As estórias que as crianças contam a si próprias sobre quem
são, irá influenciar a forma como se percepcionam, como se sentem, como se
relacionam com os outros?
Pensem nisto e vejam por vocês próprios.
Não presto, não consigo fazer nada bem, ninguém quer ser meu
amigo é a estória ouvida durante muito tempo, contada muitas vezes por adultos
importantes para estas crianças, e que muitas vezes fica a estória da sua vida.
Criam-se padrões de imagens negativas desde a infância,
imagens que afectam profundamente o seu autoconceito, a forma como constroem o
seu eu.
Estes padrões que são, no fundo, padrões de auto-estima,
estabelecem-se muitas vezes logo desde tenra idade e vão-se perpetuando ao
longo da adolescência e em toda a vida adulta. As crianças interiorizam não só
o que ouvem mas o que vêem nos adultos que consideram especiais. É assim que
depois estes padrões se auto impõem. Para além disso as crianças podem acabar
por desenvolver determinados mecanismos, de forma a encobrir os seus
verdadeiros sentimentos de baixa auto-estima. Muitas crianças, adolescentes e
adultos que parecem ser egocêntricos e arrogantes, no fundo uma tentativa
exagerada de se sentirem bem consigo próprios, têm efectivamente
baixa-auto-estima, baixo auto-conceito, altos níveis de stress, baixa eficácia,
baixa capacidade de lidar com novas situações, entre uma panóplia de outras
coisas menos saudáveis.
As crianças com baixa auto-estima tendem a atribuir muito
pouco valor às suas capacidades e constantemente negam os seus sucessos. Também
não estabelecem metas, não fixam objectivos e não conseguem resolver muito bem
os problemas com que se vão deparando.
Algumas destas crianças têm um medo enorme, feroz, constante
de falhar. Estas, em vez de não traçarem objectivos como aquelas das quais acabámos
de falar, traçam objectivos elevados, tão elevados que fica quase impossível serem
conctretizados. Desta forma acabam por confirmar a sua própria profecia, de que
não prestam, de que não são bons, suficientemente bons, em nada. Quando não acreditamos
em nós essa crença vai levar a que nos comportemos de forma a validar,
inevitavelmente, aquilo que pensamos e que sentimos. É um ciclo vicioso difícil
de cortar ou saltar fora.
Os adultos têm de perceber o seu papel fulcral no
desenvolvimento saudável dos seus filhos. Os pais têm de lá estar não só para
fazer surgir, desabrochar a auto-estima das suas crianças mas também para
manter essa auto-estima ao longo do seu trajecto, que incontornavelmente vai
passar por desafios e vicissitudes. Coisas da vida.
Portanto, há uma série de tarefas que os pais podem levar a
cabo para estimular os seus filhos, seja em que idade for. E antes de tarefas
começamos por mudar alguns pensamentos, se possível. É importante ter a noção de
que as crianças pequeninas não percepcionam o mundo como os adultos e não podem
de repente aprender a lidar com a frustração e a gerir o stress. E o stress na
primeira infância é realmente prejudicial. Mas que stress perguntam vocês. Por exemplo,
o stress de um bebé que é constantemente ignorado quando chora. Ou de uma
criança a quem lhe é dado pouco contacto físico. Ou de um miúdo a quem não lhe é
permitido nunca fazer escolhas, trabalhar o seu sentimento de controle e de
competência.
Em síntese, qualquer criança confia nas mensagens que recebe
das pessoas à sua volta, mensagens que lhe vão dar uma indicação do seu valor.
As crianças são dependentes dos adultos, inclusivamente para
criarem a imagem que vêem ao espelho. Diz-me como me vês, dir-te-ei quem sou. Aqui
não há que errar: um laço seguro, feito com linhas de gostar, faz milagres, que
não durarão um segundo mas todos os segundos de uma vida.