Não vou dizer que não gosto do Natal, porque gosto. Não gosto é de algumas coisas do Natal. Também gosto de sair do dentista com os dentes branquinhos, depois de uma limpeza à séria, mas tremo só de pensar em deitar-me naquela maldita cadeira. É mais ou menos a mesma coisa (nesta altura estão vocês a tentar perceber a minha lógica).
Gosto muito do Natal porque os miúdos vão para a casa dos avós logo que começam as férias e eu fico com algum tempo para namorar. E o que eles gostam da casa dos avós e o que nós precisamos de namorar. E depois vem a altura em que nós vamos ter com eles e passamos uma semana em família, longe do bulício dos dias. E que bom que é.
Gosto de imaginar a cara deles, felizes com os presentes - mas stresso um pouco a pensar se os mais pequenos, que querem TUDO, na altura vão adorar a infinésima parte do TUDO, ou se se vão lembrar é dos 9999 brinquedos que não receberam. O marido diz que sou tola, que claro que eles vão gostar é daqueles. Eu ainda não estou completamente convencida...o que é que querem, sou mãe!
Gosto de receber postais, e-mails, sms e até aviões com mensagens de apoio, perdão, de boas festas. Mas só dez ao todo, pode ser? Pronto, 20. Mais do que isso já não leio, confesso. Apago tudinho. Queira Deus que em nenhum desses e-mails venha escrito que também ganhei a lotaria de Natal.
Gosto de ver as pessoas bem dispostas, porque as há, elas andam aí. Não estão todas mal dispostas, a empurrar carrinhos de compras, maridos e filhos, com caras furiosas e sedentas de sangue. Tenho recebido mais sorrisos, mais palavras simpáticas, mais piadas com graça...e tenho retribuído! Sim, o Natal tem esse efeito em mim, vejam lá.
O Natal foi o mote para organizar um jantar há muito esperado. Ah e tal, podemos celebrar e estar com os amigos sempre que se quiser...mas a verdade, dura e crua, my friends, é que o Natal não pode mesmo ser quando um Homem quiser.
No Natal não gosto, por exemplo, do anúncio da Meo, nem um bocadinho. Por outro lado adoro o da Nós. Só por isso acho que devíamos aderir todos os Dont't stop me now - o Camané com ar castiço fica mesmo no ouvido.
Gosto de comprar presentes sim. Adoro. Nunca conseguiria dizer que este ano não comprei nem um presente de Natal. Mas nunca compro só porque tem de ser, mas porque quero. Não gosto se do outro lado esperarem por coisas caras, porque não as vão receber. Eu gosto mesmo é de lembranças originais, pensadas realmente para "aquela pessoa". E muitas vezes as ideias tcharan surgem-me em cima da hora. Por isso tenho presentes comprados há uns meses e outros comprados há bocadinho...e não stresso nem um pouco com isso.
Não gosto de ter de enfeitar a casa só porque sim, se a vontade não chegou. Então este ano tive uma ideia genial. Essa tarefa ficou completamente a cargo dos meus filhos, que deliraram com a possibilidade e ainda acharam que eu era a mãe mais super cool do planeta por ter-lhes confiado essa tarefa fantástica. Há que saber viver, my friends. Se está bom para aparecer nas revistas? No way Jose, mas não faz mal. Então este ano não faz mesmo nada mal. Logo se vê se para o ano fico com mais vontade.
Não gosto de ter de fazer embrulhos. Mas descobri que há lojas que embrulham, sabiam? E outras que vendem sacos e envelopes giríssimos, que é só pôr lá dentro e pronto. E mais importante do que tudo, descobri que o marido é um Ás nisso, um verdadeiro pro. E se antigamente - sim, que ainda sou do tempo de guardar lacinhos - o papel tinha de ser rasgado com muito cuidado, para ver se ainda podia servir para o ano seguinte (bom, a ideia de reciclar é importante, muito importante, mas não vamos agora por aí), agora é vê-los a delirar com o embrulho (acho mesmo que isso é o que mais os atrai) e eu a permitir que rasguem o papel sem qualquer compostura ou classe. O que a maternidade nos faz, valha-me Deus!
Gosto que haja datas para celebrar e rituais e natais que tornem estes dias mais especiais. Já imaginaram como seria passar um ano e outro e mais outro e não haver nada a marcar, a nos dar alento para continuar? Estas pequenas coisas é que nos dão força para seguir em frente. Estas migalhinhas são o ópio do povo, my friends. Fazem-nos falta. Fazem-me falta.
Por isso não me vão encontrar aos pulinhos de contentamento e a cantar Christmas carrols na rua, que sou do tipo mais contido, mas não me vão encontrar também com cara de poucos amigos, de certezinha absoluta.
Então entre uma coisa e outra, aqui ficam os votos sinceros (mas mesmo, mesmo, mesmo sinceros) de dias muito felizes. Bom Natal.
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