Tudo vale a pena

Hoje foi dia de mais umas quantas pérolas. Primeiro, tanto disse ao Vicente que ele já não era bebé por causa da chucha (é que já não quero que ele use aquilo de maneira nenhuma) que hoje andava ele a gritar pela casa “SIMMMM, AINDA SOU BEBÉÉÉÉÉ” porque queria andar com a chupeta durante o dia (temos uma regra que diz que já que tem de ser, que seja só para dormir - está a ser mesmo difícil largar este vício).

Estou farta daquela chucha. Agora deu para se levantar da cama, entrar devagarinho no meu quarto e começar a sussurrar (o que vale é que aprendeu bem aprendido que a mana está a dormir e não pode ser acordada). Mas começa a sussurrar “mãe, mãe, mãe”, tipo assombração. É com cada susto! E para dizer o quê? Que não sabe da chupeta. Eu levo-o para a cama mas vou a barafustar com ele o tempo todo. Acordarem-me no meio da noite é complicado nesta altura do campeonato. Para além disso a Miss Conchita se não acorda durante a noite dorme o tempo todo na sua caminha e tão bem que lá está. Mas se acorda não há maneira nenhuma de a voltar a deitar. Porque põe-se logo de pé, firme e hirta agarrada às grades, e começa a chamar por mim. E eu quase quase que lhe pego por uma perna e atiro-a para a minha cama. Mas é doloroso. A cama é enorme e mesmo assim ela consegue dar-me quinhentos pontapés e cabeçadas e rebola para cima de mim e depois também chora quando perde a chupeta ou principalmente quando me dá cabeçadas. E eu dou-lhe um beijo mas digo-lhe xiuuu, com medo que ela acorde o mano que está no quarto ao lado. Dormir com um ainda vá mas dormir com os dois já estou completamente estoirada para isso. Mas eu digo-lhe xiuu e a menina Miss-não-me-toques-vidrinhos o que é que faz? Fica muito sentida por ser mandada calar e ainda chora mais alto. Não há paciência!

Falo pouco da minha vida íntima. Não me faz muito sentido mas hoje houve um episódio tão surreal que tem de ficar registado. Estava eu a tomar banho, estava o Manuel sentado na tampa da sanita a ler-me alto o seu livro e estava a Concha a desarrumar tudo e mais alguma coisa que encontrava pelo caminho Encontrou uma caixa de tampax que eu nunca usei (não gosto, pronto). Então, primeiro tive que explicar tim-tim por tim-tim ao Manuel o que é que era aquilo e para que é que servia. “Mas tu não usas, mãe? Então se calhar podes dar aos pobres” !!! ou “Preferes aquelas fraldas, é?” ou “Então porque é que tens a menstruação todos os meses se agora se calhar já não vais ter mais filhos?”. Há com cada pergunta complicada. Eu lá vou explicando, sempre com descontracção e adaptado às idades deles. Mas não deixo de me maravilhar com a eterna fase dos porquês, que quando começa nunca mais acaba.

Quando pedi ao Manuel para lhe tirar aquilo das mãos (que estava dentro do plástico, claro) ela começou a chorar. E eu que já me custa escolher batalhas lá a deixei ficar com os tampax. E pronto, foi o divertimento dela enquanto estivemos em casa. Melhor, dela e do Vicente. Puseram-nos todos dentro de uma caixa de madeira de um Ferreira Vintage e passaram o tempo a discutir lá na língua deles - porque ele queria-os todos para ele e ela queria-os todos para ela. E sinceramente não sei se isto contado tem piada mas aquela cena foi espectacular. Coisas tão comuns e ao mesmo tempo com pilhas de graça, com que todas nós nos identificamos um pouco ou mais ou menos porque já passámos ou vamos passar por algo parecido.

Pareceu-me um daqueles aha moments em que pensei “bolas, ser mãe é mesmo isto”.

E depois é o Vicente que cada vez que aparece na tv a anunciar o filme da Princesa Sofia grita altíssimo a apontar para mim “É esta Sofia, é a minha mãe, é a minha mamã!! Está em fase de adoração a moi-même e tenho de aproveitar-me disso enquanto posso. Eles depois crescem e ficam mais desapegados. E ser mãe também é aceitar isso. Ser mãe é tanto e tanta coisa que por mais que escreva nunca o vou conseguir explicar muito bem. É essencialmente conseguirmos conciliar a responsabilidade e a diversão. É deliciarmo-nos com os pequenos nadas que nos preenchem por dentro e que nos fazem sentir que tudo vale a pena.