Quando estava a preparar o casamento (ou a preparar-me para
o casamento) achei que havia muito pouco para preparar. Tinha muita vontade de
ter uma cerimónia pequenina. O que era enorme era a vontade de dizer sim.
O percurso não foi fácil. Como todos sabemos, uma coisa é
querermos estar sozinhos, outra coisa era termos de estar sozinhos. Chegámos a
ponderar muito adiar, até que decidimos manter o plano inicial, ou melhor,
aceitar que não havia plano, que íamos andar num arame sem rede. E o que
tivesse de ser, seria. Celebrar em ano de pandemia era aceitar o imprevisto,
mais ainda do que já é habitual.
E assim foi.
Uma semana e meia antes lembrei-me que não tinha bouquet. E
poucas eram as coisas que não queria que faltassem: o bolo, a maquilhagem da
noiva e o bouquet.
Os bouquets tradicionais não me diziam muito e comecei então
a pesquisar. Vi bouquets que tinham tudo a ver comigo, mas não encontrei nada
em Portugal. Comecei por procurar perto de casa e…nada. Nessa altura já tinha
uma visão muito clara do que queria - as pesquisas têm destas coisas.
Encontramos coisas lindas e depois não nos contentamos com menos.
Resolvi partilhar algumas dessas imagens no 4D e pedir a
ajuda do meu público 😊. Confesso que não estava à espera de muitas
respostas. Mas as respostas apareceram e não tenho palavras para agradecer. Sem
o saberem deram-me uma sugestão que, a
meu ver e naquela altura, mudou a minha vida – sim, as mudanças fazem-se de
coisas pequeninas e o que nos faz feliz não tem preço.
É precisamente pela ajuda que tenho de partilhar esta
história convosco, já que fizeram parte dela e foi aqui que a história
realmente começou. Até aqui foi só o prólogo. A seguir vem uma espécie de conto
mágico ou bocadinhos de vidas que se entrelaçam, o que quase parece um poema.
De entre as várias sugestões que fui espreitando nesse dia,
surgiu uma que me fez dizer logo ali: “ai, acho que é isto!!”.
Nunca tinha ouvido falar. Munukiá. Gostei do nome, mas mais
ainda dos arranjos e dos bouquets que fui encontrando numa página linda, suave,
cheia de carisma. Era precisamente aquilo. E perdi-me de amores por um arranjo
que tinha as cores certas. Que conjugava na perfeição com as cores escolhidas
para o “grande” dia.
Pode parecer tolo, mas pedi ao noivo para me oferecer o
bouquet. Nunca ouvi essa superstição (se a tiver acabado de inventar, pois que
seja), mas achava que não devia ser eu a comprar o meu próprio bouquet. Sei que
há quem diga que deviam ser os padrinhos, mas escolhi dois homens e quando se
escolhem dois homens para padrinhos, dá nisto – “É melhor deixá-los estar
sossegadinhos”.
O meu excelentíssimo futuro marido disse que sim, que
tratava de tudo. Vimos juntos o bouquet, ele gostou muito, tentámos perceber se
as medidas apresentadas faziam sentido e achámos que tudo encaixava na
perfeição.
Então, ele fez o pedido. Pagou e estava feito.
No dia a seguir ou dois dias depois lembro-me de lhe ter dito
que devíamos dizer que era para um casamento. Ouvi um “Amor, não te preocupes”
e achei que ele tinha enviado mail a explicar. Claro!
Entretanto, os correios estavam um caos e na quarta feira o
bouquet não tinha chegado, quando o casamento seria no domingo.
Como um arrufo pré-nupcial fica sempre bem na moldura,
fiquei um bocadinho zangada quando percebi que ele não tinha chegado a enviar
e-mail a mencionar a importância, a necessidade vital, que o dito chegasse
a tempo e perfeito.
Pronto, como mulher que sou, acabei a dizer: “deixa estar
que a partir daqui tomo eu conta do assunto”.
Não termina quase sempre assim?
Enviei então um mail à Munukiá, apresentando o meu receio de
que alguma coisa pudesse correr mal, já que no dia a seguir já era quinta-feira
e pelo andar da carruagem a encomenda não ia chegar a tempo. Acho que adorei
delegar e depois não me contive e tive medo que alguma coisa fugisse ao meu
controlo – sim, sou assim com (quase) tudo. Dizem que é por ser Virgem!
Estava então em pânico, prevendo que o bouquet não chegasse,
porque os correios e as transportadoras andavam a mil. Mas afinal chegou. Chegou
com um dia de atraso, apenas isso.
Mas a parte mais bonita da história começa agora.
A Matilde, a mentora e executora da marca, foi um tesouro
que eu descobri. A vida é mesmo engraçada e por vezes está do nosso lado. Nem
sempre é madrasta, como nós estamos sempre a pensar. A Matilde reconheceu o meu
nome no e-mail e disse que só naquele momento é que estava a dar-se conta de
que aquele bouquet era para mim e para o meu casamento - lembrem-se que quem
fez os contactos e o pagamento foi o Carlos.
A Matilde afinal seguia o 4D há já muito tempo. Que maravilha!
Segundo ela, devíamos ter-lhe dito que era para um casamento,
porque há flores muito frágeis e que não aguentam um dia todo de um lado para o
outro e que ela teria todo o gosto e disponibilidade para aconselhar. Mas
acreditem, não foi preciso! O meu lindo bouquet resistiu a muito e agora está
no nosso quarto, a enfeitar - um bouquet de flores secas é uma ideia top!
Mas a nossa narrativa ainda não termina aqui…
A Matilde, arquiteta de profissão e flower designer (a
Munukiá é um projeto handmade, criado em abril de 2020, em plena pandemia)
disse que se o bouquet não chegasse a tempo, metia-se no carro, fazia mais de
uma centena de Km e vinha entregá-lo pessoalmente.
No dia a seguir o bouquet chegou e a Matilde foi a primeira
a saber. Nessa altura perguntou-me se depois de todas as nossas conversas -
foram cerca de 24h de conversa - poderia
estar presente no casamento de outra maneira, se poderia sugerir os
minibouquets ou miniarranjos (penso que o nome certo, segundo aprendi com a
Matilde é mesakiá), iguais ao bouquet da noiva. Serviriam para marcar os
lugares na mesa e para oferecer aos convidados.
Eu achei a ideia maravilhosa. E não sei como é que a Matilde
conseguiu… mas conseguiu!
Sei que trabalha
quase a tempo inteiro na sua marca e ainda tem de roubar muitas horas ao dia
para continuar a trabalhar nos projetos de arquitetura. Bravo!
Na quinta feira à noite a Matilde fez os 15 bouquets. Na
sexta levou-os à Rede Expresso e nessa mesma tarde estavam na Figueira da Foz.
No sábado escrevemos a data e o nome de cada uma das nossas pessoas (as que
podiam estar presentes, que eram muito poucas e as que não poderiam estar, mas que
iriam receber depois) numa etiqueta de sementes de flores. No sábado à noite
estavam a ser entregues no espaço onde celebrámos o casamento e no domingo
estávamos a celebrar. Parece simples dito assim, não parece? 😊
E sim, no meio do caos nascem flores.
Esta é uma das histórias mais bonitas que tenho para contar
sobre estes dias.
São momentos como estes que fazem parecer que dentro de
qualquer vida comum há sempre um pouco de magia.
Obrigada Matilde – Munukiá
Tenho de elogiar a sua capacidade de trabalho, a sua
criatividade, a sua simpatia, a sua disponibilidade.
Recomendo vivamente.
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