Acabei de ler um post, daqueles de desenvolvimento pessoal, a dizer para nos afastarmos de quem faça parecer o amor difícil. Então, tenho que vos dizer que têm de se afastar de mim.
Antes de mais gostaria de dizer que gosto muito de páginas de motivação, autodesenvolvimento e autoajuda. Sou das que acho que toda a ajuda conta e que toda a ajuda é bem vinda. Estas páginas não são terapia, mas se as pudermos usar como ferramentas terapêuticas, ótimo. Questionarmo-nos é fantástico. Embora depois sinta necessidade de pedir que tenham cuidado com o inverso, ou seja, com o overthinking. Depende de como usam esse músculo fantástico, que é o pensamento.
Reparem, tudo pode ser visto de uma determinada maneira ou da maneira contrária. Tem muito a ver com as lentes que colocamos. Tal como a frase que encontrei no Instagram: "Afasta-te de quem faça parecer o amor difícil". Eu entendi a lógica, acreditem. A ideia de que há coisas que não têm de ser, de que há relações que não devem continuar, de que tudo o que é muito forçado é um sinal dos deuses ou do universo a mostrar-nos que estamos a escolher o caminho errado. Claro que faz sentido. Entendo a ideia de que há pessoas tóxicas e relações tóxicas e que temos de, a bem da nossa saúde mental, arranjarmos forma de sairmos delas. Entendo e subscrevo a cem por cento.
Há relações que são um martírio. Há situações em que fazemos esforços e mais esforços para nos encaixamos e não conseguimos. Desejamos imenso crescer com o outro, mas só nos diminuímos. E não pode ser.
Tudo certo. Ou talvez tudo errado. Faz mais sentido ser dito assim.
Mas como dizia o Miguel Esteves Cardoso, o amor é...
E era esta reflexão que no fundo queria deixar. Dei por mim a ler aquela frase e a pensar que não queria que as pessoas pensassem que o amor é fácil. Porque não é. Amar dá mesmo muito trabalho. E não pensem que se dá tanto trabalho é porque não é amor. Bem pelo contrário, senhoras e senhores. Se dá trabalho é porque é amor. Temos de passar a vida a fazer com que uma relação funcione. Temos de nos encolher e de nos pôr em bicos dos pés. Temos de condescender e temos de marcar uma posição. Temos de ser flexíveis como um contorcionista. Temos de nos esforçar. São muitas gotas de suor. Muitos risos, mas também muitas lágrimas.
Passamos por todo este processo sempre a pensar que deveria ser mais fácil, que deveria mais simples. Ao mesmo tempo sempre a querer que seja mais e melhor. Queremos que seja simples, mas somos nós que complexificamos.
E também é difícil porque nos comparamos imenso e isso não funciona para o amor. Cada relação é única e o que resulta para outros pode não resultar para nós.
Amar é difícil. Lidar com a nossa cabeça já é difícil, imaginem o que é ter de lidar com a cabeça do outro. E até com uma terceira cabeça, que é o que nasce daquelas duas personalidades, o terceiro elemento que é o casal.
Um dia na brincadeira uma aluna minha de mestrado, depois de uma aula sobre conflitos conjugais, disse que visto por aquele prisma, provavelmente não se iria querer casar.
Eu ri-me e respondi. A vida é como o casamento. A vida não é fácil. Se calhar ainda não perceberam isso, pela idade que têm. Com todo o respeito pela vossa juventude e por aquilo em que ainda acreditam. Por favor, não deixem de acreditar. Dizem que a fé move montanhas. Mas a verdade é que a vida é tudo menos fácil, mas não é por isso que vamos desistir de viver.
Quem sabe se não é isso que a torna assim tão interessante...
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