Hoje é um dia feliz. Não, hoje é um dia super feliz. Hoje talvez seja um dos dias mais felizes de toda a minha vida.
Dizemos sempre algo parecido a cada ano que passa. Em cada ano que se soma, em cada primavera que se acrescenta. O primeiro aniversário é o primeiro. Há poucas palavras para descrever o que se sente, quando, finalmente, passados onze meses, podemos contar 1 – e não interessa nada porque voltamos logo daí a um instante a fazer tudo como dantes e os 12, os 13, os 14 meses é que contam, porque o nosso baby ainda não pode ser um rapaz, isso não!
O terceiro aniversário é tão doce quanto o primeiro e agora sim, tão verdadeiro, estamos prontas para largar assim com um adeus saudosista, os meses dos nossos dedos e da nossa lista e começamos a ver cada vez menos um bebezinho na cara linda do nosso rapaz.
O sexto é assim à séria, tira a barriga da miséria, já não chega para uma mão. É um número redondo, dos joelhos esfolados, dos tombos e de alguns ais. Dos risos desdentados, da ida para a escola e das letras, dos números, das namoradas e dos namorados e um pouquinho do adeus aos pais.
O décimo segundo é a entrada na adolescência e nós sempre a pensar – mas se a adolescência acaba mais tarde, porque é que não é mais tarde que vai começar?? Lá vêm os desafios, as mudanças de voz, o gostar mais dos avós, a falta do beijo ao deitar.
O décimo quinto é a adolescência em pleno. Para alguns é um sossego, para outros é melhor nem sequer falar. É a escolha definitiva da área, num futuro profissional que ainda está tão distante. Porque é que tem de se ser já adulto quando ainda se é tão infante?
E depois o número que intimamente desejamos e tememos, o número da sorte, do crescimento, do desapego, o número que significa o princípio do fim ou o início de um maravilhoso mundo novo.
18 anos, socorro. Aqui para nós, pais, que já o vivemos. Não é nada, mas ao mesmo tempo mete cá um respeito...
Confesso que não escrevi este post hoje. Hoje não seria capaz. Estou demasiado emotiva para o fazer.
Hoje, dia vinte e um, do um, de 2019, só me consigo reportar ao dia vinte e um, do um de 2001 e às benditas 26 horas de trabalho de parto. Foi nesse dia, às 4.40 da manhã que me estreei nisto que é o “negócio” da maternidade. Já lá vão 18 anos. Mal eu sabia onde me estava a meter. Tinha 25 anos e achava que estava pronta para tudo. Olhando para trás, meio enternecida, só vejo uma miúda, que pouco ou nada sabia da vida.
Não, hoje não. Hoje estava demasiado emocionada para o fazer.
Há meses sem fim que não escrevia no blog. Curiosamente foi o único desejo que pedi para ser concretizado para 2019, voltar a escrever. E sim, Afonso, esperei por ti.
O meu filho é hoje maior de idade e eu nem sei como continuar…
- Mãe, lembras-te quando me dizias que aos 18 podia sair à noite e não ir só a jantares?
(Mas quando disse isso faltava uma eternidade. Como faço agora para me desenvencilhar?)
- Mãe, achas que aos 18 podia experimentar a fumar os vipers, aqueles cigarros que não têm nicotina e são de vários sabores?
(What?? Prometo que escrevo um post sobre isso, imprimo e dou-te para ler, para refletires sozinho e depois temos uma conversa sobre isso, ok? Acho que não fazes ideia dos malefícios. Mas não te vou chatear hoje com isso.)
Sim, fazer 18 é uma coisa em pleno, quase parece que tudo se alinha no mapa astral, não só para os nossos putos que se sentem grandes, uns crescidos, mas também para os pais, sobretudo do ponto de vista emocional. Tudo muda. Ou quase tudo. Até do ponto de vista legal!
As hormonas já dispararam, embora não me possa de todo queixar. Tenho o filho mais amigo, mais companheiro e preocupado que se possa imaginar. Ele não diz que vai fazer isto ou aquilo, ele não informa. Ele pede, como sempre pediu e eu sei que isso não vai mudar. E ele próprio escolhe aquilo que acha que deve pedir e não arrisca quando sabe que vai ouvir um não. Chama-se ter um bom locus de controlo interno. Tenho muita sorte, pois então!
Os amigos são o mais importante do mundo. A parte das redes sociais, das conversas e da vida
online. O estudo fica muitas vezes num lugar distante da lista de prioridades e custa quando eu vejo nele tantas capacidades. Mudou de área, voltou atrás. Foi uma decisão ponderada, discutida, reflectida. Foi o melhor que fez. A moratória que tanto Erickson falava tem de ser isto. Os adolescentes escolhem o seu futuro cedo demais. É importante terem mais tempo para reflectir, para decidir, para experimentar, para arriscar, para errar e poderem voltar atrás, a caminho de novos rumos, se assim tiver de ser. Numa sociedade de competição desenfreada, ensinar aos meus filhos que a felicidade está em ter juízo e o juízo está em saber dar tempo ao tempo é algo que eles levam consigo e que espero que ensinem também aos seus filhos um dia mais tarde. Não estou a ensiná-los a ser irresponsáveis, longe disso, mas a dizer-lhes que a responsabilidade leva tempo a ser aprendida e apreendida, substanciada, desenvolvida. É que ser responsável é também perceber que há vários caminhos e que não há só uma linha reta, uma linearidade absoluta que nos conduz do ponto A ao ponto B.
Aparece também nesta fase a lógica adolescente – ficamos com a quase certeza que todos os miúdos entre os 15 e os 18 deviam ir para direito, relações públicas ou relações internacionais. Não há ninguém como eles a defenderem o seu ponto de vista. Eles são os tais! Mesmo que não digam nada de jeito defendem o que acreditam com unhas e dentes e não largam até que os pais desistam, vencidos pelo cansaço. São mestres nisso. E do improviso.
E quando falam por entre dentes e nós não nos contemos e atiramos com um “O que é que disseste?” ou “Repete lá isso outra vez” e eles, muito a custo, lá nos dizem um “Nada”, sabendo nós que foi um nada como que a querer dizer tudo.
Não, eu não odeio
teenagers, muito pelo contrário. Tanto em casa como no consultório tenho tido ao longo dos últimos anos experiências maravilhosas. A adolescência tem sido para mim uma feliz descoberta.
Sim, claro que há desafios. Já apontei uns quantos. E quando eles adoram apontar-nos as falhas? Tal como nós lhes apontámos algumas, senão bastantes vezes. Será que andámos por aqui a criarmos uns pequenos grandes e giros monstros?
O meu filho tem crescido a olhos vistos. Não só em altura, mas também em maturidade. Penso que as coisas não vão mudar por cá assim tanto. Eu penso que sempre seguirei a velha máxima, obviamente adaptada à idade –
My house, my rules!
Se ele é um adulto? Nem pensar. Espero que se ele ler isto acabe a concordar comigo. É um miúdo. Pelo menos o meu miúdo. Um grande filho. Um grande amigo. Mais crescido do que já foi. Mas sempre o meu miúdo. Mas até eu nem sempre me sinto uma adulta! Vamos lá a ver bem as coisas. Este é ou não é um processo sem fim?
Esperemos para ver o que o futuro lhe/nos reserva. Agora estou cá para ele. E sei que ele está cá para mim.
Feliz 18 anos meu amor maior.
Da tua, sempre tua,
Mãe