Não, não vamos falar de sexo. Não de sexo no sentido em que nos vem logo à cabeça, apenas e só ligado à genitalidade e ao acto sexual.
Mas podemos falar de sexualidade, de intimidade numa relação a dois, de sexualidade enquanto expressão do amor.
Porque é que no nosso imaginário a sexualidade está tão associada aos órgãos genitais e tão menos à vivência saudável de uma relação?
Porque é que se insiste tanto numa educação para a sexualidade e não de uma educação para as relações?
Vivemos a sexualidade com um pé no paraíso e outro no inferno. Vivemos a sexualidade cheios de ambiguidades - é tão bom, mas é pecado; deseja-se, mas deve reprimir-se; é bom, mas pode ter consequências negativas...
Porque é que a educação sexual nas escolas praticamente começa com um "Têm de ter cuidado" e passa-se imediatamente para as doenças sexualmente transmissíveis, para os perigos de uma gravidez na adolescência, e por aí fora? Prevenir não pode ser meter medo, tornar este assunto num bicho papão, sobre o qual temos de ter pezinhos de lã e mil cuidados.
Vivemos as nossas vidas baseando-nos em mitos. Também no campo da sexualidade construímos a nossa realidade baseada em mitos e preconceitos e crenças enraizadas e muito valorizadas.
“Quando há amor a sexualidade surge de uma forma espontânea e o prazer é a consequência imediata”
“Um casal que se ama tem uma vida sexual intensa”.
“Uma relação saudável é aquela em que não há conflitos”
“Numa relação sexual o orgasmo deve ser simultâneo”.
"Se há amor há desejo"
Se há amor há desejo? Forçosamente?
Há uma crença partilhada de que o desejo é automático em pessoas que se amam. Então se não há desejo isso significa que não há amor?
Obviamente que isto leva a um enorme stress, no casal.
O que tem menos desejo, sente-se pressionado, sente que tem problemas. O outro sente-se rejeitado, não desejado, o que reforça o mal-estar do outro.
Esta pressão leva a que o que tem menor desejo, tenha relações sexuais só para agradar. Ou acredita que se tiver relações, o desejo vai reaparecer.
Temos, enquanto adultos, de perceber o que é que a sexualidade representa nas nossas vidas, porque são as nossas teorias, as nossas crenças que influenciam o nosso comportamento.
Sabem uma coisa? A forma como nos vemos, como achamos que o nosso parceiro cuida de nós e como ele nos vê, regula o nosso desejo sexual.
A forma como eu me vejo, a forma como eu vejo o outro, como eu penso que o outro me vê, a minha história de vida, os meus modelos internalizados, a forma como eu construí na minha cabeça a ideia do que é um casal, a forma como eu vi os afectos serem geridos na relação entre os meus pais, os meus medos, a minha confiança, a minha autonomia em relação ao outro, a minha capacidade de me entregar e até a capacidade de estar só, vão interferir no desejo. E esta é só uma parte da equação, porque existe o outro e ainda existe um terceiro elemento, que é a própria relação, que vai co-evoluindo, com respeito e compreensão, facilitados pela comunicação.
Amar o outro é não precisar dele. Algo está mal no reino da Dinamarca quando precisamos do outro para gostarmos de nós próprios, para nos validarmos, para nos sentirmos fortes e seguros.
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