar sobre o amor e a saudade e mesmo sobre as
recordações felizes, para não fazer sofrer o filho. E o filho sofria mais e
mais e mais. Mas em silêncio, para não fazer sofrer a mãe. E tudo para se
protegerem um ao outro. E era uma casa feita de silêncios, de não ditos e de
meias verdades. Sem lágrimas. Sobretudo sem lágrimas.
E perguntam-me também coisas muito
concretas, complicadas de perguntar, com sabor a medo, com medo das respostas –
E deve ver o avô, a avó, o pai morto? Não, não deve. Não deve ser essa a imagem
a recordar. E deve ir ao funeral? Obviamente que depende, mais uma vez, de como
os pais/os cuidadores, os adultos que rodeiam a criança se posicionam em relação
a isto…mas essencialmente sim.
A confrontação com a realidade deve ir até
ao ponto em que se deve ter a noção de que a perda passa pelo ritual do
funeral. É importante que a criança vá? Talvez seja. Porquê? Para ver a
tristeza na cara dos outros. É extremamente importante que perceba que aquela
pessoa era tão importante para aqueles que ali estão, que todos ficaram mesmo
muito tristes com a sua partida. A tristeza vista nos olhos dos outros faz
compreender muita coisa, nomeadamente que esse é um sentimento universal. A
tristeza, por mais que os adultos-que-querem-proteger-as-crianças pensem o
contrário (e entende-se porquê), é reparadora e não deve ser evitada. A ida ao
funeral leva a que as crianças vão assimilando uma série de coisas, se não
logo, mais tarde, porque levam dentro de si esses pensamentos ainda não
pensados. Vão aos poucos tomando consciência de que é essencial vivermos juntos
enquanto estamos vivos, que se devem dizer as coisas que se vão sentindo e não
guardar tudo cá dentro e ainda que o que partiu não a abandonou ou não se foi
embora simplesmente porque quis. A impotência e a raiva perante o
desaparecimento do outro têm de ser atribuídas. Assim, a raiva não será
dirigida à pessoa que desapareceu, que se foi embora, mas sim à finitude da
vida e às regras deste tremendo jogo que se chama viver.
O ajustamento da criança à perda está de
alguma forma dependente do seu entendimento do conceito de morte, que está
constrangido pela disponibilidade de certas perícias cognitivas. Uma criança
com menos de 7 anos muito dificilmente vai entender a irreversibilidade da
morte e pode compreendê-la como se do sono se tratasse. Também a incapacidade
de distinguir pensamento e acção pode conduzi-la à crença de que a raiva que
sentiu por alguém lhe causou a morte. A partir desta altura, as crianças vão
começando a entender os conceito de reversibilidade e de irreversibilidade,
podendo ainda não conseguir aceitar a universalidade da morte, ou seja, que
também elas irão morrer, que também acontecerá com elas e com quem elas amam.
Só na adolescência esta ideia é integrada dentro de si.
Portanto, uma vez mais, as reacções da
criança face à perda vão depender do seu estágio cognitivo, da sua experiência
pessoal, familiar, da educação recebida, nomeadamente a religiosa, da forma
como os adultos lidaram com ela no que diz respeito à morte e ainda do grau de
cuidados que ela perdeu. Assim sendo, para além de tudo o que já foi dito, é
muito importante que as funções da pessoa perdida sejam reconhecidas e
desempenhadas por outros membros da família. Se os pais emocionalmente não
conseguirem prestar estes cuidados e este apoio, deve pedir-se a ajuda da
família alargada e dos amigos.
Neste processo de ajudar a lidar com a dor
é importante levar em conta mais algumas questões. É importante não dizer
mentiras ou usar eufemismos que confundam a criança ainda mais, mesmo que seja
com a melhor das intenções - e isso ninguém duvida que é. A pessoa querida não
está a dormir, nem foi fazer uma viagem. As crianças ouvirão e aceitarão
literalmente o que lhes é dito.
Também não se deve
também esconder a morte dos animais de estimação. Os animais domésticos terão
um papel importantíssimo nesta educação para a vida e para a morte – é um erro,
para não fazer sofrer a criança, substituir um animal por outro e dizer que
afinal o “Faísca” estava desaparecido, mas já voltou.
A capacidade reparadora passa ainda por
criar rituais e até por aprender a celebrar, nós que somos um povo que temos
mais facilidade em sofrer por, do que a celebrarmos algo. “O que é que vamos
fazer para nunca nos esquecermos do avô?”, “o que é que ele nos ensinou que vai
estar sempre connosco?” A reunião das pessoas no aniversário de quem já se foi,
para recordar e celebrar a vida da pessoa, pode ser uma experiência profundamente
sanadora e vinculativa. Uma característica fantástica dos rituais é que
comunicam uma mensagem subliminar muito importante: se fizermos uma série de
actos prescritos, então um efeito curativo será atingido.
E, para terminar, as crianças são resilientes.
São mesmo. Isto significa que lidam com a perda consideravelmente bem, com
muita coragem – a perda não é só a morte de um ente querido, mas o divórcio dos
pais, uma doença na família, o despedimento de um dos progenitores, uma
catástrofe natural, o nascimento de um irmão (mesmo as mudanças desejadas
acarretam perdas), etc, etc. E isto torna tudo mais fácil. Só que por vezes não
é bem assim e nem todas as crianças são assim. É preciso ir estando atento aos
sinais: comportamentos diferentes, queixas somáticas, dificuldades nos estudos
ou dificuldades relacionais. Negar estes comportamentos é como negar a morte.
Dificulta o trabalho adaptativo.
Estar atento é sem dúvida a melhor
política. E usar o bom senso também. E antes de pôr as crianças a pensar sobre
isto é importante que nós, adultos, sejamos capazes de o fazer. Pensar sobre a
morte não alterará por magia a realidade. Pensar sobre a morte não a fará
chegar mais depressa. Não precisamos de nos esconder e dizer “Aqui não está
ninguém” porque, na verdade, “à morte ninguém escapa, nem o rei, nem o
papa”…nem mesmo nós.
33 comentários:
Duchess, parece que "lá em cima" ouviu as minhas preocupações! A M., por tudo e por nada, levanta este assunto! Ainda há momentos, no restaurante, do meio do nada durante o jantar, perguntou ao pai quando é que a avó (mãe dele) morria! Obrigada e bjs, SF
Bem, desconcetraste-me, é certo!
Depois, fiquei sem pio! :/
E concordo tanto, mas tanto com tudo o que dizes!
Felizmente no meu caso, só me deparei com a morte de familiaes próximos já em adulta.
Mas penso muito nisto e já tenho falado com outros amigos sobre como abordar o tema com o F.
Vou ficar mm a pensar no assunto, mas continuo a achar que aquilo em que acredito, faz todo o sentido.
Obrg S. pelo post magnífico!
E Parabéns... mm pelo tema sério, és tão fácil de ler!
Muito obrigada às duas. Como devem calcular é importantíssimo este feedback, porque é esta a minha praia, se é que me faço entender. E é por reflectir seriamente sobre estes temas que eu gostava de ser conhecida. mais do que por qualquer outra coisa. Assim sendo, agradeço se partilharem.
Acredito que as crianças de meio rural se sintam mais à vontade com este tema porque lidam muito com os animais, o passarinho que caiu do ninho, a matança do porco, etc, etc.
Beijo grande
Olá Sofia,
Muito OBRIGADO......
Não imagina como este post foi e é importante para mim.....
É um assunto com o qual "vivemos" todos os dias ...desde que os miudos nasceram....um assunto sempre ao nosso lado
E muitas vezes sem saber o que dizer
Obrigado
Raquel
Fantástico, um tema que acho lindo e importante de feio que é e que mais uma vez conseguiste com as tuas palavras e forma de escrever elucidar e tornar bonito. Obrigada Duchess por falares de coisas feias de uma forma bonita, mas falares...
Simplesmente FABULOSO o que aqui escreveste para nós.
Passei por uma situação destas quando tive que dizer ao kiko que uma pessoa muito muito querida para ele tinha morrido, foram uns dias muito muito complicados,não o levamos ao funeral, mas dias mais tarde tivemos que o levar ao cemitério ... chorou como se não houvesse amanha, foi tão complicado para mim mãe ver o Kiko a chorar daquela maneira, mas penso que tenha sido o melhor que fiz, pois só a partir desse dia é que ele começou a ser o nosso Kiko, porque desde o dia em que lhe demos a noticia ate à ida ao cemitério ele estava completamente transtornado ....
É um texto "feio" sim, mas muito real nas nossas vidas.
Beijo grande em ti.
Sandra Gonçalves
Gostei bastante desta reflexão. O meu filho tinha 4 anos quando as minhas duas avós morreram. Uma delas mais próxima que a outra fizeram com que ele fosse confrotado pela primeira vez com este assunto... não foi fácil. a avó celeste partiu mas ficou-lhe muito presente na memória... teve que abir a porta do quarto dela para ver que afinal ela tinha mesmo ido para o céu. e daí encerrou o assunto. há uns meses falaram do assunto no colégio, e diz a educadora que ele falou do assunto sem problemas, abertamente, era tudo natural. Obrigada pelas sábias palavras :)
Tão bom de ler, apesar do pesado que é... Peredemos uma cadelita em Abril era o mimo da Frederica na altura com 2 anos e meio... para a F, - e para nós papás - não foi fácil aceitar que a Lika estava muito doentinha e velhinha e que tinha ido viver para perto de Jesus para que cuidasse melhor dela. De vez em qd lembra-se..."mamã a nossa k. já deve estar melhor"
Beijinhos *.*
...É um assunto que odeio... Sou um bocado obcecada com ele... ou ela!
Mas concordo com tudo o que dizes e era assim que faria.
Nem tenho palavras! Vou tomar um café para desanuviar!
Parabéns querida! E obrigada!
Pela primeira vez q leio o seu blog e logo com um tema q me toca imenso. Fiquei sem mãe aos 7 anos e 11 meses e com a ajuda do meu pai e dos meus avós paternos consegui ultrapassar a perda da minha mãe razoavelmente bem! Não vi a minha mãe morta nem fui ao seu funeral, apenas vi passar os carros á distancia.O meu pai disse-me se queria ir á Igreja ver a mãe, q estava como estivesse a dormir mas estava morta e q estava no céu a olha por nós, mas eu preferi não ir e ficar com a imagem q tenho dela comigo a brincar, não sei se fiz bem ou não, hj em dia questiono-me várias vezes se gostava de ter visto a minha mãe mais uma vez, mas são escolhas q não podemos voltar a trás. E sim acho k devemos dizer toda a verdade ás crianças!!! A minha irmã q tinha apenas 3 anos tb soube toda a verdade acerca da mãe, mas como era tão pequenina as lembranças não existem!!! Obrigada por falar dum tema tão importante e q mtas vezes nos esquecemos dele. Fiquei de lágrima no olho, um beijinho!!!
Ainda ontem , num funeral, comentei este tema por também eu nao saber lidar com o mesmo.Cá em casa passamos por isso, tinha o meu filho acabado de fazer 6 anos, nao tive coragem de o fazer passar pelo sofrimento de um funeral mas as perguntas eram tantas que me pediu para ir ao cemitério ver, eu levei e a partir desse dia começou a sossegar...não é fácil aos pais verem os filhos crianças sofrerem e a tendência é evitar se possível mas concordo com a forma com que acabaste de me ensinar alguma coisa se na altura tivesse lido este texto acho que nao teria tido tantas duvidas. Muito obrigada.
Feliz ou infelizmente tive de falar dela bem cedo ao meu filho, num curto espaço de tempo tive de lhe dizer 3 vezes que alguém querido (os meus 3 Avós) tinha morrido!
Hoje falamos abertamente da morte, ele não gosta dela, e já chorou a pedir para não morrer, nem o pai, nem a Mãe...para podermos estar juntos!
Ah...e obrigada , é o grande texto :)
Como já disseram, sendo um tema tão difícil, torna-se tão fácil de ler (:
Eu nunca entrei num cemitério, apesar de ter a varanda da minha casa de Lisboa completamente virada para um. Em miúda morreu-me o meu avô paterno, mas eu não fui ao funeral. Lembro-me de chorar horrores por não querer morrer, nem que os meus pais morressem. Foi uma fase e passou. Hoje em dia já encaro a coisa de outra forma, mas também nunca mais perdi ninguém próximo, nunca mais tive de lidar com isso de novo com pessoas.
Mas lá está, desde sempre que fui perdendo animais. Passarinhos, galinhas (cheguei a ver um senhor cortar a cabeça a uma e não reagi muito bem..), e muitos gatinhos. E custa sempre tanto =(
Obrigada pelos vossos testemunhos tocantes. Obrigada!
deixem-me ainda dizer que pode perguntar-se à criança se quer ir. Uma criança com 7 anos pode perfeitamente responder a esta questão. E não deve ir forçado só porque os pais acham que sim, que vai fazer bem.
Este é um tema dificil para mim, pois eu tenho pavor da morte :(
Infelizmente aos 3 anos, tive de explicar à beatriz que não voltaria a ver o tão adorado avô. Aquela pessoa que ela tanto adorava (e ele a ela!!), não voltaria a estar ao lado dela.
Por ser algo, tremendamente, repentino, foi também demasiado sentido por ela.
Ver 2 policias a entrar pela casa da avó, ver a avó a chorar, e ficar no quarto (para ser preservada de tudo) à minha espera, foi muito para ela.(foi um acidente na caça)
Só lhe consegui dizer que não voltaria a ver o avô, mas que ele a estaria a ver sempre. O avô passaria a ser uma estrelinha do ceu. Ela não gostou (!), e disse-me que o avô, não era nenhuma estrela, mas que estava sempre "sentado numa nuvem muito fofinha, lá no ceu".
Aceitei a sugestão dela, e ainda hoje é assim!
Passado uns bons meses, ela perguntou-me o que se tinha passado, e eu expliquei-lhe.
Custa-me horrores quando ela diz que tem imensas saudades do avô....
Bjos!!!!!!!!
Adorei o texto.
E concordo muito com tudo o que está escrito.
Felizmente as minhas crianças ainda não se deparam com esse assunto...
Uma vez uma Educadora amiga minha, teve na sua sala uma menina a quem lhe tinha falecido uma avó...andava muito triste, não brincava, fazia xixi na cama...enfim...um dia a minha colega soube o que tinha acontecido pela mãe e foi aí que ela falou com a criança...o problema dela não foi a avó ter morrido, para ela foi normal, o problema era que a avó estava no céu...ou seja ela olhava o céu e via uma infinidade de espaço...o problema dela era que a avó podia cair...a minha colega tentou dar a volta...disse-lhe que havia uma porta imaginaria e mágica e que se fechava assim que as pessoas entravam no céu. O que é certo é que a criança ficou aliviada e toda a tristeza foi embora.
Mais uma vez obrigada por partilhares este texto.
Uma beijoca :)
p.s. eu tenho pavor da morte, eu tenho medo de morrer...
Ah, e infelizmente, Para sempre É muito Tempo ! :(
Ai minha querida Sofia, a tua história de vida também é triste:(:(
E sim, para sempre é muito tempo. Mas o bonito da coisa é que depende das tuas crenças. não sei como é que ainda ninguém escreveu: "para mim não vai ser para sempre"...
Sofia, há alguns anos que este tema me consome. Costumo lidar bem com a situação quando me confronto com ele, chorando tudo o que tenho para chorar e fazendo o meu luto, mas só de pensar nesse assunto (principalmente se penso nas pessoas mais próximas - e quando digo mais próximas já nem falo nos pais, pois isso é o que já é natural acontecer, mas no meu marido e filhos) fico MESMO mal disposta! Tão mal disposta que às vezes parece que já está a acontecer... e tento não pensar nisso.
Felizmente (mas sem pensar no ter de lidar com a morte), ainda tenho todos os meus avós vivos, isto para dizer que ainda não tive de enfrentar a morte mesmo de frente. Tenho medo do dia que isso aconteça e ainda mais medo quando vejo os anos passarem e a F. a crescer e a ter cada vez mais noção das coisas. Mas concordo com tudo o que a Sofia disse e quando esse dia chegar, vou ter de lidar com isso da melhor maneira e de falar com a F. sem tabus... e ela vai perceber, como sempre acabamos todos por perceber ;)
E temos sempre aquela frase que acho um amor e que acho que ajuda todas as crianças que acreditam em Deus, ou num deus, a ultrapassar melhor a saudade: "A avó está no céu e é uma estrelinha, aquela estrelinha, sempre a olhar por si."
Muito obrigada pelo post ;)
Beijinhos Sofia!
Gosto muito deste tipo de posts.
E tambem concordo com o celebrar/festejar o dia dos anos da pessoa que morreu. Fizemos isso uma vez com a minha avo' e eu adorei, e disse a toda a gente para fazer o mesmo quando eu morrer.
obrigada!
Adorei o seu testemunho!
Tema difícil, perturbador mas real. Não podemos mesmo fugir dele e, só assim se justifica que as crianças também sejam "confrontadas" com esta verdade. Sempre a verdade, porque as criança st~em uma capacidade de aceitar que nos transcende.
Ainda não me vi a braços com este tema em casa, mas um dia há-de acontecer e espero ser capaz de o fazer como escreves.
Ando há algum tempo para fazer uma formação sobre luto. Mas ou não me convencem, ou são caras e tenho adiado. É um assunto que me interessa e com que por vezes me deparo, a nível profissional (aliás, ainda este ano aconteceu e pelo "andamento" acho que não vai ser fácil para aquela criança integrar o acontecimento na sua história de vida)
Não gosto de forma alguma do tema mas gostei imenso da forma como falou dele!
O meu filhote de 4 anos perdeu o avô paterno quando tinha apenas 8 meses...
Existem fotos do avô tanto na nossa casa como na casa da avó e ele às vezes já pergunta quem é que é aquela pessoa e nós pais sempre lhe dissemos quem é que era e o que lhe aconteceu...
Já me perguntou algumas vezes o que é a morte e eu explico-lhe da melhor forma que consigo, mas se for eu a fazer-lhe a pergunta, o que é morrer, ele a única coisa que responde é nunca mais ver as pessoas...
Tenho tanto mas tanto medo da morte (não da minha em particular mas sim daqueles que mais amo)
Obrigada pelo post. Felizmente ainda ( o meu filho) não me deparei com esta situação mas fico sempre sem saber o que dizer quando o meu filho me pergunta se um dia vou morrer. Ele tem 5 anos. Um beijo
Só hoje li este texto, e gostei muito. Obrigada.
Pertenço a uma família bastante grande, de maneira que desde pequena que me lembro de ouvir falar que alguém tinha morrido. Embora não me lembre dos sentimentos da altura, lembro-me de ter ficado muito zangada quando, com 8 anos, não me deixaram ir ao enterro de uma Tia.
Quando o meu Pai morreu, o meu filho mais novo, na altura com 9 anos, quis ir ao cemitério, ao contrário dos irmãos mais velhos. Várias pessoas disseram-me que era um disparate, mas eu deixei-o ir, e penso que foi o melhor que fiz. Se ele não tivesse ido, com a imaginação que tinha ía ficar a imaginar mil e uma coisas.
Em relação a fazer uma festa, quando a Avó do meu marido morreu, há 26 anos, marcámos um dia do ano para nos juntarmos - filhos, netos, bisnetos... - e ainda hoje o fazemos.
E quando a minha Sogra morreu, doze anos depois do meu Sogro, mas no mesmo mês, passámos a fazer o que uma das minhas sobrinhas, na altura pequena, chamou "a festa de quando os Avós morreram" - juntamo-nos todos (já somos cerca de 80...), lembramos os Pais, contamos histórias da infância aos mais pequenos, e é, de facto, uma festa. E muito importante para todos, novos e velhos.
Algumas pessoas escandalizam-se com o nome... paciência!
obrigada a todas, uma vez mais.
Maria, o seu testemunho é mesmo muito interessante. obrigadíssima por partilhá-lo.
Um beijinho
Brilhante, excelente mesmo.
Muito, mas muito obrigada... por tudo♥
Acabei de ler e estou sem palavras. Nem imaginas como me ajudou! vou guardar este post. É difícil encontrar uma explicação assim tão objectiva e perfeita para um tema que tanto me atormenta. Estou-te imensamente grata. As tuas palavras têm ecoado dentro de mim de uma forma diferente e positiva. Beijinho grande e mais uma vez obrigada pela partilha. Obrigada mesmo ;-)
Infelizmente tenho já demasiadas ausências na minha vida e é um tema do qual fujo a sete pés mas acho que está aqui tudo!! Uma das coisas que mais me fez confusão foi a minha mãe ter insistido para que me despedisse do meu pai e ainda hoje guardo essa imagem e já passaram 13 anos!! Para ela era importante mas para mim foi pior...
Brilhante. Obrigado
Embora o tema nos desperte sentimentos tristes, o seu texto está fabuloso Sofia.
Sempre tive dúvidas sobre o que dizer e fazer nestas situações. Lembro-me muitas vezes de quando a minha avó morreu, tinha eu 5 anos, de ficar tão mas tão triste porque os meus pais, para me protegerem, não me levarem ao funeral. Isso ficou marcado para sempre.
Um beijinho
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