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quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Perda gestacional







Um sonho que se desfaz. O que fazer depois disto?

Falar de perda, de qualquer perda, é muito difícil.

Mas ainda há tanto para relectir.

Quando acontece uma perda, qualquer perda, é muito importante haver possibilidade de nos despedirmos, como forma de entender o significado e processarmos e elaborarmos a perda.

Um sonho que se desfaz. O que fazer depois disto?

É importante termos uma atitude transformadora perante a dor - o que muda, o que pode mudar é a forma de lidarmos com a perda. A dor nunca vai passar.

Falar de perda, de qualquer perda, é muito difícil.

Meu Deus, como é importante que todos percebam que perder um filho dói, mesmo que não chegue a ter vivido fora da barriga.



Maravilhoso documentário...não deixem de ver.




terça-feira, 20 de setembro de 2016

A capacidade de estar só ou como lidar com a solidão



Estamos sempre em rede e afinal estamos quase sempre sozinhos.

Há dias li um comentário de uma amiga virtual que dizia que ninguém se devia fiar no número de amigos do facebook – o mesmo é dizer que o número de amigos do facebook não é indicador de uma rede de suporte consistente no mundo offline. Foi só um comentário que alguém deixou a alguém, mas para mim tocou numa questão sobre a qual tenho reflectido bastante e trocado impressões com os meus botões.

A verdade é que estamos na era do “ao alcance de um toque”, mas estamos cada vez mais sozinhos.

Quando comecei a minha relação, que passou a casamento e terminou em divórcio, estávamos ainda a anos-luz da realidade actual. Eu ainda tinha uma máquina de escrever em casa… Por amor de Deus! Depois passei para computador, mas sem internet e quando voltei a ficar solteira, muitos anos depois, o mundo tinha mudado – internet, facebook, instagram, twitter, touch, ipodes, ipads, iphones, chats – e nada mais seria igual.

“No meu tempo” não estávamos à distância de um toque, mas também não havia tantos mal entendidos: porque se está online, porque não se está online, porque não respondeu ainda à mensagem enviada, porque aceitou um pedido de amizade de x, porque enviou um pedido de amizade a y… Podia haver outros temas, mas estes não havia de certeza. Isso quer dizer que os desaguisados modernos são apenas frescuras dos tempos que se vivem? Frescuras ou não – não me parecem frescuras, porque quanto a mim este assunto é sério – são, sem dúvida fruto da era em que vivemos. E isso assusta um bocadinho…

Não sei se antigamente era melhor. Era sobretudo diferente e temos de pensar nisto para podermos agir, para podermos retirar o que de bom a vida online nos trouxe e tentar de alguma forma contornar os problemas que também nos trouxe. E são muitos, de facto.

Antigamente estávamos mais sozinhos…mas sentiamo-nos menos sós. Parece paradoxal, mas faz sentido, se pensarmos bem. Antigamente sabíamos esperar, sabíamos lidar com a espera, sabíamos lidar melhor com as frustrações, com a solidão, as rotinas e com a presença do outro, quando ela existia. Podíamos passar mais tempo sozinhos, mas as relações eram mais vividas presencialmente. Agora está-se quase sempre presente na vida do outro, mas efectivamente isto é um engano, uma ilusão.

Fala-se muito da falta de toque, do viver por trás do ecrã, de coleccionar relações em relativamente às quais não nos entregamos totalmente, tudo para explicar as grandes neuroses dos tempos em que vivemos

Eu vejo a vida actual de uma forma um pouco diferente.

Vê-se mais, exige-se mais, controla-se mais… e não sabemos lidar ainda com isso. Estamos mais contactáveis, o que pode ser bom, mas isso é válido para todos, o que leva a mais ciúmes, mais controle, mais obsessões, mais depressões…porque percebemos que no fundo não controlamos praticamente nada e a vida escorre-nos por entre os dedos. A verdade é que nunca controlámos, mas antigamente não tínhamos tanta percepção disso quanto agora. Não conseguíamos chegar ao outro tão facilmente, ele não estava tão acessível, mas também não estava acessível a ninguém, quanto muito aos colegas de trabalho – as infidelidades estavam quase todas associadas ao trabalho e agora há um sem número de novas possibilidades. Agora, as pessoas estão acessíveis praticamente 24 horas por dia e chegam em segundos a qualquer parte do mundo.

Já li artigos que referem que agora somos todos mais fracos, que nos escondemos atrás dos écrans, que os laços criados não têm consistência e que podem ser facilmente desatáveis, mas, no meu ponto de vista, somos todos mais fortes para conseguir sobreviver nesta enorme selva tecnológica, em que a segunda pergunta, depois do “Como é que te chamas” é “Tens facebook?”.

Temos de ser fortes porque temos de confiar mais no outro, na relação e em nós próprios. Temos de trabalhar cada vez mais a capacidade de estar sós, quando o outro está mesmo “ali ao lado”. Tem de se confiar que, mesmo com tantas mudanças a acontecerem simultaneamente, nada vai mudar irremediavelmente no minuto a seguir. Temos de ter essa segurança. As pessoas ainda gostam uma das outras à boa maneira de outros tempos e temos de acreditar piamente nisso.

O bicho papão é a solidão que sentimos e os aliados da solidão são vários, principalmente o medo de sermos trocados, de não sermos suficientemente bons para mantermos uma relação que perdure no tempo, o medo de não conseguirmos preencher o vazio que sentimos e de não termos resposta para tantas dúvidas que nunca poderão ser respondidas. E se a solidão é o bicho papão e o medo o seu grande aliado, o antídoto está no salto de fé que temos de dar. Temos de acreditar, continuar a acreditar, não parar de acreditar. Mas acreditar no quê? Na integridade, na verdade, na bondade das pessoas, na solidariedade, na capacidade de amar os outros e sobretudo a nós mesmos, na capacidade de aceitarmos que não somos donos de nada nem de ninguém, de que ninguém verdadeiramente nos pertence, na capacidade de aceitarmos que a vida é feita de escolhas, de escolhermos parar de nos sentirmos ameaçados, na capacidade de pararmos de controlar o outro, de sabermos esperar, de aprendermos a desligar.

Quando decidirmos lutar por nós, vamos treinar a possibilidade de desligar, de relativizar, de sermos mais calmos em relação ao que nos rodeia, às pessoas, coisas e circunstâncias, fortalecemos o amor-próprio e a capacidade de estarmos sós. Aprender a desligar na era dos mil olhos abertos dia e noite parece uma inconsistência, mas talvez o caminho seja mesmo por aqui. Só podes estar verdadeiramente conectado a alguém, criar laços consistentes, se aprenderes a desligar.

Back to basics. Ah pois é! Achas que consegues?



sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Setembro, o acidente e daqui para a frente



Setembro é o meu mês. Fatal como o destino. Desde o dia em que nasci – pensando bem, não sei se foi este amor- ódio que tenho por Setembro que fez com que a minha filha Concha decidisse vir mais cedo e ainda ser de Agosto.

Setembro é um mês difícil. Ponha a mão no ar quem está comigo nisto. É um mês de recomeços, que pode também ser um mês de fins para quem costuma ver mais o copo meio vazio do que meio cheio. Sou de Setembro e sou professora. Percebem a incongruência? Para nós as férias não são só uma pausa para voltar ao trabalho, no ponto em que o deixámos. Setembro significa começar tudo de novo e lidar simultaneamente com o desconhecido. Nunca é um simples “até já”. Despeço-me muitas vezes dos meus alunos com um “até sempre”. Por isso, bem contextualizado, faz sentido algum nervosismo que sinto em relação a este meu mês.



Este Setembro, logo no dia 1, para mostrar que eu e Setembro nos damos como Deus com os anjos, tive um acidente de carro. Não sei explicar o que aconteceu, apenas que ia ao volante, perdi os sentidos e tudo o que vem a seguir podem imaginar como foi.

Um acidente como este mexe muito connosco, seja em Setembro ou em qualquer mês do ano – mas tinha de ser em Setembro?? Quando eu digo que mexe muito connosco significa que põe a nossa vida em perspectiva, pelo menos para aqueles que são dados a pensamentos profundos – já repararam o quanto eu gosto de pensamentos profundos, daqueles que pululam pelo facebook?



Agora fora de brincadeiras, um acidente assim confunde-nos, angustia-nos e passamos por algum tempo de reflexão e perplexidade até que aparece outra sensação, desta vez muito melhor, de voltarmos à vida. Mas com muito cuidado e jeitinho.



Têm -me perguntado bastante como estou, têm-me enviado mensagens, têm sido uns queridos…mas eu ainda não sei bem o que responder. O politicamente correcto ou o que estou mesmo a sentir? Devo dizer que não foi nada, que podia ser muito pior, que a vida continua, que é preciso olhar para o que nos acontece como lições e optimismo ou que apanhei um valente susto, que me fez andar a questionar o sentido disto tudo?



Ver os papéis do Hospital, entrada como caso urgente, os politraumatismos, os exames todos de despistagem, a amnésia… as coisas que continuo a não conseguir lembrar – isto é o mais próximo que já tive de quem passou verdadeiros dramas por uma parte da sua vida ser apagada do seu cérebro. Parece daquelas histórias de telenovela, mas pode bem ser verdade.

Tive uma aluna que depois de uma cirurgia aos ouvidos que não correu muito bem, acordou sem se lembrar dos últimos dois anos da sua vida. Tinha mudado de curso, o namorado tinha terminado a relação, ela tinha depois conhecido outro rapaz com quem começou a namorar e… quando acordou nem sequer o conhecia. Dramático!

Eu tinha falado com ela sobre essa situação difícil e como psicóloga activei toda a empatia possível, que, em boa verdade, qualquer pessoa consegue sentir neste caso, tenha sido treinada ou não para isso. Mas curiosamente foi das primeiras pessoas em quem pensei, embora já não a veja há talvez dois anos. Lembrei-me dela e do seu sofrimento e dei por mim a pensar que só sentimos verdadeiramente a dor do outro quando a vida nos presenteia com experiências semelhantes. Antes são flashes, só flashes. Ser empático é ser filtro ou é ser esponja?

Enfim, questões e mais questões…

Porque é que coisas trágicas acontecem quase sempre perto de datas rituais? Porque é que tive de passar por tanto no último ano? Porque é que teve de acontecer no dia anterior à tão desejada viagem? Porque é que é tão difícil relativizar tudo… e pronto? Será que pensamos demais? Eu penso, não tenho dúvidas. Eu penso demais, logo existo. Eu penso demais, logo sofro a triplicar…



Recomeçar é tramado. Ou então um caminho sem obstáculos difíceis não é um verdadeiro caminho. Convenhamos que podia ser tudo um bocadinho mais fácil, não?

E agora? Agora é novamente hora de recomeçar porque Setembro grita por isso. Batemos em colisões frontais, caímos, levantamo-nos e continuamos o caminho. Ao menos, quanto a mim, devemos retirar lições dos tropeções da vida, para que continuemos o trajecto, mas de uma forma diferente. Para que não tenha sido em vão. Ao menos que sirva como um abrir de olhos.

Obrigada à vontade de escrever, que voltou. Muito tímida ainda, mas voltou. Obrigada à mãe, sempre à mãe, que está sempre lá para que voltemos a andar pelas nossas próprias pernas, que não nos deixa sozinhos, tenhamos nós 1, 5, 15 ou 40. E quem diz mãe diz família e quem diz família diz amigos, porque tudo só faz sentido em relação.

A semana passada li um artigo que dizia que chorar pela perda de um amigo era “mariquice”. Quando perdemos um amor as pessoas dão-nos palmadas nos ombros e abraços apertados e ainda nos deitam alguns olhares de compaixão. Mas se quando se perde um amigo a dor é vivida sozinho, o que dizer de quando se perde uma parte de nós, quando na realidade não se perdeu nada em concreto? Essa é a dor mais solitária que existe. Mas ser adulto pelos vistos é isso – ainda estou a tentar descobrir. É gerirmos o vazio existencial, integrando-o e aceitando-o como parte da vida. Isso e aguentar firme. E se não aguentarmos sofremos em silêncio, porque nada de mostrar tristeza na era do optimismo, em que a ideia subjacente é “deixa-te de mimimi e rema, que para a frente é que é o caminho”. Não nos é permitido estar tristes, porque há sempre quem tenha passado por coisas piores e não se foi abaixo. E se não for por isso é simplesmente porque no fundo não há pachorra para aguentarmos as dores dos outros e talvez dessa forma não tenhamos de nos confrontar com os nossos próprios males. De facto, termos pena de nós próprios é considerado um dos grandes pecados mortais.

Sei que sou um bocadinho contra corrente, mas neste momento não consigo afirmar que o pensamento positivo sempre vai resolver tudo e que devemos passar o tempo a agradecer a vida que nos calhou na rifa. Obviamente que não quero aqui fazer a apologia da tristeza, mas também acho que não podemos constantemente estigmatizar, reprimir, esconder o que vai dentro de nós, aquilo que sentimos e que pode não ser assim tão optimista.

Há uma equipa de psicólogos de Harvard que diz que só podemos ser felizes se nos permitirmos experienciar a tristeza e que os sentimentos negativos, quando vivenciados, ajudam a processar cognitivamente, de forma mais lentificada, as coisas que nos vão acontecendo, permitindo-nos assim tirar conclusões mais ponderadas, mais significativas, mais impactantes sobre o que nos aconteceu, sobre a vida em geral.

Então, se não se importam, vou permitir-me andar triste por mais um tempinho, enquanto vou reenquadrando o acidente como uma metáfora ou ensinamento da vida.



E o que fazer daqui para a frente? Como sei que a apreensão e tristeza, se não geridas, podem levar a algo mais sério, algo pelo qual não faço intenção de passar, quero recomeçar a viver, quero fazer coisas diferentes, quero sentir que vale a pena. Quero escrever. Quero mudar de paradigma. Dizem que só vivemos uma vez, mas na vida que vivemos, morremos e renascemos uma e outra e outra vez. É realmente possível? Quero resolver este enigma.



quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Vicente e a entrada no primeiro ciclo

Hoje foi dia de apresentação. A directora pediu que os meninos se sentassem à frente, virados para a frente e os pais atrás, ou seja, sem manterem contacto visual.
Assistimos a um pequeno espectáculo apresentado por alunos mais velhos. No fim, foi distribuído pelas crianças uma folha com um poema. Depois foi pedido que se levantassem para cada grupo ir para a respectiva sala. Quando o Vicente se levantou e olhou com ar muito angustiado para mim, estava em lágrimas. Eu "quebrei o protocolo" e fui ter com ele. Mantive-me calma, acalmei-o e não fiz interrogatório. Depois de pais e filhos estarem na sala de aula e depois de irmos à biblioteca buscar os livros era hora da apresentação da mana na escolinha ao lado. Antes de passarmos para essa parte, e já fora da escola, eu quis perceber o que é que tinha acontecido. E ele respondeu.
Mãe, deram uma folha com um texto, mas eu ainda não sei ler!!!


Meu queridíssimo Vicente, mesmo quando os meninos parecem muitos calmos, estes dias são de agitação interna e medos. Não é assim?
Adoro-te e vai correr tudo bem. Com medos e tudo. Estás ávido por aprender e eu quero acima de tudo que aprendas a ser feliz.

Ler é muito mais do que juntar letras. Agora sim, vais-te sentir a crescer por dentro, vais abrir os teus braços a mil novas possibilidades. Estou tão contente por ti. Apreensiva, que coração de mãe foi feito para andar muito apertadinho, mas essencialmente em êxtase por te ver a ganhar mundo e a seres o menino que és. Doce doce Vicente.




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