Eras capaz de ser violento, até de matar, de roubar...
Dentro de circunstâncias atenuantes que até parecem as certas.
No fundo, já pensaste nisto? Até onde eras capaz de ir? Mesmo que só apenas para proteger ou vingar os teus?
No fundo somos assim os seres humanos. Está na nossa natureza. Estará?
Muitos de nós nunca admitiríamos, mas que há um lado negro que todos temos, camuflado, atenuado, culturalizado, domesticado, reprimido por um enorme super ego, lá isso há.
A Psicologia Social mostrou vezes e vezes sem conta que todos, por uma razão ou por outra, somos capazes de passar para o lado mais sinistro, mais negro, se formos levados a tal.
Calma. Então somos todos uns monstros? Já não há cordeiros? Foram todos comidos pelos fortes e grandes lobos maus, sempre à espreita?
Não. Nós também somos capazes de carinho, de empatia, de gestos de caridade, de lealdade, de amor profundo e verdadeiro pelos outros. Muitas vezes por aqueles que nem conhecemos, como tão bem mostrou a tragédia das últimas semanas e tantas antes dessa.
Quando eu era miúda e o meu pai, viciado em westerns, lembro-me de lhe perguntar sempre, até ao ponto de quase o chatear: "Pai, quem são os maus?", para tentar fazer uma separação, para entender a história, que, com a idade que eu tinha, e porque os filmes trabalham muito bem essa questão, era mandatário saber de que lado é que me devia posicionar. Quem eram os bons. E sim, sempre quis ficar do lado dos bons. Chamem-me betinha. Mais tarde, já na faculdade de psicologia lembro-me de ouvir que esse termo se chamava clivagem e que só as crianças e os loucos o faziam. Os outros sabiam que ninguém é só bom ou só mau. Somos uma mistura de tudo o que nos acontece, de todas as experiências que vamos tendo e que ficam presas em nós, desde a infância.
Até aqui tudo bem. Mas será que sabemos avaliar-nos até que ponto conseguimos fazer o bem.... por exemplo, sem olhar aquém, ou fazermos mal se a isso formos levados, forçados ou apenas só porque sim, porque tivemos um dia não e apetece-nos mesmo enviar uma foto comprometedora ou uma piadola a alguém que não gostamos? Quantas e quantas vezes descarregamos as nossas raivas e frustrações nos nossos maridos, companheiros, pais, filhos...
Já não somos mais crianças. Já conseguimos perceber que todos nós, gente mais ou menos normal, sente raiva, ciúme, inveja, sentimentos de inferioridade, orgulho doentio, ganância..
Mas também sentimos compaixão, humildade, empatia, generosidade, amor, confiança, fé, felicidade só por fazer ou mesmo só por ver outros felizes..
Nós somos ambos, os que fizemos o bem e os que fizemos o mal. E por vezes nem pensamos nisto. Mas eles estão dentro de nós, a lutar pelos seu espaço, a vencer as suas dores, a curar os seus demónios.
Quem ganha?
Se eu tivesse a resposta...
Se eu tivesse a resposta talvez dissesse: Talvez aquele que alimentares mais....
1 comentário:
Se fizeres o bem vais pro céu???
E se fizeres o mal, para onde vais? Pra todo o lado????
Texto maravilhoso
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