Um dia disseram-me que não podíamos confiar em ninguém e que amigos verdadeiros só nos contos da nossa infância. Que as amizades eram de ocasião, de conveniência, que nada era o que realmente parecia ser.
Eu queria lutar contra isso, com todas as forças que tinha, mas a cada queda, a casa esquina, ia-me apercebendo que há sempre propósitos, objectivos, que nem sempre são consentidos, numa comunicação pouco aberta, sem um jogo verdadeiramente limpo.
Todos precisávamos uns dos outros, até aí entendia. Mas que nos aproximávamos mais por necessidade do que por vontade, pelo desejo do coração, que havia sempre outros interesses mais escusos, que tantas vezes tudo terminava, esfumando-se com o passar dos dias, desaparecendo como D. Sebastião numa manhã de nevoeiro... Isso não, não, não..
Aos poucos fui aceitando que nem sempre vamos entender tudo o que nos acontece, não vamos compreender a tal razão. Vamos perceber que há amigos para a vida e outros para uma estação.
Mas continuo a acreditar nos amigos que enchem o peito para dizer que são nossos amigos, mesmo que não sejamos nada de jeito, só pelo feito de sermos amigos deles também.
Continuo a acreditar que os amigos são os que habitam cá dentro, que nos lêem o pensamento, que estão quando precisamos. São nossa família, são manos. São mais do que sangue até. É algo que vai mais além.
Que não nos deixam ficar tristes, mas se não nos conseguirem alegrar, simplesmente não desistem, dão o corpo às balas e ao tempo, aceitando o nosso silêncio, aceitando a nossa dor. Abraçam-nos sem dizer nada. Simplesmente ficam lado a lado, com o coração a compasso. Isso também é amor.
Amigos que dizem aquilo que precisamos de ouvir, mas que sabem que há-de ser ao nosso tempo, que a brisa do momento, os guiará ao que é certo. Que o ser-se honesto nesta dança, neste laço, é que mesmo não dançando a compasso, não se cansam de nós pela diferença, pela nossa tristeza, pelos dias que nem sempre são dias bons, porque na amizade também há zangas, também subimos de tom.
Quero amigos que não se cansem de mim. Do meu jeito sério nos dias não. Da loucura nos dias sim. Amizades destas duram toda uma vida, são feitas de histórias e memórias. Confesso que quero isso para mim.
Amigos que se preocupam, que cuidam, que protegem, que vivem aventuras mil. Que sorriem ao verem-nos florescer, mais, cada vez mais, de Janeiro a Janeiro, ou de Abril a Abril. São amigos que nos merecem também. Tanto, tanto, tanto. Tanto até mais não. Porque sem pedirem nada, recebem em troca tanto e tanto. Tanto mil vezes tanto. Mil vezes mais do que aquilo que já dão.
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