Nem sempre sabemos quem somos. Passamos uma vida inteira a tentar descobrir e a tentar definir, basicamente tudo, principalmente nós próprios. Ou será que nos vamos sempre só conhecer através do olhar do outro?
Sempre me disseram que era uma pessoa complexa e eu via-me como simples. Parece um pouco contraditório, eu sei, mas no fundo talvez nem seja.
Não me acomodo. Por vezes quero simplesmente acomodar-me, mas depois não consigo. Sinto que a vida não é suficiente. Sinto que há tanto para descobrir. E é esta a minha maior complexidade. Simples, não?
Quero ser simples quando me tento encaixar, aceitar. apenas viver sem levantar muitas ondas. Complexo, talvez?
Sei que não sei quem sou. mas sei que não sou a preto e branco. São mais de 50 os meus tons de cinzento, as minhas sombras, as minhas nuances.
Uns estranham, outros espantam-se, outros elogiam, outros criticam. E eu entendo e não entendo. Não me revejo em nenhuma imagem que tentam criar de mim.
Tenho saudades de coisas. Algumas que não vivi. Tenho muitas certezas e a maior de todas é que sou cada vez menos orgulhosa. Chamem-me louca, mas adoro ver pessoas felizes. Sei que a minha avó deixou-me dentro do peito um pedacinho do seu coração. Um pedacinho, porque nunca vou ser como ela foi, como ainda é....algures. Gosto de me rir de coisas tolas e gostava de confiar mais nas pessoas.
Adorava chegar a esta etapa e ter um grupinho mesmo especial, daqueles loucos que são capazes de tudo para te fazer sorrir. Que te salvam quando só eles percebem que precisas mesmo de ser salva. Que aceitem os teus erros, só porque sim.
Quero chegar a esta etapa, apagar algumas páginas e começar a escrever a sério o novo capítulo. E se conseguir deixar de levar tudo tão a sério, ainda melhor. Estão a notar as minhas incongruências? São tal e qual assim.
Tenho medo de fazer uma bucket list e de não a conseguir cumprir - tão anti-coaching, eu sei.
Tenho medo de tentar definir o que é a felicidade - não pode ser mais do que "apenas" saber lidar com as dificuldades. Porque é o mais complexo que existe. E se tentamos definir acabamos com uma mão cheia de quase nada. E penso se aos 40 se poderá começar tudo de novo?
Quando fico triste faço coisas, mexo-me, vou à luta. Quando fico muito triste fecho-me sobre mim mesma e pára tudo. Como se a vida pudesse parar, te desse a tal moratória para te recompores. Ilusões.
Antes dos 40 sabes que não mudas ninguém, mas não desistes de tentar. A partir daí tens a certeza que nunca te enganaste e finalmente começas a aceitar. Que até mudares quem és, é difícil, como um raio.
E há dias que sabes que nem a escrita te reconforta. E sabes que vão sempre achar que estás a escrever sobre ti. E descobres, nesses dias, que não queres escrever para ninguém. Não te interessa que leiam o teu blog, que achem interessante o que escreves, nem que te dêem créditos por isso. E o reconforto vem da paz de não estares nem aí.
E aos 40 descobres que tens ainda tanto para fazer, só não sabes por onde começar. Não aceitas nada incondicionalmente e sabes que amar é duvidar.
Tens medos e pânicos e isso não é necessariamente mau.
Tens de descobrir mais sobre ti e aceitar que estás disposta a descobrir mais sobre os outros. E não só sobre aqueles com quem estabeleces uma relação terapêutica, lá no teu consultório.
Tens de começar a acreditar que os 40 são os novos 30.
Merde! Aceita que tens de começar a viver. Uma vida tua. Mesmo que tenhas filhos e que sejam a razão da tua existência. Uma vida TUA.