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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Porque devem os pais pôr os filhos a chorar? Esta e outras reflexões importantíssimas.


Tão bom sentir que o que eu penso é correspondido por quem mais sabe.  Enquanto terapeuta familiar, educadora parental e mãe adoraria ter estado presente. Mas não estive. E aqui está um resumo do que foi falado. Excelente. E-x-c-e-l-e-n-t-e.


A ideia de fazer tudo para que os filhos sejam felizes, evitando que chorem, está ultrapassada. A teoria de disciplinar sem que a criança chore está desactualizada, diz Gordon Neufeld, psicólogo clínico canadiano que esteve em Portugal no final da semana.
“As crianças precisam da tristeza, da tragédia para crescerem. Precisam de ter as suas lágrimas”, defende. Nos primeiros meses e anos de vida, o “não” dito pelos pais ajuda a disciplinar, em vez de estragar a criança. “Estamos a perder isso na nossa sociedade, não admira que as crianças estejam estragadas com mimos. Afinal, elas são sempre as vencedoras”, continua o investigador que esteve em Lisboa a convite da empresa BeFamily, do Fórum Europeu das Mulheres, da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas e da Associação Portuguesa de Imprensa.


Na conferência sob o lema “Vínculos Fortes, Filhos Felizes”, Neufeld defende que só se atinge o bem-estar através da educação e que esta deve estar a cargo das famílias e não do Estado. E para garantir o bem-estar de qualquer ser humano ou sociedade é necessário preencher seis necessidades.
A primeira é o “aprender a crescer” e para isso há que chorar, é preciso que a criança seja confrontada, que viva conflitos, de maneira a amadurecer, a tornar-se resiliente, a saber viver em sociedade.
A segunda necessidade é a de a criança criar vínculos profundos com os adultos, estabelecer relações fortes. Como é que se faz? “Ganhando o coração dos filhos. É preciso amarmos e eles amarem-nos. Temos de ter o seu coração, mas perdemos essa noção”, lamenta o especialista que conta que, quando lhe entram na consulta pais preocupados com o comportamento violento dos filhos, a primeira pergunta que faz é: “Tem o coração do seu filho?”, uma questão que poucos compreendem, confidencia.
E dá um exemplo: Qual é a principal preocupação dos pais quanto à escola? Não é saber qual a formação do professor ou se este é competente. O que os pais querem saber é se a criança gosta do docente e vice-versa. “E esta relação permite prever o sucesso académico da criança”, sublinha Neufeld, reforçando a importância de “estabelecer ligações”.
E esta ligação deve ser contínua – a terceira necessidade –, de maneira a evitar problemas. Neufeld recorda que o maior medo das crianças é o da separação. Quando estão longe dos pais, as crianças começam a ficar ansiosas e esse sentimento pode crescer com elas, daí a permanente procura de contacto, por exemplo, entre os adolescentes com as mensagens enviadas por telemóvel ou nas redes sociais, muitas vezes, ligando-se a pessoas que nem conhecem, alerta o especialista.
O canadiano recomenda que os pais estabeleçam pontes com os seus filhos. Quando a hora da separação se aproxima, há que assegurar que o reencontro vai acontecer. Antes de sair da escola, dizer “até logo”; à hora de deitar, prometer “vou sonhar contigo”.  
Mas a separação não é só física, há palavras que separam como “tu és a minha morte” ou “tu és a minha vergonha”. Mesmo quando há problemas graves para resolver, a frase “não te preocupes, serei sempre teu pai” ajuda a lembrar que a relação entre pai e filho é mais importante do que o problema. Hold on to your kids é o nome do livro que escreveu e onde defende esta teoria.

A importância de brincar

A quarta necessidade a ter em conta para garantir o bem-estar dos filhos é a necessidade de descansar. Cabe aos adultos providenciar o descanso e este passa por os pais serem pessoas seguras e que assegurem a relação com os filhos.
As crianças precisam que os pais assumam a responsabilidade da relação, que mantenham e alimentem a relação, de modo a que elas possam descansar e, nesse período, desenvolver outras competências. Uma criança que está ansiosa pela atenção dos pais não está atenta na escola, por exemplo.
Brincar é a quinta necessidade a suprir. Não há mamífero que não brinque e é nesse contexto que se desenvolve, aponta Neufeld. E brincar não é estar à frente de uma consola ou de um computador; é “movimentar-se livremente num espaço limitado”, não é algo que se aprenda ou que se ensine. E, neste ponto, Neufeld critica o facto de as crianças irem cada vez mais cedo para a escola, o que não promove o desenvolvimento da brincadeira. “Os ecrãs estão a sufocar a brincadeira e as crianças não têm tempo suficiente para brincarem”, nota o psicólogo clínico que, nas últimas semanas, fez um périplo por vários países europeus, tendo sido ouvido no Parlamento Europeu, em Bruxelas sobre “qualidade na infância”.
Por fim, a sexta necessidade é a de ter capacidade de sentir as emoções, de ter um “coração sensível”. “Estamos tão focados em questões de comportamento, de aprendizagem, de educação; em definir o que são traumas; que nos esquecemos do que são os sentimentos. As crianças estão a perder os sentimentos quando dizem ‘não quero saber’, ‘isso não me interessa’, estão a perder os seus corações sensíveis”, diz Neufeld.
Em resumo, é necessário que os pais criem uma forte relação emocional com os filhos, de maneira a que estes sejam saudáveis. Os pais são os primeiros e são insubstituíveis na educação dos filhos e são eles que devem ser responsáveis pelo seu desenvolvimento integral e felicidade. Se assim for, estarão também a contribuir para o bem-estar da sociedade.


Por Bárbara Wong



E só agora reparei que um texto meu que virou crónica no jornal da minha terra não chegou a vir para aqui. E tem tudo a ver com as palavras que dizemos ("és a minha vergonha", lembram-se?). Quem diz esta diz outras palavras, outras frases, umas ditas com e outras ditas sem intenção. Vale a pena ler ou reler e reflectir. Portanto, aqui fica também:

As palavras que nunca te direi

Cada caso é um caso, é o que costumo dizer, é como costumo começar.
Mas, por outro lado, também é preciso fazer generalizações, procurar padrões. De outra maneira, dificilmente conseguiremos caminhar.

Uma amiga muito querida, chamava-me “minha gorda” quando eu era pequenina. E eu achava engraçado (e estranho), porque era muito magrinha, com muita pena da minha mãe. Mas se ela me chamasse “minha magricela” será que eu ia gostar? Acho que não!
Também, de vez em quando, dava-me vontade de chamar gordinhos aos meus lingrinhas, talvez exactamente porque, achando que isso não correspondia ao perfil deles, não fazia mal, já que eles não se reviam naquela palavra. Agora, à distância, eu pergunto: também não poderá ser sentido por eles como uma crítica ou uma provocação?
Realmente dá que pensar. Mais do que ser ou não ser gordinha, o importante é como a criança se vê e o significado que dá ao que vê, ao que a rodeia, ao que sente. E de onde vêm os significados que as crianças dão à sua realidade? Da sociedade, claro está. Isto no geral. No particular, de um microcosmos muito especial: a família.

E uma criança nem sempre compreende que uma mãe ou um pai ou uma avó ou uma tia (ou a educadora na escolinha) lhe chame gorda ou gordinha porque é um termo carinhoso como são ‘criduxo’, ou amor ou docinho ou…
Gordo é apenas uma palavra, mas carregada de significado. Assim como todas as outras palavras não são apenas palavras destituídas de carga afectiva.

E se uma criança começa a ver-se de forma errada porque os adultos significativos da sua vida lhe colocam um rótulo errado?
Claro que mesmo assim é diferente quando o dizemos com carinho, quando os gestos coincidentes acompanham, quando o amor paira no ar. Mas mesmo assim talvez não seja muito boa ideia. Pior ainda se o fazemos com ar de crítica, mais ou menos clara e consciente, mais ou menos encapotada.
Sem nos darmos conta estamos a enviar mensagens contraditórias aos nossos filhos: não és gordo, mas eu chamo-te gordinho. Ou então, “ és gordinho sim e eu até te estou a ensinar a comer de forma saudável, a mostrar-te que temos que viver com algumas restrições…mas mesmo assim chamo-te gordinho”. Estranho, não? Isto para a criança pode ser ambíguo e difícil de compreender.

Numa postura de educar para a positividade e para as competências, talvez o melhor seja, de facto, evitar todas as palavras com carga negativa, mesmo que ditas com a melhor das intenções. Como diria de Shazer, as palavras são mágicas e a forma como as pessoas se descrevem a si próprias e aos outros é fundamental. Então devemos libertar-nos e ajudar os nossos filhos a libertarem-se da linguagem-problema e passarem para a linguagem-solução.
Não existe nada fora da linguagem e esta tem sem dúvida um tremendo poder de sugestão. O que se fala e como se fala faz a diferença, toda a diferença. Não nos podemos esquecer disso. Dá trabalho? Claro que dá, mas as relações dão trabalho. Apenas isso.
Devemos pois trabalhar a auto-estima dos nossos filhos desde a mais tenra idade. E se entendemos a auto-estima como o respeito por si próprios, então nós, pais/educadores, estamos desde cedo a ensinar os nossos filhos a terem respeito por si próprios e, em sequência, também pelos outros. E este respeito ajudará a que façam escolhas saudáveis ao longo da vida.
Para que haja auto-estima tem de haver um apoio incondicional por parte das pessoas significativas da sua vida, dos adultos importantes aos quais a criança está vinculada. Ela deve saber, tem de saber que é valorizada e amada. Só uma criança que se sente amada e valorizada será capaz de lidar com a vida. E só assim desenvolverá auto-estima e respeito pelos outros. Uma verdadeira pescadinha de rabo na boca!

6 comentários:

Adoro-te Mamy... disse...

Adorei... simplestmente fantástico este post! Como pais há sempre um caminho longo a trilhar em busca do que será o melhor, o mais adequado, o mais perfeito para os nossos filhos!
beijinho grande!

sofia disse...

Obrigada!!!

Anita de Tulp disse...

Gostei muito deste post. Revejo-me mesmo muito. Parabéns

Polly disse...

Dão muito que pensar estas seis necessidades... conseguir coloca-las em prática no mundo de hoje! Todas gostamos de sentir que conseguimos, mas depois há sempre uma que falha hoje, outra amanhã... sem dúvida são aspectos que deviamos ler mais vezes e recorda-los ainda mais. Bjs ;)

Cutchi disse...

Sofia!
Mais um post brilhante!!! Adoro ler estas publicações que nos fazem pensar... e não podia estar mais de acordo com tudo!!!
Quero mais destes se faz favor :)
Já disse que adoro este blog? não?
ADORO!!
Beijinho

Vchapéus disse...

Mais uma vez acho que todos os pais deviam ler este post. Como professora que sou, tenho-me deparado com o facto de as crianças não brincarem, não têm tempo! E o pouco que têm estão sentados com um comando na mão! Muitas vezes sinto que o próprio estado desvia a responsabilidade da "arte de educar" para escola... está tudo ao contrário!
Muitos parabéns pelo excelente post!

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